Olha, eu sempre tive uma relação complicada com reboots e remakes, principalmente quando o filme original já era tão potente e incômodo quanto “Os Estranhos” de 2008. Mas, sabe, há algo quase magnético na ideia de revisitar um terror que te marcou, mesmo que seja para ver se a faísca ainda está lá. E é exatamente por isso que, mais de um ano após seu lançamento em maio de 2024, me pego refletindo sobre Os Estranhos: Capítulo 1. Eu queria entender: será que ele conseguiu reacender aquele pavor silencioso, ou apenas ecoou um grito que já conhecemos de cor?
A premissa, pra quem se aventura agora, é familiar demais para ser coincidência. Acompanhamos a jovem Maya (Madelaine Petsch, que se esforça para nos vender o desespero de sua personagem) e seu namorado, Ryan (Froy Gutierrez), enquanto eles viajam para o interior, cheios de planos para uma nova vida. Mas, como manda o figurino do terror, o destino tem outros planos: o carro pifa, e o casal se vê obrigado a passar a noite em um Airbnb isolado no meio do nada. E aí, meu caro leitor, a história que você talvez já conheça começa a se desenrolar, com a chegada de três estranhos mascarados que transformam a noite em um inferno de “home invasion”.
Renny Harlin, um diretor que já nos deu a adrenalina de “Duro de Matar 2” e o terror aquático de “Do Fundo do Mar”, assume a cadeira, e a expectativa era que ele trouxesse um novo fôlego à franquia. Os roteiristas Alan Freedland, Bryan Bertino (o pai do original!) e Alan R. Cohen tentam, a seu modo, recriar a atmosfera. No começo, o filme até consegue. A câmera de Harlin é astuta ao nos situar nesse ambiente rural e opressor. As paisagens isoladas e a casa no meio da floresta, que deveria ser um refúgio, rapidamente se tornam uma gaiola. Há uma tensão inicial palpável, uma sensação de que algo está errado antes mesmo dos estranhos baterem à porta. A fotografia e a trilha sonora, como bem apontou um dos críticos na época, são pontos fortes, te envolvendo num suspense que promete muito.
Mas, e sempre há um “mas” quando falamos de reboots, o filme tropeça na sua própria ambição de ser o primeiro de uma trilogia. A grande sombra que paira sobre Os Estranhos: Capítulo 1 é justamente o fato de ser um “capítulo 1”. Aqueles trechos de críticas que mencionavam o “heavy trailing” e como ser “part one does little to help any sense of menace” acertam em cheio. Ao invés de construir um terror autossuficiente, que nos devora por completo, o filme se sente constantemente preparando o terreno para o que virá. Ele te belisca, te assusta um pouco, mas nunca te entrega àquela sensação sufocante de desespero sem fim que o original masterizou. É como se a história puxasse o freio de mão a cada vez que o pânico começava a escalar, lembrando-nos que ainda há muito chão a percorrer nos próximos filmes.
Atributo | Detalhe |
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Diretor | Renny Harlin |
Roteiristas | Alan Freedland, Bryan Bertino, Alan R. Cohen |
Produtores | Mark Canton, Christopher Milburn, Courtney Solomon, Gary Raskin, Charlie Dombeck, Alastair Burlingham, Charlie Dombek |
Elenco Principal | Madelaine Petsch, Froy Gutierrez, Gabriel Basso, Ema Horvath, Ella Bruccoleri, Richard Brake, Brooke Lena Johnson, Rafaella Biscayn-Debest, Pedro Leandro, Florian Clare |
Gênero | Terror, Thriller |
Ano de Lançamento | 2024 |
Produtoras | Fifth Element Productions, Sherbone Media, Lipsync Productions, Stream Media, Lionsgate |
E os estranhos, com suas máscaras icônicas? Dollface, Pin-Up Girl e Man in the Mask continuam visualmente perturbadores, símbolos de um mal sem motivo que é o cerne do fascínio (e do terror) dessa franquia. No entanto, quando você os vê novamente, surge uma pergunta: eles ainda carregam o mesmo impacto? Ou o que antes era original agora roça no `cliché`, uma vez que a novidade se foi? O filme se enquadra perfeitamente no subgênero `home invasion` e `slasher`, mas a forma como o `murder` é retratado parece mais uma formalidade da violência do que um choque visceral. Há momentos de susto, sim, e a atuação de Richard Brake como Sheriff Rotter adiciona uma camada interessante, mas a intensidade dos ataques não alcança a mesma profundidade de horror psicológico.
No fim das contas, Os Estranhos: Capítulo 1 parece mais um `reboot` cauteloso do que uma reinvenção corajosa. Ele nos entrega a mesma receita, mas talvez com ingredientes um pouco menos frescos. E, pra mim, que esperava sentir aquele frio na espinha de novo, a experiência foi agridoce. É um filme que acerta em alguns pontos técnicos, que tenta honrar sua linhagem, mas que se perde na tentativa de ser grande demais, de abrir portas para o futuro em vez de fechar o espectador em seu presente. Deixa-nos com a sensação de que o terror está ali, espreitando, mas nunca realmente nos alcança por completo. E a gente, bom, a gente fica aqui, esperando o Capítulo 2, perguntando se, dessa vez, os estranhos finalmente vão se despir de suas amarras e nos dar o que viemos buscar: o puro e inalterado pavor.