É engraçado como certas memórias da infância se agarram à gente com uma força quase pré-histórica, né? Para mim, a imagem de um T-Rex gigante, com um gorrinho de festa e um sorriso que desarmava qualquer medo, é uma dessas. Lembro-me vividamente de quando Os Dinossauros Voltaram (ou, para os íntimos, “We’re Back! A Dinosaur’s Story”) surgiu lá em 1993. Naquela época, o mundo ainda estava se recuperando do impacto de “Jurassic Park”, e a ideia de dinossauros no mundo moderno era um terreno fértil para a imaginação. Mas enquanto Spielberg nos trazia o terror majestoso, a Amblimation de Steven Spielberg, em colaboração com a Universal Pictures, nos oferecia algo bem diferente: uma dose de pura doçura e aventura.
Por que falo disso agora, em 2025? Porque, para mim, este filme não é apenas uma peça de nostalgia. É um lembrete vívido da capacidade da animação de nos transportar e, mais importante, de nos fazer sentir. Ver esses dinossauros, outrora predadores temíveis, transformados em criaturas gentis e curiosas por um “cereal de cérebro” (sim, é tão bizarro e adorável quanto parece!) era como ter um desejo secreto de criança se tornando realidade na tela. Quem de nós nunca sonhou em ver um dinossauro de verdade, interagindo com o nosso mundo, sem a necessidade de correr para salvar a própria pele?
A trama, para quem ainda não embarcou nessa viagem, é deliciosamente simples e cheia de coração. Quatro dinossauros – o grandalhão e doce Rex (com a voz inconfundível de John Goodman, um achado!), o triceratops Woog (René Le Vant), a grácil Pterodáctila Elsa (Felicity Kendal) e o desajeitado Parasaurolophus Dweeb (Charles Fleischer) – são trazidos para a Nova Iorque atual pelo Capitão Neweyes (o lendário Walter Cronkite em uma performance vocal que exala sabedoria e bondade). A missão deles? Realizar os desejos de crianças. Mas, claro, a vida não seria tão emocionante sem um vilão para atrapalhar tudo. Entra em cena o Professor ScrewEyes, irmão de Neweyes, um dono de circo macabro que vê nesses dinossauros não o milagre da vida, mas uma oportunidade para explorar e aterrorizar.
É nesse ponto que a magia realmente acontece, e o filme encontra seu cerne emocional. Os dinossauros se perdem, encontram e fazem amizade com dois meninos, Louie e Cecilia. Eles são a bússola moral, a personificação da inocência e da fé que os dinossauros tanto precisam. A química entre os dinossauros e as crianças é o motor da história. Não é só uma amizade, é uma ponte entre eras, entre o colossal e o pequeno, entre o antigo e o moderno. Ver Rex tentando passar despercebido nas ruas movimentadas de Manhattan, ou a Elsa sobrevoando os arranha-céus, é um espetáculo que mistura humor e uma certa melancolia, aquela sensação de que algo extraordinário está acontecendo no lugar mais comum do mundo.
| Atributo | Detalhe |
|---|---|
| Diretores | Ralph Zondag, Simon Wells, Phil Nibbelink, Dick Zondag |
| Roteirista | John Patrick Shanley |
| Produtor | Steve Hickner |
| Elenco Principal | John Goodman, René Le Vant, Felicity Kendal, Charles Fleischer, Walter Cronkite |
| Gênero | Animação, Ficção científica, Família |
| Ano de Lançamento | 1993 |
| Produtoras | Amblin Entertainment, Amblimation, Universal Pictures |
Os diretores Ralph Zondag, Simon Wells, Phil Nibbelink e Dick Zondag, sob a batuta do roteirista John Patrick Shanley, conseguiram tecer uma narrativa que, apesar de ser animada e claramente voltada para o público infantil, não subestima a inteligência ou a capacidade emocional de ninguém. Shanley, conhecido por trabalhos como “Feitiço da Lua”, traz uma sensibilidade aos diálogos e ao desenvolvimento dos personagens que eleva a trama. Não é apenas sobre fugir de um vilão; é sobre aprender sobre confiança, sobre o valor da amizade e sobre a importância de sonhar.
E o Professor ScrewEyes? Ah, ele é o tipo de vilão que a gente adora odiar. Não é um vilão super complexo, com motivações ambíguas que nos fazem questionar a dualidade humana. Não, ele é pura maldade concentrada, um mestre da manipulação que tira proveito do medo e da vulnerabilidade. Ele é o contraponto perfeito à bondade ingênua dos dinossauros e à pureza das crianças. A forma como ele tenta quebrar o espírito dos nossos amigos pré-históricos, transformando-os novamente em feras temíveis para seu circo de horrores, é o que gera a tensão e nos faz torcer ainda mais pela vitória da empatia.
A Nova Iorque do filme é quase um personagem à parte. A cidade que nunca dorme, com seus táxis amarelos, suas luzes brilhantes e sua gente apressada, serve como um contraste glorioso e vibrante para a presença imponente dos dinossauros. A escala é tudo: um dinossauro se esgueirando entre prédios que, para ele, são apenas obstáculos um pouco maiores que árvores antigas. É um banquete visual, uma exploração da maravilha da pré-história colidindo com a modernidade.
Mais de trinta anos se passaram desde que Os Dinossauros Voltaram foi lançado, e ainda assim, o encanto permanece. É um filme que, talvez, não tenha o mesmo brilho técnico de algumas produções atuais, mas compensa com uma dose generosa de alma. É uma prova de que nem tudo precisa ser escuro e complexo para ser profundo. Às vezes, o que a gente precisa é de um T-Rex que sorri, de crianças que acreditam e de uma aventura que nos lembra que, com a ajuda certa, até os seres mais improváveis podem voar – ou, nesse caso, ajudar a realizar um desejo de Natal. É uma história que nos convida a resgatar aquela faísca de maravilha, aquele olhar de criança que ainda existe dentro de nós, e a lembrar que a bondade, por mais assustadora que seja a casca, sempre encontra um caminho para prevalecer. E isso, meu caro leitor, é um desejo que vale a pena ser realizado, em qualquer época.




