Ah, Kurupt FM. Confesso que a simples menção já acende uma faísca nostálgica em mim. Se você, como eu, passou horas a fio mergulhado no universo bizarro, autêntico e hilário do maior rádio pirata de Brentford, então sabe que a ideia de ver essa galera saltar da telinha direto para o cinema já era motivo para uma pequena festa particular aqui em casa. Mas não era só isso, né? A promessa era alta: “Big in Japan”. E quem melhor do que Grindah, Beats, Steves, Decoy e, claro, o incomparável Chabuddy G, para nos levar a uma odisseia cultural de proporções épicas?
Quando `People Just Do Nothing: Big in Japan` chegou em 2021, já faz uns anos que essa aventura nos presenteou com suas loucuras. Mas mesmo agora, em 2025, a memória ainda está fresca, o que só prova a qualidade da viagem. O que me atraiu, e tenho certeza que a muitos de vocês também, foi a curiosidade genuína: como esses garotos, tão enraizados em sua bolha de Brentford, reagiriam ao choque cultural do Japão? E a resposta, meus amigos, foi uma explosão de comédia que apenas Allan Mustafa e Steve Stamp, os gênios por trás desse universo, poderiam orquestrar.
Pensa comigo: o Kurupt FM, após o fim do império (bem, “império” é uma palavra forte para o que eles tinham), se vê sem rumo. O que fazer? Ora, buscar a fama e a fortuna, é claro! E qual o melhor lugar para se tornar “grande” senão o Japão, uma terra mística onde até os DJs mais excêntricos podem virar celebridades? A premissa em si já é um convite ao riso. Ver Grindah, com seu ego inflado e sua autoproclamada genialidade, tentando decifrar os costumes japoneses é ouro puro. Ele se move com aquela confiança inabalável de quem sabe que é a próxima grande coisa, mesmo quando tropeça em cada passo. É como assistir a um pavão tentando se misturar a um bando de garças — o contraste é gritante e a cada pena exibida fora de lugar, a gente solta uma gargalhada.
E os outros? Ah, eles são o tempero perfeito. Beats, com sua ingenuidade e coração de ouro, reage ao Japão de uma forma mais visceral, quase infantil. Ele se encanta com as coisas pequenas, com a novidade, sem a pretensão de Grindah. Já Steves, o “Steves”, com sua aura sempre um tanto etérea e suas dependências peculiares, é um capítulo à parte. Ele mal funciona em Brentford, imagina no meio da efervescência de Tóquio. As cenas em que ele se perde ou encontra alguma substância ilícita (ou algo que ele acha ser ilícito) são de um humor absurdo, quase surreal, que só funciona porque Steve Stamp o interpreta com uma dedicação perturbadora.
| Atributo | Detalhe |
|---|---|
| Diretor | Jack Clough |
| Roteiristas | Allan Mustafa, Steve Stamp |
| Elenco Principal | Asim Chaudhry, Allan Mustafa, Hugo Chegwin, Steve Stamp, Daniel Sylvester Woolford |
| Gênero | Comédia |
| Ano de Lançamento | 2021 |
| Produtoras | Roughcut Films, BBC Film, Focus Features |
Mas o verdadeiro motor da comédia, na minha humilde opinião, é ele: Chabuddy G. Interpretado magistralmente por Asim Chaudhry, Chabuddy é o “empresário” que não consegue gerenciar nem a própria vida, quem dirá a carreira de uma “banda” de drum & bass. Sua habilidade de transformar qualquer situação em um desastre financeiro e social é lendária. No Japão, essa característica atinge novos patamares. Suas tentativas de fazer negócios, de se comunicar, de impressionar os locais, são uma aula de comédia de constrangimento. A gente se encolhe no sofá, mas não consegue parar de rir. Ele é a encarnação perfeita do “sonhador” que falha espetacularmente, mas nunca perde a fé em si mesmo, mesmo quando o mundo inteiro está claramente mostrando o contrário. E é justamente essa sua resiliência equivocada que nos cativa.
O que Jack Clough, o diretor, e os roteiristas Allan Mustafa e Steve Stamp conseguiram aqui foi algo notável. Eles não apenas transportaram os personagens para um novo cenário, mas mantiveram a essência crua e o estilo mockumentary que fez a série ser amada. As transições entre os cenários vibrantes do Japão e as conversas íntimas e sem noção dos personagens são impecáveis. A produção, com Roughcut Films, BBC Film e Focus Features, deu um polimento cinematográfico que a série, por sua natureza, não tinha. As paisagens japonesas são belíssimas, e o contraste com a cafonice e a falta de tato dos meninos da Kurupt FM é constantemente explorado para o máximo efeito cômico.
Não se engane, `People Just Do Nothing: Big in Japan` não é um filme que busca grandes reflexões sobre a condição humana. Mas ele oferece uma reflexão valiosa sobre a amizade, a busca incessante (e muitas vezes fútil) por reconhecimento e a forma como a gente se agarra aos nossos sonhos, por mais delirantes que eles sejam. É uma celebração da inaptidão e da lealdade entre amigos, envolta em um pacote de risadas ininterruptas. E essa é a grande força do Kurupt FM: eles nos fazem rir com eles, e às vezes deles, mas sempre com um carinho genuíno.
Ver esses personagens, que pareciam destinados a viver para sempre nos limites de Brentford, explorando os karaokês e as ruas movimentadas de Tóquio, é uma experiência deliciosamente estranha. É a prova de que um bom humor, quando bem executado por personagens que amamos, pode transcender fronteiras e línguas. Então, se você está procurando uma comédia que te faça esquecer os problemas e te leve para uma aventura hilária e um tanto quanto constrangedora, eu te digo: dê uma chance a essa turma. Você não vai se arrepender de embarcar nessa jornada japonesa com o Kurupt FM. Pode ter certeza.




