Os Guardiões

Você já parou para pensar no que acontece quando a ambição cinematográfica russa se encontra com a febre global dos super-heróis? Pois é, essa pergunta me persegue desde que me deparei com Os Guardiões (Zashchitniki, no original russo), um filme que, lançado em 2017, ousou mergulhar de cabeça num gênero dominado por pesos-pesados de Hollywood, mas com um orçamento que, para os padrões ocidentais, mal pagaria o lanche da equipe. E é exatamente essa audácia que me intriga e me faz querer desdobrar essa joia, ou melhor, essa peça de cinema tão peculiar.

Não se engane, não estou aqui para te vender a ideia de que Os Guardiões é a obra-prima definitiva do cinema de super-heróis. Longe disso. Mas, para um crítico que já viu de tudo e mais um pouco nesse universo de capas e poderes, a proposta de Sarik Andreasyan, o diretor, e Andrei Gavrilov, o roteirista, é, no mínimo, fascinante. Em plena Guerra Fria, com todo o peso geopolítico e ideológico que a época carregava, uma organização secreta chamada “Patriota” surge com uma solução para ameaças sobrenaturais que fogem ao escopo do KGB e do exército vermelho: super-heróis russos. Sim, você leu certo. Super-heróis. Com modificação de DNA, identidades secretas e a missão de defender a Mãe Rússia.

A sacada mais interessante, para mim, está na maneira como o filme tenta tecer uma tapeçaria que reflete a própria União Soviética. Temos Arsus, o homem-urso, força bruta e primal; Khan, o mestre do vento e das lâminas, ágil e misterioso; Ler, o controlador de rochas e terra, uma rocha de estabilidade; e Xenia, a mulher-água, que pode assumir a forma líquida e ser invisível. Eles não são apenas um time, mas representam as diferentes etnias e culturas que compunham a vasta URSS. É uma alegoria poderosa para a união na diversidade, mas com um verniz de ficção científica e ação que a torna palatável. A ideia de que esses protetores mantêm suas identidades em segredo para não expor aqueles que juraram proteger é um toque clássico do gênero, mas ganha um sabor agridoce quando pensamos no contexto da espionagem e paranoia da Guerra Fria.

O filme foi lançado em setembro de 2017 no Brasil, e na época, a gente ouvia os ecos das críticas lá de fora, que frequentemente o taxavam de “Russian X-Men”. E, honestamente, a comparação é quase inevitável. Mas enquanto os X-Men nasceram de uma metáfora para a minoria e o preconceito, Os Guardiões se enraíza mais numa narrativa de orgulho nacional e defesa contra o desconhecido, um paralelo interessante com o primeiro “Capitão América” que um dos trechos de crítica sublinha. Ambos usam a Guerra Fria, ou a Segunda Guerra, como pano de fundo para iniciar algo grandioso, um chamado à bravura em tempos incertos.

AtributoDetalhe
DiretorСарик Андреасян
RoteiristaАндрей Гаврилов
ProdutoresГеоргий Малков, Сарик Андреасян, Гевонд Андреасян, Vladimir Polyakov, Алексей Рязанцев
Elenco PrincipalАнтон Пампушный, Sanjar Madi, Себастьян Сисак, Алина Ланина, Валерия Шкирандо
GêneroFicção científica, Ação, Fantasia, Comédia, Thriller
Ano de Lançamento2017
ProdutorasRenovatio Entertainment, Enjoy Movies, Big Cinema House

O elenco principal, com Антон Пампушный como o imponente Arsus, Sanjar Madi como o enigmático Khan, Себастьян Сисак trazendo a solidez de Ler e Алина Ланина a fluidez de Xenia, cumpre seu papel. Eles não são meros adereços de um roteiro mirabolante; há uma tentativa de dar vida a esses arquétipos, de mostrar o fardo e a camaradagem de serem os “outros” heróis. E não podemos esquecer de Валерия Шкирандо como a Major Elena Larina, a ponte entre a burocracia soviética e esse esquadrão de seres superpoderosos, a voz humana que nos guia por esse universo.

Mas o que realmente faz Os Guardiões pulsar em minha memória é o desafio que ele impôs aos seus criadores. Como um dos trechos de crítica aponta, fazer um “blockbuster” com 7 milhões de dólares, numa época em que esse valor é irrisório para produções do gênero, é um ato de fé. Produtoras como Renovatio Entertainment, Enjoy Movies e Big Cinema House, junto com os produtores Георгий Малков, Сарик Андреасян, Гевонд Андреасян, Vladimir Polyakov e Алексей Рязанцев, embarcaram nessa jornada, apostando na criatividade e no uso inteligente dos recursos. E você vê isso na tela: há cenas de ação que surpreendem pela escala, efeitos especiais que, apesar de não competirem com os titãs de Hollywood, entregam o que prometem, e um visual que busca ser grandioso dentro de suas limitações.

O filme transita entre a ficção científica, ação, fantasia, e aqui está o ponto delicado, a comédia e o thriller. A mistura de gêneros pode ser uma faca de dois gumes. Em alguns momentos, o humor, talvez um tanto ingênuo para o paladar ocidental, surge como um respiro bem-vindo. Em outros, ele pisa no calo da seriedade que a premissa de um thriller de espionagem e superpoderes da Guerra Fria sugere, deixando a gente se perguntando qual o tom exato que a equipe queria imprimir. Essa ambiguidade, contudo, é parte do charme. Não é uma experiência polida e perfeitamente equilibrada, mas sim uma tentativa crua e sincera de contar uma história.

Então, ao revisitarmos Os Guardiões hoje, em 2025, não o faço como um exercício de comparação injusta com o que temos agora, mas sim como uma apreciação por sua audácia. É uma peça fascinante do cinema independente global, um reflexo de como outras culturas abordam narrativas tão universalmente populares quanto a de super-heróis. Ele pode não ter redefinido o gênero, mas certamente expandiu a conversa. E isso, para mim, já é um triunfo. Para quem busca algo que fuja do lugar-comum, uma jornada que é, ao mesmo tempo, familiar e exótica, Os Guardiões merece um olhar curioso e, quem sabe, até um pouco de carinho. Afinal, a coragem de contar uma história grandiosa com recursos modestos é, por si só, uma forma de heroísmo.

Trailer

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