O Filho Eterno: Uma Jornada Dolorosa e Inesperadamente Tocadora
Nove anos se passaram desde a estreia de O Filho Eterno em 01 de dezembro de 2016, e a memória desse filme, para mim, permanece vívida. Não se trata de uma obra fácil, nem de uma daquelas que te deixam com um sorriso bobo no rosto ao sair da sala. É um filme que gruda na pele, que te cutuca, te incomoda e, ao mesmo tempo, te encanta pela sua honestidade brutal e sua capacidade de tocar em um tema tão delicado com tanta sutileza e força.
O longa acompanha Roberto, um escritor que embarca em uma jornada complexa e profundamente emocional ao criar seu filho, Fabrício, diagnosticado com síndrome de Down. A relação de Roberto com a esposa, Cláudia, também é um eixo central da narrativa, mostrando os desafios e as transformações que a chegada de Fabrício impõe ao casal e ao seu relacionamento. A sinopse, sem spoilers, se limita a este ponto, pois a beleza do filme reside exatamente na sua capacidade de te surpreender a cada passo.
Paulo Machline, na direção, demonstra uma sensibilidade admirável. Ele evita o sentimentalismo fácil, optando por um realismo cru e pungente. A câmera acompanha os personagens de perto, registrando cada gesto, cada olhar, cada hesitação com uma precisão quase palpável. O roteiro de Leonardo Levis, por sua vez, é um primor. A construção dos personagens é gradual e convincente, sem apelar para clichês ou simplificações. A narrativa se desenrola de forma orgânica, permitindo que a emoção se construa naturalmente, sem forçar a barra.
| Atributo | Detalhe |
|---|---|
| Diretor | Paulo Machline |
| Roteirista | Leonardo Levis |
| Produtor | Rodrigo Teixeira |
| Elenco Principal | Marcos Veras, Débora Falabella, Nila, Augusto Madeira, Uyara Torrente |
| Gênero | Drama, Família |
| Ano de Lançamento | 2016 |
| Produtora | RT Features |
As atuações são impecáveis. Marcos Veras entrega uma performance contida e visceral como Roberto, um homem em constante luta interna entre a aceitação e a negação. Débora Falabella, como sempre, brilha, interpretando Cláudia com uma força e uma vulnerabilidade que cativam. E a pequena Nila, como Fabrício, rouba a cena com sua naturalidade e carisma. Augusto Madeira e Uyara Torrente também contribuem com atuações sólidas, complementando o elenco principal.
Um dos pontos fortes de O Filho Eterno é sua capacidade de abordar a síndrome de Down de forma sensível e respeitosa, evitando a pieguice e a romantização excessiva. O filme não tem medo de mostrar as dificuldades, os desafios e as frustrações que uma família enfrenta ao lidar com essa condição, mas também celebra os momentos de alegria, de amor incondicional e de descoberta. No entanto, e aqui reside um dos pontos que eu considero fracos, o filme talvez se perca um pouco na tentativa de abordar tantas facetas da paternidade e do relacionamento conjugal, deixando algumas nuances importantes subdesenvolvidas.
A mensagem principal, para mim, vai além da síndrome de Down. O filme é, acima de tudo, uma reflexão sobre a paternidade, sobre o amor incondicional, sobre a aceitação das diferenças e sobre a capacidade de transformação que a chegada de um filho pode provocar na vida de um casal. É um filme que te questiona, que te provoca e que te deixa com muitas perguntas, mas também com uma profunda sensação de admiração pela força e pela beleza da vida em todas as suas formas.
Em retrospecto, entendo a recepção que O Filho Eterno teve em 2016. Ele não foi um sucesso estrondoso de bilheteria, mas conquistou seu público com a honestidade e a sensibilidade da sua abordagem. Hoje, em 2025, continua sendo uma obra relevante e necessária, um filme que merece ser visto e discutido. Recomendo fortemente a sua exibição, especialmente para aqueles que buscam um filme que vá além do entretenimento fácil, que os desafie e os toque profundamente. Disponível em diversas plataformas de streaming, O Filho Eterno é um presente cinematográfico que permanece atual e emocionante. Não se iluda: este não é um filme para ser assistido de forma leviana. Prepare-se para uma jornada inesquecível, mas dolorosamente humana.




