Okja

Okja: Uma Ode à Inocência Perdida em um Mundo Cruel

Em 2017, Bong Joon-ho, o mestre coreano do cinema, nos presenteou com Okja, um filme que, oito anos depois, continua a ressoar em minha memória com a mesma força e complexidade da primeira vez em que o assisti. A sinopse, em poucas palavras, é a seguinte: Mija, uma jovem garota sul-coreana, cria um forte laço com Okja, um superporco geneticamente modificado. Quando uma poderosa corporação americana decide levar Okja para um abate cruel, Mija embarca em uma jornada perigosa para resgatá-la. A trama é, em essência, uma fábula moderna sobre a exploração, a amizade e a luta pela justiça em um mundo cada vez mais desumano.

A direção de Bong Joon-ho é, como sempre, impecável. Ele equilibra com maestria a ternura da relação entre Mija e Okja com a sátira implacável da indústria alimentícia e a ganância corporativa, personificada pela glacial e inquietante Lucy Mirando, interpretada magistralmente por Tilda Swinton. O filme transita entre a beleza bucólica da Coreia do Sul e a selva de concreto de Nova York, com uma precisão visual que realça a brutalidade do contraste entre esses mundos. O roteiro, co-escrito por Jon Ronson, é inteligente e perspicaz, utilizando o humor negro e a ironia para criticar o consumismo e a hipocrisia da sociedade moderna. A integração de animação em certas cenas, embora sutil, é eficaz na transmissão de emoções e na construção da atmosfera onírica que permeia o longa-metragem.

As atuações são, sem dúvida, um dos pontos altos de Okja. An Seo-hyun, como Mija, entrega uma performance cativante e autêntica, transmitindo a força e a vulnerabilidade de sua personagem com uma naturalidade impressionante. O restante do elenco – incluindo Paul Dano, Steven Yeun e um memorável Jake Gyllenhaal – contribui para enriquecer o universo do filme, mesmo que alguns personagens sejam caricaturas deliberadas para aprofundar a crítica social.

Entretanto, Okja não está isento de suas falhas. Alguns podem argumentar que a transição entre os diferentes tons do filme – do drama familiar à sátira política – é um pouco abrupta em alguns momentos. A mensagem ambientalista, embora pertinente e importante, poderia ter sido mais sutilmente integrada na narrativa, sem recorrer a momentos que podem parecer um pouco didáticos.

No entanto, os pontos fortes de Okja superam em muito suas fraquezas. O filme é uma ode à amizade incondicional, uma crítica mordaz à indústria da carne e uma reflexão profunda sobre a nossa relação com os animais e com o meio ambiente. A cena do matadouro, por exemplo, é tão gráfica quanto necessária, servindo como um potente retrato das consequências do nosso consumismo desenfreado. A utilização de Okja como personagem central permite que o filme explore temas complexos de uma forma acessível e emocionalmente poderosa, sem nunca perder de vista o foco na relação humanista entre a menina e o animal.

Okja foi lançado nos cinemas brasileiros em 28 de junho de 2017, e desde então tem sido alvo de debates e discussões. Sua recepção pela crítica foi, em geral, bastante positiva, reconhecendo sua originalidade, sua mensagem poderosa e a maestria de Bong Joon-ho. Apesar das possíveis divergências quanto à abordagem de alguns aspectos da narrativa, considero Okja uma obra-prima do cinema contemporâneo. No futuro, certamente, Okja continuará a ser lembrado como um filme que transcende os limites do entretenimento para se tornar uma provocação existencial.

Concluindo, recomendo fortemente Okja a todos aqueles que apreciam cinema inteligente, cheio de humanidade, humor negro e uma pitada de surrealismo. Acho que o filme encontra um equilíbrio excepcional entre entretenimento e reflexão crítica, tornando-se uma experiência cinematográfica inesquecível. Disponível em diversas plataformas de streaming, Okja é um filme que merece ser visto e revisto, deixando em cada espectador a sua marca indelevel de compaixão e indignação.