On the Count of Three

On the Count of Three: Uma Comédia Sombria que Toca o Osso

Lançado em 2022, On the Count of Three não foi apenas mais um filme. Três anos depois, a lembrança da sua brutal honestidade e da sua incômoda beleza ainda me assombra. É difícil falar de um filme sobre suicídio sem soar piegas ou sensacionalista, mas a abordagem de Jerrod Carmichael é tão singular, tão visceral, que simplesmente não consigo ignorar. A sinopse, em poucas palavras: dois amigos, Kevin e Val, ambos profundamente deprimidos e marcados por traumas de infância, decidem pôr fim às suas vidas no mesmo dia. Mas, antes da fatídica contagem regressiva, resolvem cuidar de alguns “pendências” – o que resulta em uma jornada caótica, violenta e, sim, até mesmo hilária, em busca de uma catarse que pode ou não chegar.

A Direção, o Roteiro e as Performances

Carmichael, também diretor e um dos roteiristas, demonstra uma maturidade impressionante. A câmera não se esquiva da feiúra da depressão, da raiva contida, da fragilidade da amizade masculina. O filme respira uma atmosfera opressiva, pontuada por momentos de humor negro que são simultaneamente dolorosos e libertadores. O roteiro, escrito em parceria com Ari Katcher e Ryan Welch, é uma peça de relojoaria – cada diálogo, cada ação, impulsiona a narrativa para o seu inevitável e perturbador clímax. As piadas são afiadas como lâminas, cortando a tensão com precisão cirúrgica.

E as atuações? Excepcionalmente boas. Christopher Abbott e o próprio Jerrod Carmichael oferecem performances nuas e cruas, mostrando a complexidade dos seus personagens com uma vulnerabilidade desconcertante. Abbott, em particular, consegue transmitir um turbilhão de emoções sem um único gesto exagerado. Tiffany Haddish, Lavell Crawford e JB Smoove, mesmo em papéis menores, brilham com seus momentos de comicidade e humanidade.

AtributoDetalhe
DiretorJerrod Carmichael
RoteiristasAri Katcher, Ryan Welch
ProdutoresJerrod Carmichael, Jimmy Price, Adam Paulsen, Tom Werner, Ari Katcher, David Carrico, Jake Densen
Elenco PrincipalJerrod Carmichael, Christopher Abbott, Tiffany Haddish, Lavell Crawford, JB Smoove
GêneroComédia, Drama
Ano de Lançamento2022
ProdutorasValparaiso Pictures, Werner Entertainment, Morningside Entertainment

Pontos Fortes e Fracos: Uma Dança com a Morte

A maior força de On the Count of Three reside em sua capacidade de ser simultaneamente hilário e devastador. O filme não se intimida em explorar os aspectos mais sombrios da psique humana, mas faz isso com um toque de cinismo que impede que ele caia na melodramaticidade. A química entre Abbott e Carmichael é palpável, a força de sua amizade sendo o motor emocional da trama. A exploração da masculinidade tóxica e dos traumas de infância, sem apelar para clichês, é outro ponto a ser destacado.

Porém, alguns podem encontrar o ritmo do filme irregular. Há momentos de lentidão que, embora contribuam para a construção da atmosfera tensa, podem testar a paciência de alguns espectadores. A decisão de inserir um final tão… particular, pode dividir opiniões. Eu, particularmente, achei que acrescentou uma camada adicional de complexidade e ambiguidade, mas entendo que a sua falta de resolução tradicional pode deixar alguns insatisfeitos.

Temas e Mensagens: O Peso da Existência

On the Count of Three não é um filme que oferece respostas fáceis. Ele não se propõe a “resolver” a depressão ou o suicídio. Em vez disso, ele oferece uma exploração honesta e desconcertantemente realista de suas complexidades, apresentando uma imagem crua e sem julgamentos sobre a escuridão que pode assolar a mente humana. O filme se atreve a mostrar que a comédia e o horror podem coexistir, que até mesmo na beira do abismo, ainda existe espaço para a amizade e a humanidade. A jornada de redenção de Kevin e Val, ou a ausência dela, nos deixa com mais perguntas do que respostas, e é justamente essa ambiguidade que torna o filme tão memorável.

Conclusão: Uma Recomendação? Sim, Mas…

On the Count of Three não é um filme para todos. Ele exige dos espectadores uma certa disposição para mergulhar em um território emocionalmente desconfortável. É um filme difícil, angustiante, mas também incrivelmente poderoso e gratificante. Se você busca uma comédia leve e despretensiosa, procure outro lugar. Mas se está preparado para enfrentar um retrato cru e profundamente comovente da amizade, da depressão e da busca pela redenção, este filme merece, sem dúvidas, sua atenção. Ele ficará com você muito depois de você ter desligado a tela; uma prova da sua potência cinematográfica singular. A recepção da crítica em 2022 foi geralmente positiva, mas, mesmo hoje, em 2025, a discussão em torno dele e do seu final ainda se mantém forte – e isso, por si só, demonstra a sua relevância duradoura. Assista por sua conta e risco. Mas assista.

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