O tempo, ah, o tempo… Ele tem essa capacidade estranha de nos fazer esquecer joias, de as enterrar sob camadas de novidades e tendências. Mas também tem o poder de, num piscar de olhos, trazer de volta à tona algo que julgávamos perdido, algo que ressoa com a alma de um jeito único. Foi exatamente essa sensação que me pegou de surpresa outro dia, enquanto divagava sobre a animação dos anos 80, e O Pequeno Nemo simplesmente pulou da memória para o primeiro plano. Para muitos, talvez seja apenas um nome distante, um sussurro de algo que poderia ter sido. Mas para mim, é uma lembrança vívida de um filme que ousou sonhar grande, e de uma forma que pouquíssimas produções se atreveriam hoje.
Por que escrever sobre O Pequeno Nemo agora, em 2025? Porque, mesmo após trinta e seis anos de seu lançamento original em 1989, a essência dele ainda pulsa com uma relevância que transcende as décadas. Não é só sobre um garotinho chamado Nemo, aquele menininho de sorriso largo e olhos curiosos, que numa noite rotineira recebe uma visita fora do comum. É sobre o convite do Professor Genius para uma viagem ao “mundo encantado dos sonhos”. Pense bem, quem, criança ou adulto, nunca desejou um convite desses? Mergulhar de cabeça num lugar onde a imaginação dita as regras, onde o impossível se dobra à vontade? O filme te convida a sentir essa possibilidade, a quase esticar a mão e tocar a névoa brilhante dos reinos oníricos.
A magia de O Pequeno Nemo começa muito antes da tela, lá nas mentes por trás de sua concepção. Quando você vê nomes como Ray Bradbury, Richard Outten e Chris Columbus na equipe de roteiristas, e uma colaboração entre diretores como 波多正美, William T. Hurtz e 畑正憲, já sente que algo diferente está no ar. Ray Bradbury, com sua maestria em tecer fantasias com um toque de melancolia e maravilhamento, traz uma profundidade à narrativa que poucas animações alcançam. Ele não apenas constrói um mundo, ele insere uma filosofia, uma reverência pela imaginação e pelos perigos de se perder nela. Essa fusão de talentos — a precisão e a visão artística japonesa da Tokyo Movie Shinsha (TMS), parceira da TOHO-TOWA na produção, aliadas à uma sensibilidade ocidental — resulta em uma tapeçaria visual e temática que é singular. Não é um desenho animado que simplesmente entretém; é um que sussurra segredos, que te faz pensar sobre a natureza dos seus próprios sonhos e medos.
E os personagens? Ah, eles são as pinceladas que dão vida a essa tela de sonhos. Gabriel Damon empresta sua voz a Nemo com uma ingenuidade e coragem tão palpáveis que você torce por ele a cada passo em falso e a cada descoberta. Mas é Mickey Rooney, como Flip, quem rouba a cena com uma energia irreverente e um charme quase caótico. Ele é o contraponto perfeito para a pureza de Nemo, o arquétipo do aventureiro experiente, mas nem sempre sábio, que nos guia por labirintos e armadilhas. René Auberjonois, por sua vez, dá ao Professor Genius a voz calorosa e um tanto excêntrica que a figura exige, tornando-o um guia confiável (ainda que um tanto misterioso) nessa jornada. E como esquecer a Princesa Camille, dublada por Laura Mooney, que adiciona uma camada de amizade e camaradagem à aventura? É o tipo de elenco que não apenas dubla, mas habita seus personagens, fazendo-os respirar vida através dos traços desenhados à mão.
Atributo | Detalhe |
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Diretores | 波多正美, William T. Hurtz, 畑正憲 |
Roteiristas | Ray Bradbury, Richard Outten, Chris Columbus |
Produtor | 藤岡豊 |
Elenco Principal | Gabriel Damon, Mickey Rooney, René Auberjonois, Danny Mann, Laura Mooney |
Gênero | Aventura, Animação, Família, Fantasia |
Ano de Lançamento | 1989 |
Produtoras | TOHO-TOWA, Tokyo Movie Shinsha |
Visualmente, o filme é um espetáculo. Lembre-se, estamos falando de 1989. Não havia CGI dominando a cena. Era a arte pura da animação tradicional, onde cada quadro era pintado com paixão e detalhe. As cores vibrantes dos reinos dos sonhos, os designs fantásticos das criaturas e paisagens, a fluidez dos movimentos – tudo isso é um testamento à habilidade e ao esforço da Tokyo Movie Shinsha. Há momentos em que o visual é tão estonteante que você quase sente o vento no rosto de Nemo enquanto ele voa, ou o cheiro daquele mundo mágico. É uma animação que não apenas mostra o mundo dos sonhos, mas te faz sentir como se estivesse dentro dele, com toda a sua beleza e seus perigos latentes.
O Pequeno Nemo é, no fundo, uma ode à coragem infantil e ao poder ilimitado da imaginação. É uma aventura que, sim, tem seus momentos de leveza e encanto, mas também se permite explorar as sombras – os pesadelos, os medos que espreitam nos cantos mais escuros da mente. E é essa dualidade que o torna tão especial, tão… humano, apesar de ser um filme de fantasia. Não é só um conto de fadas; é uma jornada iniciática sobre aprender a lidar com as responsabilidades que vêm com o poder, e sobre a importância de proteger aquilo que é mais precioso.
Então, por que você deveria dar uma chance a O Pequeno Nemo hoje? Porque ele é um lembrete de que o cinema de animação pode ser mais do que apenas um entretenimento passageiro. Pode ser uma porta para um mundo de maravilhas, um espelho para nossas próprias fantasias e medos mais profundos. Ele é uma cápsula do tempo, um pedaço da história da animação que merece ser redescoberto e celebrado. Num mundo cada vez mais digitalizado, há algo de infinitamente poético e poderoso na beleza de cada traço feito à mão, na narrativa que se desdobra com a cadência de um sonho. Se você já se pegou sonhando acordado, ou se sente a falta de um cinema que não tem medo de ser ambicioso em sua fantasia, então O Pequeno Nemo está ali, esperando para te convidar a embarcar em sua própria viagem inesquecível. E quem sabe, talvez você descubra um pedaço do seu próprio mundo encantado.