A Cerveja da Guerra: Uma Jornada Amarga-Doce no Vietnã
Três anos se passaram desde que Operação Cerveja estreou nos cinemas brasileiros em 29 de setembro de 2022. Ainda me lembro da expectativa em torno do filme: Zac Efron embarcando em uma aventura bélica, dirigida por Peter Farrelly (de “Debi & Lóide” e “Green Book”), prometendo uma mistura inusitada de comédia e drama. A premissa era instigante: um jovem resolve levar cerveja para seus amigos no Vietnã. Simples, mas carregado de potencial para um filme memorável. E, em parte, Operação Cerveja cumpre essa promessa, mas com algumas ressalvas.
O filme acompanha Chickie Donohue (Efron), um jovem que, inconformado com as notícias sobre a guerra, decide tomar uma atitude radical: viajar para o Vietnã e entregar pessoalmente cerveja aos seus amigos combatentes. A jornada, inicialmente repleta de boas intenções e humor, logo se transforma em uma experiência transformadora, confrontando Chickie com a dura realidade da guerra e suas consequências. A sinopse não entrega muito além disso, preservando a surpresa de muitas reviravoltas que o longa reserva.
A direção de Peter Farrelly é, de fato, a parte mais controversa do filme. Como apontou Louisa Moore do ScreenZealots.com, ele oscila entre a comédia leve e o drama pesado, sem encontrar um equilíbrio consistente. Há momentos hilários, outros profundamente comoventes, e a transição entre eles nem sempre é suave. A escolha de um tom tão ambivalente acaba, em alguns momentos, prejudicando o impacto emocional da narrativa. O roteiro, assinado por Farrelly em conjunto com Brian Hayes Currie e Pete Jones, apresenta diálogos eficazes, com momentos de humor inteligente e reflexões profundas sobre amizade, lealdade e guerra. Entretanto, a inconstância tonal acaba por se refletir na escrita, gerando uma certa fragmentação na experiência do espectador.
Atributo | Detalhe |
---|---|
Diretor | Peter Farrelly |
Roteiristas | Peter Farrelly, Brian Hayes Currie, Pete Jones |
Produtores | Brett Glatman, Jake Myers, Don Granger, David Ellison, Andrew J. Muscato, Dana Goldberg |
Elenco Principal | Zac Efron, Russell Crowe, Kyle Allen, Bill Murray, Jake Picking |
Gênero | Drama, Comédia, Guerra |
Ano de Lançamento | 2022 |
Produtora | Skydance Media |
O elenco, no entanto, é um ponto alto indiscutível. Zac Efron entrega uma performance madura e convincente, fugindo da imagem de galã que o acompanha em outros trabalhos. Russell Crowe, como Arthur Coates, seu mentor improvável, oferece um contraponto poderoso e emocionante, enquanto o restante do elenco de apoio – Kyle Allen, Bill Murray e Jake Picking – contribui com atuações sólidas e convincentes, dando vida a personagens complexos e memoráveis.
Os pontos fortes de Operação Cerveja residem principalmente na sua premissa original e na sua capacidade de provocar reflexões sobre a Guerra do Vietnã, vista através de uma lente incomum. O filme consegue humanizar a experiência bélica, focando na amizade e na jornada pessoal de Chickie, e não apenas na violência e na brutalidade da guerra. O retrato da amizade entre os soldados, em especial, é um dos momentos mais tocante e bem construídos.
Por outro lado, a oscilação de tom e a falta de coesão narrativa são os principais pontos fracos. O filme se perde em alguns momentos, transitando de maneira abrupta entre o humor e a tragédia, o que poderia ter sido melhor trabalhado. Além disso, a abordagem ao tema da guerra, embora humanizada, às vezes se sente superficial, sem aprofundar suficientemente alguns aspectos mais complexos do conflito.
Em suma, Operação Cerveja é uma experiência cinematográfica complexa e ambígua. Trata-se de um filme com qualidades indiscutíveis, sobretudo no quesito atuações e premissa, porém prejudicado pela sua oscilação tonal. Apesar de suas falhas, a história real por trás do filme, a sua humanidade e os seus momentos genuinamente tocante o elevam acima da média. Recomendo Operação Cerveja para aqueles que apreciam filmes com premissas inusitadas e performances excepcionais, mas que não se incomodam com uma narrativa um tanto irregular. É um filme que certamente ficará na memória, mesmo que não seja uma obra-prima irretocável. A sua recepção mista, aliás, reflete bem a sua natureza paradoxal: um filme que, apesar de imperfeito, consegue ser envolvente e comovente.