O Livro de Henry: Um Gênio, Uma Tragédia e uma Mãe em Desespero
Oito anos se passaram desde que O Livro de Henry chegou aos cinemas brasileiros, em 4 de outubro de 2017, e, apesar do tempo, a memória do longa de Colin Trevorrow continua me assombrando. Não se trata de um filme fácil, nem agradável em seu sentido mais superficial. É uma obra que se agarra ao espectador, que o cutuca com a ponta afiada da realidade crua e das angústias da infância, ainda que encapsulada em uma narrativa que, em alguns momentos, beira a manipulação sentimental. Trata-se da história de Henry, um menino de 11 anos com um talento incomum para resolver problemas – um pequeno gênio que se vê confrontado com uma situação terrível envolvendo sua vizinha e seu padrasto. Sua mãe, Susan, uma mulher batalhadora e solitária, e seu irmão caçula, Peter, completam este quadro familiar marcado por um amor intenso e uma fragilidade latente.
A Direção, o Roteiro e as Atuações: Um Triângulo de Forças
Colin Trevorrow, conhecido por “Jurassic World”, demonstra aqui um talento para a direção de atores impressionante. Extrai performances genuínas de todo o elenco, em especial de Jaeden Martell, no papel-título. O jovem ator entrega uma atuação complexa, que equilibra a inocência infantil com uma inteligência precoce e uma maturidade assustadora diante do fardo que carrega. Naomi Watts, como a mãe, está igualmente impecável, transmitindo a desolação e a força que se equilibram na alma de uma mulher confrontada com o pior pesadelo possível. Maddie Ziegler e Jacob Tremblay, como Christina e Peter, respectivamente, completam o quadro com atuações que adicionam profundidade a esse drama familiar.
O roteiro de Gregg Hurwitz, no entanto, é o ponto que me deixa mais dividido. A premissa, inegavelmente intrigante, às vezes se perde em subtramas que, embora pretendam enriquecer a narrativa, acabam por diluir o impacto emocional. A busca por um tom de realismo sutilmente se choca com momentos de sentimentalismo exacerbado, culminando em uma oscilação de tons que torna a experiência narrativa um pouco irregular.
Atributo | Detalhe |
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Diretor | Colin Trevorrow |
Roteirista | Gregg Hurwitz |
Produtores | Adam Richman, Carla Hacken, Jenette Kahn, Sidney Kimmel |
Elenco Principal | Jaeden Martell, Naomi Watts, Maddie Ziegler, Jacob Tremblay, Sarah Silverman |
Gênero | Drama, Crime, Thriller |
Ano de Lançamento | 2017 |
Produtoras | Sidney Kimmel Entertainment, Double Nickel Entertainment |
Pontos Fortes e Fracos: Um Equilíbrio Delicado
Entre os pontos fortes, destaco a fotografia impecável que contribui para a atmosfera de suspense e angústia que permeia a trama. O relacionamento entre Henry e sua mãe é um pilar emocional central que funciona perfeitamente, a química entre Watts e Martell é palpável e comovente. A exploração do tema da violência doméstica é corajosa e necessária, mesmo que algumas de suas nuances sejam tratadas de forma um tanto superficial. A trilha sonora também merece menção honrosa, por conseguir realçar as emoções presentes em cada cena.
Por outro lado, a trama apressa o desenrolar dos acontecimentos em alguns momentos, sacrificando a sutileza em nome da dramaticidade. A solução proposta por Henry, no cerne da narrativa, apesar de inteligentemente construída, também apresenta um aspecto idealista que quebra um pouco a verossimilhança. O final, embora emocionalmente devastador, talvez seja um pouco abrupto, deixando algumas pontas soltas e a sensação de que algumas questões ficaram sem resolução adequada.
Temas e Mensagens: Um Legado de Dor e Esperança
O Livro de Henry aborda temas densos e complexos como a violência doméstica, a exploração sexual de crianças, o suicídio, a relação mãe-filho e o impacto do câncer numa família. O filme não busca respostas fáceis, mas expõe a fragilidade da condição humana, a importância da luta pela justiça e a resiliência do amor familiar diante da adversidade. Ainda que a resolução de alguns conflitos possa ser considerada um tanto idealista, a mensagem central é tocante: a necessidade de proteger as crianças e a importância de quebrar o ciclo da violência.
Conclusão: Um Filme que Perturba e Comove
O Livro de Henry não é um filme para todos. Sua intensidade emocional e a natureza sombria dos temas tratados exigem sensibilidade e maturidade do espectador. Apesar de suas falhas, no entanto, a força de suas atuações, a beleza da fotografia e a exploração de temas relevantes o tornam um filme que, mesmo em 2025, permanece memorável e que continua a gerar discussões. Recomendo-o a quem busca uma experiência cinematográfica impactante e que não se importe com a possibilidade de uma narrativa que não se esquiva da complexidade do ser humano. Se você é alguém que prefere filmes leves e descompromissados, talvez seja melhor optar por outra opção. Mas se você busca um filme que perturbe, comova e instigue reflexões, então O Livro de Henry é uma experiência que vale a pena vivenciar.