Presencias

Ah, Presencias! Sabe, é curioso como certos filmes nos chamam de volta, mesmo depois de algum tempo. Estamos em outubro de 2025, e eu me pego revisitando essa obra de 2022 do Luis Mandoki, pensando no impacto que ela teve. Por que ela ainda ecoa na minha cabeça? Acho que, no fundo, a gente busca no cinema, especialmente no terror, algo que nos force a encarar nossos próprios fantasmas, nossas próprias “presenças” internas. E Presencias faz isso com uma sutileza que, para mim, é o seu grande trunfo.

Quando a gente fala de terror, muitas vezes a mente vai direto para os jump scares óbvios, para o gore explícito. Mas Mandoki, com o roteiro de Olivia Bond, escolhe um caminho mais sinuoso, mais psicológico. É como estar num quarto escuro onde você sente que não está sozinho, mas não consegue ver nada. Essa é a atmosfera que se instala desde os primeiros minutos: uma sensação de desconforto que não precisa gritar para ser sentida, que se aninha na pele e te faz querer puxar um cobertor imaginário. Víctor, interpretado com uma intensidade brutal por Alberto Ammann, é a nossa âncora nesse mergulho. Você vê o peso de algo inexplicável esmagando-o, seus olhos entregando uma batalha interna que transcende qualquer diálogo. Ammann não apenas atua, ele incorpora a exaustão e o pavor de quem está perdendo a sanidade, ou talvez, a própria alma, para aquilo que não pode nomear. É um desempenho que te puxa para dentro da tela, te fazendo sentir a umidade da casa antiga, o ranger das tábuas, a opressão do ar.

Yalitza Aparicio, no papel de Paulina, é outro pilar dessa construção. Diferente da intensidade sufocante de Ammann, Yalitza traz uma espécie de quietude perturbadora. Ela é a voz da razão que tenta lutar contra o irracional, o farol que ameaça apagar em meio à tempestade. Sua performance não é de gritos e histeria, mas de uma resignação gradual, de uma aceitação arrepiante do inexplicável. É como ver uma flor murchar lentamente, ainda bela, mas cada pétala caindo é um golpe no coração do espectador. E o Josué Maychi… mesmo sem um nome de personagem divulgado nas fichas técnicas, sua presença em cena é como um elo com algo primordial, com uma sabedoria ancestral, ou talvez, com um terror mais antigo que o tempo. É um desses papéis que não precisam de muito tempo de tela para deixar uma marca indelével. E Almita, a criança interpretada por Leo Danse Alos, serve como um espelho assustador, refletindo o horror que os adultos tentam (e falham) em compreender ou controlar. É um toque clássico do gênero, sim, mas executado com uma sensibilidade que evita o clichê.

A produção da Videocine, com Cher Constantine e o próprio Mandoki na cadeira de produtores, mostra um cuidado palpável com a estética. Não é um filme que aposta em orçamentos faraônicos para efeitos visuais gritantes. Em vez disso, aposta na cinematografia atmosférica, na trilha sonora que sussurra ameaças em vez de berrar, e numa direção de arte que faz da locação um personagem por si só. A casa, ah, a casa! Ela respira, range, geme, e cada sombra parece guardar um segredo pronto para saltar. É quase como se o ar por lá tivesse um peso extra, sabe? Um cheiro de mofo, de madeira velha, de coisas que não deveriam estar lá.

Atributo Detalhe
Diretor Luis Mandoki
Roteirista Olivia Bond
Produtores Cher Constantine, Luis Mandoki
Elenco Principal Alberto Ammann, Yalitza Aparicio, Josué Maychi, Leo Danse Alos, Ariel Bonilla
Gênero Terror
Ano de Lançamento 2022
Produtora Videocine

Luis Mandoki, que já nos deu obras de drama com uma carga emocional densa, aqui se arrisca no terror e entrega uma experiência que honra o gênero ao mesmo tempo em que o subverte. Ele não está interessado apenas em te assustar; ele quer te fazer pensar sobre a natureza do mal, sobre o que nos persegue mesmo quando fechamos os olhos. É um jogo de gato e rato com a nossa própria percepção da realidade. E Olivia Bond, com seu roteiro, constrói essa teia de incertezas com maestria. As perguntas que ficam no ar são mais aterrorizantes do que qualquer resposta definitiva.

Presencias não é um filme que te dá todas as respostas de bandeja. E talvez seja por isso que ele ainda me assombra. Ele te desafia a preencher os espaços vazios com seus próprios medos, suas próprias crenças no inexplicável. É um filme que, ao invés de te dizer o que é o monstro, te convida a sentir a sua sombra, a sua “presença”, e a questionar o que de fato nos assusta mais: aquilo que vemos, ou aquilo que apenas sentimos que está lá? E, dois anos depois do seu lançamento, ainda sinto essa presença por aqui. E você, sente?

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