Guillermo del Toro e a Inquietante Beleza de Seu Pinóquio
Há filmes que simplesmente te marcam. Que se instalam em algum canto da sua memória e ecoam muito depois dos créditos finais. “Pinóquio”, de Guillermo del Toro e Mark Gustafson, lançado em 2022, é um desses filmes. Assisti-lo em 2025 ainda me causa um arrepio peculiar, uma mistura de fascínio e melancolia. Não é a versão açucarada que muitos conhecem; é uma reimaginação sombria e profundamente comovente do clássico conto de Collodi, ambientada na Itália fascista dos anos 1940.
A sinopse, sem spoilers, é simples: um boneco de madeira, construído por Geppetto, ganha vida e embarca em uma jornada de autodescoberta, confrontada com a cruel realidade de um mundo marcado pela guerra e pela manipulação ideológica. Mas essa simplicidade engana. A narrativa, embora fiel ao espírito da história original, é imbuída de uma profundidade filosófica e emocional que a eleva muito além de um mero filme infantil.
A direção, um trabalho conjunto de del Toro e Gustafson, é majestosa. A animação stop-motion, com sua textura rica e detalhes impecáveis, é absolutamente deslumbrante. Cada cena é um quadro vivo, vibrante e cheio de expressividade. A estética sombria, pontuada por momentos de beleza surreal, cria uma atmosfera única que nos envolve do início ao fim. A escolha de ambientar a história na Itália sob o regime fascista é corajosa e inteligente, traçando paralelos perturbadores entre a manipulação de Pinóquio e a propaganda política de Benito Mussolini. A própria jornada do boneco torna-se uma metáfora da busca pela identidade e da resistência à opressão.
| Atributo | Detalhe |
|---|---|
| Diretores | Mark Gustafson, Guillermo del Toro |
| Roteiristas | Guillermo del Toro, Patrick McHale |
| Produtores | Gary Ungar, Guillermo del Toro, Alexander Bulkley, Corey Campodonico, Lisa Henson |
| Elenco Principal | Ewan McGregor, David Bradley, Gregory Mann, Burn Gorman, Ron Perlman |
| Gênero | Animação, Fantasia, Aventura, Drama |
| Ano de Lançamento | 2022 |
| Produtoras | The Jim Henson Company, ShadowMachine, Double Dare You |
As atuações de voz, em sua maioria em inglês na versão original, são impecáveis. Ewan McGregor, como o Grilo Falante, traz sua habitual sutileza e charme; David Bradley, como o Geppetto, nos entrega uma performance cheia de nuances, que vai da esperança à dor; e Gregory Mann, como Pinóquio, transmite a inocência e a confusão do boneco, evoluindo para a angústia e autodescoberta de um jovem. A sinergia entre as vozes e a animação é perfeita, dando vida a personagens memoráveis.
Um dos pontos fortes do filme é a sua capacidade de explorar temas complexos de forma acessível, mas sem infantilizar. A busca pela autenticidade, a relação pai-filho, o peso da responsabilidade, a natureza da fé e a manipulação política são abordados com sensibilidade e profundidade. A mensagem central, para mim, é a importância da individualidade e da resistência frente à ideologia totalitária, mas também a importância de perdoar e buscar a verdade interior.
Apesar de sua excelência, o filme não está isento de pontos fracos. Alguns momentos podem parecer um pouco lentos para um público menos paciente, e a abordagem mais sombria pode não agradar a todos. Mas, considerando o contexto, esses são detalhes menores que não comprometem a experiência como um todo.
Em 2025, olhando para trás, posso dizer que “Pinóquio” de Guillermo del Toro transcendeu a expectativa. Foi um sucesso de crítica e, felizmente, encontrou seu público nas plataformas digitais de streaming. A recepção majoritária foi extremamente positiva, consolidando sua posição como uma obra-prima da animação contemporânea. Se você procura um filme de animação que te faça refletir, emocionar e te cativar visualmente, não hesite em assistir a “Pinóquio”. É uma experiência cinematográfica memorável, a prova da magia que a animação stop-motion, nas mãos certas, pode proporcionar. Recomendadíssimo.




