O Povo Contra Larry Flynt

Miloš Forman e a Provocante Obra-Prima que é O Povo Contra Larry Flynt

Em 1996, Miloš Forman nos presenteou com um filme que, passados quase 30 anos – já que hoje é 19 de setembro de 2025 – ainda provoca, incomoda e, paradoxalmente, fascina. O Povo Contra Larry Flynt, biografia do polêmico editor da revista Hustler, não é apenas um retrato de um homem, mas um estudo profundo sobre liberdade de expressão, moralidade, e o preço da transgressão. O filme acompanha a meteórica ascensão de Flynt, desde seus humildes e turbulentos começos até o topo do mundo da pornografia, e sua subsequente queda – tanto física quanto moral – após um atentado que o deixa paraplégico. A trama é pontuada por processos judiciais explosivos e uma relação complexa e tumultuada com suas esposas.

A direção de Forman é, como sempre, impecável. Ele equilibra o grotesco e o cômico com uma sensibilidade inesperada, conseguindo extrair pathos de um personagem tão aparentemente repulsivo como Flynt. A câmera se move com uma fluidez que acompanha a trajetória frenética do protagonista, enquanto a edição nervosa reforça a sensação de caos que permeia a vida de Flynt. O roteiro, assinado por Scott Alexander e Larry Karaszewski, não se esquiva das controvérsias, apresentando um Flynt multifacetado, ora manipulador e cínico, ora vulnerável e até mesmo tocante.

Woody Harrelson entrega uma performance memorável. Ele se entrega completamente ao papel, capturando tanto a arrogância quanto a fragilidade de Flynt com uma veracidade impressionante. Não é uma glorificação, e sim uma construção complexa, que nos força a confrontar a ambiguidade do personagem. Courtney Love, como Althea Leasure, a esposa de Flynt, também brilha, transmitindo a força e a complexidade de uma mulher presa numa relação turbulenta. O elenco de apoio, incluindo Edward Norton, que interpreta seu advogado Alan Isaacman com sua usual precisão, completa o quadro com excelência. É um conjunto de atuações poderosas que elevam o filme a um nível excepcional.

AtributoDetalhe
DiretorMiloš Forman
RoteiristasScott Alexander, Larry Karaszewski
ProdutoresJanet Yang, Oliver Stone, Michael Hausman
Elenco PrincipalWoody Harrelson, Courtney Love, Edward Norton, Brett Harrelson, Donna Hanover
GêneroDrama
Ano de Lançamento1996
ProdutorasColumbia Pictures, Phoenix Pictures, Ixtlan Productions

Um dos pontos fortes do longa é a sua audácia. Forman não poupa detalhes na representação da pornografia e dos excessos de Flynt, mas faz isso com um propósito claro: não para chocar gratuita e vulgarmente, mas para contextualizar o ambiente e as apostas envolvidas na luta pela liberdade de expressão. Por outro lado, a narrativa, apesar de bem construída, pode se perder em alguns momentos, em meio à profusão de eventos que marcam a vida de Flynt. Em certos momentos, o filme parece querer abarcar demasiados temas, correndo o risco de se dispersar.

A mensagem central do filme, no entanto, permanece clara: a luta pela liberdade de expressão, mesmo em seus aspectos mais polêmicos, é crucial para uma sociedade democrática. O Povo Contra Larry Flynt nos força a confrontar o desconforto da liberdade – a liberdade de ofender, a liberdade de chocar, a liberdade de ser grotesco. A discussão sobre pornografia, AIDS, e a manipulação da mídia se entrelaçam de forma inteligente, culminando num questionamento sobre os limites da liberdade de expressão e o papel do indivíduo na sociedade. A jornada de Flynt, com sua eventual conversão ao cristianismo, adiciona uma camada inesperada de complexidade, questionando a natureza da redenção e o peso de um passado conturbado.

A recepção do filme em 1996 foi, como esperado, dividida. Alguns criticaram seu conteúdo explícito, enquanto outros elogiaram sua coragem e a performance de Harrelson. Eu mesmo, ao rever o filme em 2025, ainda me sinto dividido – mas não no mesmo sentido da crítica original. Para mim, a divisão é agora entre o fascínio pela obra cinematográfica, e a estranha empatia (ou talvez apenas admiração pela audácia) que desenvolvi pelo próprio Flynt. Ele é, como bem descreveu um crítico, “o homem, o monstro, o herói e o pervertido”. E é essa complexidade que torna o filme tão rico e memorável.

Recomendo fortemente O Povo Contra Larry Flynt a todos aqueles que apreciam um cinema ousado, provocativo e profundamente humano. É um filme que exige reflexão, que confronta, que incomoda – e é precisamente por isso que vale a pena assistir. Disponível em diversas plataformas digitais, ele permanece tão relevante hoje quanto era em 1996, um testamento à qualidade atemporal da obra de Miloš Forman.

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