Sabe, todo ano, quando as luzes de Natal começam a piscar nas janelas e o cheiro de pinho artificial invade as casas, a gente se pega pensando naqueles filmes que, por alguma razão, se tornaram parte da nossa estranha tradição de fim de ano. Pra muita gente, é “Esqueceram de Mim”; pra outros, é a magia de “O Expresso Polar”. Mas, pra mim, e talvez pra você que se aventura fora do óbvio, tem um cantinho especial no coração – ou na caixa de Blu-ray – para a anarquia hilária e muitas vezes incompreendida de O Natal Maluco de Harold e Kumar.
Rever essa joia bruta, lançada lá em 2011, em pleno 2025, é como reencontrar velhos amigos que a gente sabe que vão aprontar alguma. E a motivação é simples: a vida real, às vezes, tá tão séria que a gente precisa de um lembrete de que a absurdidade pode ser a nossa maior terapia. Ou talvez eu só seja um otário incurável por comédias que não têm medo de mergulhar de cabeça no politicamente incorreto.
Seis anos haviam se passado desde a última vez que vimos Harold Lee e Kumar Patel em apuros – uma aventura que os levou à Baía de Guantanamo, se você se lembra. Agora, Harold está um homem de família, tentando ser o genro perfeito, enquanto Kumar… bem, Kumar continua sendo Kumar, um poço de talentos desperdiçados e um entusiasta do cannabis. A faísca que acende o pavio desta vez é tão trivial quanto explosiva: a árvore de Natal premiada do sogro de Harold, presenteada com tanto amor e dedicação, vira cinzas em questão de segundos, graças a um acidente envolvendo um baseado e uma dose generosa de desatenção. É a prova de que o caos, como um velho amigo, nunca está realmente longe quando esses dois estão por perto.
E aí, você pensa: ok, um filme de Natal. Vai ter uma mensagem bonitinha sobre o espírito natalino, certo? Errado. Ou, pelo menos, não da forma que você esperaria. A missão de encontrar a árvore perfeita na caótica Nova York se torna uma odisseia digna da dupla, repleta de desastres hilários e encontros bizarros. Não é só uma “road trip” para encontrar um pinheiro; é uma jornada para resgatar a amizade deles, talvez. Ou talvez só para provar que a amizade pode sobreviver a qualquer quantidade de problemas e, claro, a umas boas doses de cerveja e “cannabis”.
Atributo | Detalhe |
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Diretor | Todd Strauss-Schulson |
Roteiristas | Hayden Schlossberg, Jon Hurwitz |
Produtor | Greg Shapiro |
Elenco Principal | John Cho, Kal Penn, Paula Garcés, Neil Patrick Harris, Elias Koteas |
Gênero | Comédia |
Ano de Lançamento | 2011 |
Produtoras | New Line Cinema, Mandate Pictures, Warner Bros. Pictures |
O que me pega nesse filme, e nos outros da franquia, é como John Cho e Kal Penn parecem ter nascido para interpretar esses personagens. Harold, com sua eterna expressão de “eu não acredito que estou nisso de novo”, e Kumar, com seu charme desleixado e sua lógica torta, formam uma dupla que, por mais que se odeie em certos momentos, é inseparável. A química deles é a espinha dorsal de tudo, tornando até as situações mais grotescas, de alguma forma, relacionáveis. Você sente a frustração de Harold, o desespero dele em agradar, e ao mesmo tempo, a liberdade inconsequente de Kumar, que se recusa a crescer.
E falando em “grotesco”, “O Natal Maluco” não tem medo de ser vulgar, de usar drogas como elemento central da comédia, e de empurrar os limites do bom gosto. Sim, as críticas da época apontaram isso, e com razão: “tem um humor estúpido que é completamente perdido pela mensagem que transmite sobre drogas e sexo.” Mas será que é perdido? Ou será que a mensagem está ali, embaixo de camadas e mais camadas de piadas de mau gosto e “beer pong” em níveis estratosféricos?
Eu tendo a acreditar no segundo. A genialidade da série está em pegar temas sérios – família, responsabilidade, amizade – e jogá-los numa máquina de lavar com os mais variados elementos de pura bizarrice. Elias Koteas, interpretando o mafioso Sergie Katsov, adiciona uma camada de ameaça absurda à equação, enquanto Neil Patrick Harris, no seu papel auto-referencial e hiperbólico, rouba a cena mais uma vez, provando que NPH como NPH é sempre a melhor versão. É uma metalinguagem que funciona de um jeito que a maioria das comédias nem sonha em tentar.
Todd Strauss-Schulson, na direção, junto com os roteiristas Hayden Schlossberg e Jon Hurwitz, conseguem manter o tom que fez os dois primeiros filmes um sucesso cult. Há um ritmo, uma cadência no caos que impede que o filme desmorone completamente, mesmo quando ele se esforça para isso. As transições entre uma sequência de pesadelo e um momento de falsa epifania são suaves, quase imperceptíveis, o que nos faz questionar se o que vimos foi real ou apenas mais uma alucinação de Kumar.
Então, sim, O Natal Maluco de Harold e Kumar pode não ser o filme de Natal que você assistiria com a sua avó – a menos que sua avó seja bem descolada. Ele é barulhento, ele é sujo, ele é completamente sem vergonha. Mas também é, à sua maneira torta, uma celebração da amizade que resiste a tudo, até mesmo a árvores de Natal incendiadas e a bebês drogados. É uma comédia de “buddy” que desafia as convenções, e talvez seja exatamente por isso que, mesmo depois de tantos anos, eu ainda me pego voltando para essa bagunça. Porque, no fim das contas, quem disse que o espírito natalino não pode vir embalado com uma boa dose de vulgaridade e risadas descontroladas? Se é para ser natal, que seja um natal “maluco”.