O Retorno de Ben: Um Natal Amargo-Doce de Peter Hedges
Seis anos se passaram desde que O Retorno de Ben chegou aos cinemas brasileiros em 21 de março de 2019, e a lembrança desse drama familiar ainda me assombra – no melhor sentido da palavra. O filme, dirigido e escrito por Peter Hedges, não é uma daquelas comédias natalinas açucaradas que enchem a tela de laços vermelhos e sorrisos forçados. Ao contrário, O Retorno de Ben é um estudo pungente e realista sobre a recuperação do vício, o peso do passado e o amor incondicional de uma mãe.
A trama acompanha Ben Burns (Lucas Hedges), um jovem problemático que, em noite de Natal, retorna à casa da família. Sua mãe, Holly (Julia Roberts, magistral!), o recebe de braços abertos, apesar da profunda preocupação que o filho carrega consigo. Nas próximas 24 horas, Holly enfrentará a dura realidade de lidar com o vício de Ben, o que coloca em risco sua própria paz e a estabilidade da família – incluindo sua filha Ivy (Kathryn Newton) e o cachorro da família, um elemento que inesperadamente se torna um símbolo importante da dinâmica familiar e da busca pela redenção. A tensão e a incerteza permeiam cada cena, criando uma atmosfera de expectativa que prende o espectador até o final.
A direção de Peter Hedges é primorosa. Ele consegue equilibrar a delicadeza necessária para abordar temas tão sensíveis com uma honestidade brutal que evita o sentimentalismo fácil. Não há um único momento de melodrama forçado, apenas a crua e verdadeira representação de uma família lidando com uma crise que pode destruí-la. O roteiro, também assinado por Hedges, é igualmente impecável. Cada diálogo é carregado de significado, revelando as complexas relações entre os personagens e as feridas não cicatrizadas do passado. A construção dos personagens é impecável: cada um deles é complexo, com suas fraquezas e virtudes, e suas motivações são compreensíveis, mesmo em meio ao conflito.
Atributo | Detalhe |
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Diretor | Peter Hedges |
Roteirista | Peter Hedges |
Produtores | Peter Hedges, Teddy Schwarzman, Nina Jacobson, Brad Simpson |
Elenco Principal | Julia Roberts, Lucas Hedges, Courtney B. Vance, Kathryn Newton, Rachel Bay Jones |
Gênero | Drama |
Ano de Lançamento | 2018 |
Produtoras | Black Bear Pictures, Color Force, 30WEST, Sierra/Affinity |
As atuações são excepcionais. Julia Roberts entrega uma performance visceral, plena de amor materno, mas também de medo e exaustão. Lucas Hedges, por sua vez, consegue comunicar a fragilidade e a luta interna de Ben com uma sensibilidade tocante. O elenco de apoio, incluindo Courtney B. Vance e Kathryn Newton, complementa o trabalho principal com maestria, dando corpo e autenticidade a este retrato familiar tão humano.
No entanto, a película não é isenta de falhas. Algumas sequências poderiam ter sido mais concisas, o que teria potencialmente evitado uma leve sensação de arrastamento em certos momentos. Outro ponto a ser considerado é a previsibilidade em alguns aspectos da trama – talvez o final não surpreenda aqueles acostumados com o gênero. Mas mesmo assim, o filme nos conquista pela profundidade emocional e pela força da narrativa.
O Retorno de Ben aborda temas cruciais como o vício em drogas, a recuperação, a importância da família e a busca pela redenção. A mensagem principal, para mim, transcende a problemática específica do vício e trata da complexidade das relações humanas e do peso do passado sobre o futuro. A recuperação não é linear, e o filme retrata isso de forma honesta e comovente. A persistente esperança de Holly, mesmo diante do desespero, é de uma comovente beleza.
Em resumo, O Retorno de Ben é um filme que recomendo fortemente. Apesar de algumas pequenas falhas, a força da atuação, a direção precisa e o roteiro inteligente superam qualquer deficiência. Se você busca um drama familiar profundo e emocionante, capaz de provocar reflexões sobre amor, perdão e segunda chances, este longa-metragem disponível em diversas plataformas digitais será uma experiência inesquecível – especialmente para aqueles que apreciam um drama mais realista, sem a necessidade de finais fáceis ou resoluções mágicas. Um filme que, seis anos depois da sua estreia, continua a ecoar em minha memória.