O Segredo do Lago

Eu me lembro perfeitamente da primeira vez que O Segredo do Lago (The Cursed Lake, no original) cruzou meu caminho. Não foi em uma sessão de cinema lotada, nem em uma pré-estreia badalada. Foi em uma noite de 2021, já um ano após seu lançamento original em 2020, quando o filme finalmente aportou por aqui. Eu estava buscando algo que me tirasse do lugar-comum, um thriller que realmente me fizesse sentir aquele nó no estômago, sabe? E foi exatamente isso que Phil Sheerin, com a caneta afiada de David Turpin, entregou. Mais do que um filme, foi uma experiência que se alojou na minha mente, reverberando por meses, e que, mesmo em 2025, ainda me impele a revisitar seus recantos escuros.

A Irlanda, com sua paisagem verdejante e melancólica, serve como um cenário perfeito para essa história que é tudo, menos bucólica. É ali, nesse ambiente de beleza gélida, que somos apresentados a Tom (um Anson Boon que carrega o peso do mundo nos ombros de um adolescente), um jovem que vive à sombra da própria timidez e da tensão de um lar desfeito, lidando com uma complexa `mother son relationship`. Aquele lago, que deveria ser um refúgio de paz, de repente se transforma no epicentro de um pesadelo. Quando Tom encontra `skeletal remains` nas suas profundezas turvas, o silêncio daquele lugar é quebrado, e a inocência do nosso protagonista se esvai como a neblina matinal.

O filme não te joga de uma vez nos horrores, ele te embala em uma falsa sensação de segurança, como um predador que orbita a presa. Sheerin é mestre em construir essa atmosfera de suspense que te deixa com a pele arrepiada. Cada close, cada plano demorado na paisagem fria da `ireland`, é uma promessa de que algo terrível está prestes a se revelar. E quando os segredos começam a borbulhar, a gente percebe que o verdadeiro terror não está nos ossos do lago, mas na porta ao lado.

A dinâmica entre Tom e seus `neighbor`s, Elaine (Charlie Murphy) e Ward (Michael McElhatton), é o coração podre e pulsante dessa trama. Ward é a personificação do `abusive father`, um homem cujo olhar é capaz de congelar o ar, cujas palavras são facas afiadas. Michael McElhatton entrega uma performance visceral, criando um personagem tão repulsivo quanto hipnotizante. Você o odeia, mas não consegue desviar o olhar da sua monstruosidade cotidiana. E Elaine? Charlie Murphy tece uma teia de fragilidade e desespero, uma `young mother` presa em uma relação que é um poço de escuridão. A complexidade dessa personagem é um convite à reflexão: o que a levou a essa situação? Quão fundo um ser humano pode ir para sobreviver ou para proteger um segredo? A maneira como o filme alude a um possível `incest` entre pai e filha, sem ser explícito demais, é perturbadora. É uma sugestão que paira no ar como um miasma, corroendo a alma e a mente de quem assiste, mostrando o quão insidiosa a violência pode ser.

AtributoDetalhe
DiretorPhil Sheerin
RoteiristaDavid Turpin
ProdutoresJulianne Forde, Anne-Marie Gélinas, Ruth Treacy
Elenco PrincipalAnson Boon, Charlie Murphy, Emma Mackey, Michael McElhatton, Mark McKenna
GêneroThriller, Drama
Ano de Lançamento2020
ProdutorasTailored Films, Creativity Capital, Title Media, Fís Éireann/Screen Ireland

Anson Boon, como Tom, é o nosso guia por esse labirinto moral. Ele é o `troubled teen` que, ao invés de mergulhar nas preocupações típicas da `coming of age`, é forçado a confrontar a face mais sombria da humanidade. Sua jornada de amadurecimento é dolorosa, pontuada pela descoberta e pela necessidade de agir diante de verdades que ninguém deveria ter que carregar. O `walkie talkie` se torna um símbolo poderoso nesse enredo – uma ferramenta de conexão que se transforma em instrumento de controle e vigilância, um elo frágil entre mundos que não deveriam se tocar.

O roteiro de David Turpin é uma aula de como tecer camadas de mistério e drama sem cair no clichê. Ele não tem medo de mergulhar nas profundezas da psique humana, explorando temas como culpa, silêncio e as consequências devastadoras do abuso. Não é um filme que oferece respostas fáceis, e é exatamente por isso que ele é tão eficaz. Você se vê montando as peças desse quebra-cabeça macabro junto com Tom, sentindo a mesma aflição, o mesmo senso de urgência. As revelações sobre um `car accident` do passado, sobre as razões por trás da tirania de Ward, talvez até mesmo seu vício em `casino` (que, se não explícito, é implícito no desespero que o cerca), tudo se encaixa para formar um quadro de tragédia multifacetada.

O Segredo do Lago não é um filme para assistir e esquecer. É daqueles que te cutucam, que te fazem pensar sobre o que se esconde sob a superfície de comunidades aparentemente pacíficas. Ele nos lembra que os monstros mais assustadores muitas vezes usam rostos humanos e vivem a poucos metros de distância. A direção de Phil Sheerin é elegante e implacável, orquestrando um elenco que parece ter nascido para esses papéis. As performances de Michael McElhatton e Charlie Murphy são um golpe no estômago, enquanto Anson Boon nos dá um coração para torcer, um vislumbre de esperança em meio a tanta desolação.

Quatro anos se passaram desde seu lançamento original, e a relevância de O Segredo do Lago não diminuiu. Pelo contrário, a forma como ele aborda o silêncio e as verdades inconvenientes ainda ressoa de uma maneira potente. É um thriller dramático que te puxa para um abismo de segredos e te deixa lá, contemplando a escuridão. E acredite, essa é uma viagem que vale a pena fazer, mesmo que o lago te chame de volta muito tempo depois.

Trailer

Oferta Especial Amazon Prime

Assine o Amazon Prime e assista a O Segredo do Lago no Prime Video.

Você ainda ganha frete GRÁTIS em milhares de produtos, milhões de músicas com o Amazon Music e muito mais. *Benefícios sujeitos aos termos do Amazon Prime.

Assinar Amazon Prime