O Inimaginável

O Inimaginável: Um Verão Sueco Que Arde na Memória

Sete anos se passaram desde que O Inimaginável estreou em 2018, e ainda sinto o eco daquela inquietante atmosfera sueca na minha mente. Não é um filme fácil de esquecer, e não apenas pela sua trama de suspense político e mistério existencial, mas pela maneira como ele tece uma teia de emoções tão humanas e complexas em meio ao caos.

O filme nos joga no meio do verão sueco, um cenário aparentemente idílico que rapidamente se transforma em um pesadelo. Uma pane geral nas comunicações precede uma série de ataques aparentemente sem sentido, mergulhando o país em um estado de emergência. Alex, um pianista de sucesso, vê sua vida meticulosamente organizada desabar com a morte da mãe, num suposto ataque terrorista. Ele retorna à sua pacata aldeia natal para o funeral, forçado a confrontar não só o luto, mas também o seu pai e o fantasma de Anna, um amor do passado que ele nunca conseguiu superar.

Victor Danell, na direção e roteiro (em parceria com Christoffer Nordenrot), não se deixa levar por efeitos especiais grandiosos. A força de O Inimaginável reside na sua atmosfera sufocante, construída com maestria através da fotografia sombria e da trilha sonora tensa, que aumenta a crescente sensação de apreensão. A câmera observa, quase impassível, a crescente desordem, refletindo a confusão que toma conta dos personagens e do país. Há momentos de suspense puro, outros de melancolia profunda, tudo interligado com precisão cirúrgica.

O roteiro, apesar de alguns pequenos desvios que talvez poderiam ter sido melhor explorados, consegue equilibrar a intriga política com a jornada pessoal de Alex. A relação dele com o pai, Björn, interpretado por um sólido Jesper Barkselius, é o coração do filme. É uma história de mágoas, de silêncios e de tentativas frustradas de conexão, que ecoa a fragilidade da sociedade sueca sob pressão. A atuação de Christoffer Nordenrot como Alex é convincente, transmitindo com eficácia a sua fragilidade interior por trás da aparente serenidade. Lisa Henni, como Anna, também entrega uma performance memorável, representando uma mulher marcada pela tragédia e pela incerteza.

Um dos pontos altos do filme é a construção gradual da tensão. A sensação de pânico e incerteza não vem de explosões espetaculares, mas sim de pequenos detalhes: um telefonema que não completa, um olhar hesitante, a ausência de respostas. Danell e Nordenrot, inteligentemente, usam esse realismo para criar uma atmosfera de paranoia palpável que prende o espectador do início ao fim.

Por outro lado, alguns podem achar o ritmo um pouco lento em certos momentos, e a resolução final, embora coerente, talvez não seja tão surpreendente quanto alguns esperariam. A trama, apesar de envolvente, prioriza a exploração das relações humanas e o estudo psicológico dos personagens acima de uma resolução bombástica. Esta escolha, a meu ver, contribui para a riqueza e a complexidade do filme, mas pode não agradar a todos que buscam apenas ação desenfreada.

Os temas abordados são inúmeros e complexos: luto, perdão, a fragilidade da ordem social, a busca pela identidade e a importância das conexões humanas frente ao caos. O Inimaginável não oferece respostas fáceis, e sim provoca reflexões sobre a natureza humana e a nossa capacidade de resiliência diante do inesperado.

Em resumo, O Inimaginável é um thriller psicológico que transcende o gênero. É um filme que fica com você muito depois dos créditos finais, um filme que te faz pensar, que te incomoda e que, acima de tudo, te emociona. Se você busca um filme de ação espetacular e cheio de reviravoltas, talvez ele não seja a sua melhor opção. Mas se você aprecia um thriller inteligente, com uma atmosfera impecável, atuações sólidas e uma exploração profunda da condição humana, então corre para assisti-lo nas plataformas digitais. A experiência será inesquecível, mesmo sete anos depois da sua estreia.