Possum: Um Rato em Meio à Loucura
Sete anos após seu lançamento em 2018, Possum continua a me assombrar. Não se trata de sustos baratos, mas de uma experiência cinematográfica que se instala na pele, espremendo-se na mente como um parasita, mesmo depois dos créditos finais. Este longa-metragem, dirigido e escrito por Matthew Holness, é um estudo de horror psicológico tão desconcertante quanto brilhante, uma obra que não se esquiva das sombras mais escuras da psique humana.
A sinopse, sem spoilers, gira em torno de Philip (um Sean Harris excepcional), um marionetista perturbado que retorna à sua cidade natal em Norfolk após uma série de eventos traumáticos. Acompanhamos sua jornada de volta à infância, marcada por abuso e uma relação complexa com uma figura paterna sinistra. Um fantoche monstruoso, apelidado de Possum, se torna um símbolo aterrador desses traumas, sua presença palpável amplificando a crescente sensação de paranoia e loucura que envolve Philip.
A direção de Holness é exemplar. Ele constrói uma atmosfera opressiva e claustrofóbica, usando a cinematografia para reforçar a sensação de aprisionamento e desespero de Philip. As imagens são, muitas vezes, grotescas e desconcertantes, refletindo o estado mental degradante do protagonista. A utilização de close-ups prolongados, focando os olhos arregalados e a expressão torturada de Harris, nos faz mergulhar em sua agonia. A paleta de cores sombria, os cenários escuros e decadentes de Norfolk, tudo contribui para criar um verdadeiro retrato de pesadelo.
Atributo | Detalhe |
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Diretor | Matthew Holness |
Roteirista | Matthew Holness |
Produtores | Wayne Marc Godfrey, Robert Jones, Mark Lane, James Harris |
Elenco Principal | Sean Harris, Alun Armstrong, Andy Blithe, Ryan Enever, Charlie Eales |
Gênero | Drama, Terror, Thriller |
Ano de Lançamento | 2018 |
Produtoras | BFI, The Fyzz, Bankside Films, Evandine Productions |
O roteiro é tão perturbador quanto a direção, explorando temas complexos de abuso infantil, culpa e a fragilidade da sanidade. Não é um filme fácil de assistir; ele exige do espectador uma certa disposição para enfrentar a escuridão. Mas a profundidade da escrita, a construção cuidadosa dos personagens e a maneira como a história se desdobra, lentamente mas inexoravelmente, compensam o desconforto.
As atuações são impecáveis. Sean Harris entrega uma performance visceral e poderosa, interpretando a fragilidade e a repressão de Philip com uma nuance que impressiona. Alun Armstrong, como Maurice, seu tio, também merece destaque pela interpretação sutilmente ameaçadora. O elenco inteiro sustenta a atmosfera tensa e perturbadora do filme, sem jamais cair no melodrama.
Apesar de sua excelência, Possum não é perfeito. Algumas pessoas podem criticar seu ritmo lento, mas eu diria que essa lentidão é um elemento crucial para construir a atmosfera de terror psicológico. A jornada de Philip precisa ser lenta e dolorosa para que sua experiência seja plenamente sentida pelo público. Para alguns, a surrealidade da trama poderá ser excessiva, mas, na minha opinião, é exatamente esse surrealismo que acentua a desestabilização mental do personagem principal.
A mensagem central do filme é a devastadora persistência dos traumas da infância. O Possum, mais do que um fantoche, é uma metáfora perturbadora para a culpa e os demônios internos que assombram Philip. O filme nos confronta com as consequências do abuso e a dificuldade de lidar com o passado, deixando uma marca duradoura na alma.
Em resumo, Possum é um filme que se destaca, mesmo em 2025, pela sua originalidade, audácia e pela performance magnífica de seu elenco. A experiência pode ser desconfortável, perturbadoramente perturbadora, mas também profundamente recompensadora para quem aprecia cinema que transcende os limites do convencional. Apesar de seu ritmo mais lento, o filme é uma obra-prima do horror psicológico. É uma experiência que se mantém viva na memória, e, embora não seja para os fracos de estômago, o recomendo fortemente para quem busca um cinema que realmente mexe com a alma. Se você é capaz de suportar a claustrofobia e o suspense crescente, mergulhe nesta jornada tensa, não se arrependerá.