O Peso Insuportável do Luxo: Uma Resenha de O Perdoado
Confesso, cheguei a O Perdoado (2022) com altas expectativas. A sinopse prometia um drama tenso, o elenco era de peso – Ralph Fiennes e Jessica Chastain, meu Deus! – e o nome de John Michael McDonagh na direção, conhecido por seu toque ácido e irônico, era garantia de algo, no mínimo, interessante. Após assistir ao filme em uma plataforma de streaming em setembro de 2025, posso dizer que a experiência foi… complexa. Não totalmente ruim, mas longe da obra-prima que eu esperava.
A história gira em torno de um casal rico de Londres que, durante uma viagem ao Marrocos, se envolve em um trágico acidente com um jovem local. A partir daí, a narrativa acompanha suas tentativas de encobrir o incidente e as consequências devastadoras de suas escolhas. É uma premissa poderosa, carregada de potencial para uma exploração profunda da culpa, do privilégio e das diferentes formas como a justiça é, ou não é, aplicada.
A direção de McDonagh é, como sempre, impecável em termos técnicos. A fotografia é deslumbrante, capturando a beleza crua e implacável do deserto marroquino, contrastando-a com a opulência artificial da festa que serve de pano de fundo para o drama. Mas aqui reside um dos pontos fracos do filme: essa opulência, essa ostentação visual, muitas vezes ofusca a própria história. A estética, embora bonita, se torna um pouco vazia, um véu sobre a trama que, em vez de complementar, a distrai.
| Atributo | Detalhe |
|---|---|
| Diretor | John Michael McDonagh |
| Roteirista | John Michael McDonagh |
| Produtores | John Michael McDonagh, Elizabeth Eves |
| Elenco Principal | Ralph Fiennes, Jessica Chastain, Matt Smith, Caleb Landry Jones, Abbey Lee |
| Gênero | Drama |
| Ano de Lançamento | 2022 |
| Produtoras | House of Un-American Activities, Brookstreet Pictures, Assemble Media, Kasbah Films, Lipsync Productions, Roadside Attractions, Vertical, Focus Features, Film4 Productions, BFI |
O roteiro, também escrito por McDonagh, é onde O Perdoado realmente vacila. A premissa é excelente, mas o desenvolvimento parece apressado, superficial. A exploração dos temas – a culpa, o privilégio, a justiça – fica a desejar, resultando em personagens pouco aprofundados e uma trama que, apesar do potencial, não chega a atingir seu clímax de forma satisfatória. A crítica que diz que o filme “squeezes in a few jabs at racism” (espreme algumas indiretas sobre racismo) é pertinente: o tema é abordado de forma superficial, quase como uma nota de rodapé em vez de uma análise crítica profunda. Não há uma imersão significativa na cultura marroquina, o que acaba prejudicando a narrativa.
O elenco, no entanto, se destaca. Fiennes e Chastain demonstram uma química convincente, mostrando com maestria a fragilidade e a culpa que consomem seus personagens. Matt Smith, como o anfitrião da festa, também entrega uma atuação sólida, embora o roteiro não lhe ofereça muito espaço para explorar sua complexidade.
Um dos pontos fortes do filme é a atmosfera tensa que consegue criar. A sensação de isolamento, a imensidão do deserto e a crescente pressão sobre o casal garantem que a audiência fique presa à tela, ansiosa pelo desfecho. Mas, como já mencionei, essa tensão é muitas vezes dissipada pela superficialidade do roteiro.
Em última análise, O Perdoado é um filme ambicioso que não consegue cumprir completamente suas promessas. É um drama interessante com alguns momentos brilhantes, mas acaba se perdendo em seu próprio excesso. É uma pena, pois o potencial para algo verdadeiramente excepcional estava lá. A recepção da crítica, se bem me lembro dos comentários de 2022, foi mista, com muitos apontando para o mesmo problema: a falta de profundidade narrativa, apesar da excelência técnica. Recomendo o filme apenas para aqueles que apreciam filmes de drama com uma fotografia belíssima e um elenco de alto nível, mesmo que a trama seja, por vezes, frustrante em sua falta de consistência. Para os que buscam uma história profunda e completa, talvez seja melhor procurar por outras opções.




