O alvoroço nas redes sociais, o julgamento sumário antes mesmo de qualquer prova, a nuvem de fumaça que ofusca a verdade. Se tem algo que me tira o sono ultimamente, é a velocidade com que narrativas se formam e destroem vidas no universo digital. Por isso, quando soube de Pubertat, a nova série de Leticia Dolera, meu interesse não foi só profissional; foi visceral, quase um chamado pessoal. Sabe, a gente vive num tempo onde a “inocência” na adolescência é bombardeada por mais câmeras de celular do que por dúvidas existenciais. E é exatamente nesse pântano complexo que Dolera decide mergulhar.
Pubertat se apresenta como um drama que sacode a aparente tranquilidade de uma comunidade, lançando luz sobre uma acusação de agressão sexual que, como um vírus, se espalha pelas redes sociais e aponta três adolescentes como os principais suspeitos. Pensa comigo: três vidas no olho do furacão digital, a reputação em frangalhos antes mesmo que a poeira assente. Como é que se navega por essa correnteza furiosa? Como se protege a privacidade quando cada curtida e cada compartilhamento é um golpe de marreta na sua imagem? A sinopse me pegou de jeito, porque ela toca numa ferida aberta da nossa sociedade: a justiça popular versus a justiça real, o burburinho online versus a busca pela verdade.
E não é à toa que Leticia Dolera está à frente disso. Eu, que já acompanho o trabalho dela como criadora, sei que ela não tem medo de provocar, de levantar questões incômodas e, principalmente, de dar voz a perspectivas que muitas vezes são silenciadas. A sua presença no elenco, junto a Betsy Túrnez e Xavi Sáez, já me dá uma certa confiança de que o projeto terá performances que transcendem a superfície. Mas o que realmente me intriga é o papel de Carla Quílez e Alexandra Russo. Adolescentes interpretando adolescentes sob tamanha pressão… dá pra sentir o peso disso daqui, né? Imagino as cenas onde o silêncio grita mais alto que qualquer diálogo, onde um olhar perdido ou um tremor nas mãos fala volumes sobre o pavor de ver seu mundo desabar.
A gente tende a querer heróis e vilões, um lado certo e um lado errado. Mas a vida, e especialmente temas tão sensíveis quanto a puberdade e a agressão sexual, raramente se encaixam nessas caixas. Pubertat promete desconstruir essa simplicidade, nos forçando a encarar as ambiguidades, as contradições, as áreas cinzentas. Quem é a vítima? Quem é o agressor? E o mais importante: o que acontece quando a opinião pública já decidiu? A série, produzida por nomes como Oriol Maymó e Miriam Porté, e com o suporte de diversas produtoras importantes, não chega como um panfleto moralista, mas como um espelho. Um espelho que reflete as nossas próprias reações impulsivas, a nossa sede de julgamento e a fragilidade da reputação na era da informação instantânea.
| Atributo | Detalhe |
|---|---|
| Criadora | Leticia Dolera |
| Produtores | Oriol Maymó, Miriam Porté |
| Elenco Principal | Leticia Dolera, Betsy Túrnez, Xavi Sáez, Carla Quílez, Alexandra Russo |
| Gênero | Drama |
| Ano de Lançamento | 2025 |
| Produtoras | Distinto Films, Corte y Confección de Películas, Uri Films, 3Cat, AT-Production |
Pense nos detalhes: o brilho frio da tela de um celular refletido nos olhos marejados de um adolescente, os sussurros que se transformam em gritos nas caixas de comentário, a sensação sufocante de ter sua vida esmiuçada por estranhos. Pubertat não me parece ser uma série que simplesmente “conta” uma história; ela deve nos fazer sentir a angústia, o pânico, a injustiça – seja ela qual for o lado em que se manifeste. Ela nos convida a questionar: é possível haver um retorno à normalidade depois de uma mancha digital tão profunda? Como se constrói a verdade quando ela é fragmentada por filtros e algoritmos?
No ano de 2025, essa série não é apenas entretenimento; é um diálogo urgente. É um convite para pararmos e pensarmos sobre a responsabilidade que cada um de nós carrega ao navegar nesse oceano de informações. Pubertat talvez não nos dê todas as respostas, e talvez nem deva. Mas, se me fizer respirar fundo e reconsiderar antes de formar uma opinião apressada na próxima vez que uma manchete chocante pipocar na minha tela, já terá cumprido seu papel. E isso, pra mim, já é um impacto imenso.




