Quebrando Correntes: Uma Jornada de Fé e Redenção que Toca a Alma
No vasto universo cinematográfico, onde a busca incessante por originalidade por vezes nos afasta de narrativas mais íntimas, surge um filme que, apesar de abraçar uma estrutura familiar, consegue se destacar pela pura força de sua emoção e a autenticidade de sua mensagem. Refiro-me a Quebrando Correntes (originalmente lançado em 2021 e que chegou aos cinemas brasileiros em 14 de abril de 2022), uma obra que, como o próprio título sugere, explora a libertação das amarras do desespero através de uma jornada espiritual profunda.
Como um crítico que respira cinema, devo admitir que sou frequentemente cético com filmes que prometem ser “baseados em uma história real” e que flertam abertamente com o gênero da fé. Há sempre o receio de cairmos em um mar de clichês ou de sermos confrontados com uma mensagem demasiadamente explícita, que mais catequiza do que narra. No entanto, Quebrando Correntes, dirigido por Tim Searfoss e com roteiro dele e de Daniel Fajardo, surpreendeu-me ao conseguir equilibrar essa balança com uma honestidade palpável.
A Dor Humana em Busca de Luz
| Atributo | Detalhe |
|---|---|
| Diretor | Tim Searfoss |
| Roteiristas | Tim Searfoss, Daniel Fajardo |
| Produtores | Daniel Fajardo, Tim Searfoss |
| Elenco Principal | Ignacyo Matynia, Krystian Leonard, Dean Cain, Brayden Lacer, Collins Randolph |
| Gênero | Drama |
| Ano de Lançamento | 2021 |
| Produtoras | Searfoss Productions, JCFilms |
A premissa do filme nos apresenta a Jonathan Hickory, um policial cuja vida desmorona sob o peso de tragédias sucessivas. A perda do pai, a exposição a cenas de horror em seu trabalho e, o golpe mais cruel, a morte de seu primeiro filho, o jogam em um abismo de raiva, depressão e, por fim, alcoolismo. Ignacyo Matynia, no papel de Jonathan, entrega uma atuação visceral, que é, sem dúvida, o pilar emocional de toda a narrativa. Ele não apenas interpreta a dor, ele a encarna. Vemos em seus olhos o tormento de um homem que está perdendo tudo: o cargo na polícia, a esposa Stacy (interpretada com sensibilidade por Krystian Leonard) e a filha Ana (Collins Randolph). A câmera não desvia do seu sofrimento, e nós, como espectadores, somos arrastados para a sua espiral descendente.
É neste ponto de inflexão que Jonathan se volta para Deus, uma busca que, para muitos, pode soar como a única saída. E é exatamente essa virada, esse “quebrar de correntes”, que o filme se propõe a explorar.
Direção, Roteiro e o Desafio da Redenção
Tim Searfoss, tanto na direção quanto na coautoria do roteiro, demonstra uma clara intenção de mergulhar na psique de Jonathan sem maquiar a feiura da sua queda. A direção é direta, focada nos rostos e nas emoções. Embora não seja um espetáculo visual de grandes orçamentos (e isso é compreensível, vindo de produtoras como Searfoss Productions e JCFilms), a força está na capacidade de Searfoss de extrair performances autênticas e de manter o ritmo do drama.
O roteiro de Searfoss e Fajardo, por sua vez, é um estudo sobre a resiliência e a fé. O desafio de um filme “baseado em uma história real” é sempre transformá-la em algo que ressoe universalmente, sem perder a especificidade do caso. Quebrando Correntes acerta ao nos apresentar um Jonathan que não encontra a redenção de forma mágica ou instantânea. Sua jornada é tortuosa, cheia de recaídas e de dúvidas, o que a torna infinitamente mais crível e potente. A presença do Pastor Gabe, interpretado pelo veterano Dean Cain, é crucial. Cain, com sua presença calma e acolhedora, evita que o personagem se torne um mero estereótipo de conselheiro espiritual, oferecendo uma âncora de sabedoria e paciência.
Um dos pontos mais fortes do roteiro é como ele integra a fé não como uma solução instantânea, mas como um processo, uma ferramenta para o autoconhecimento e a superação. O jovem Jonathan (Brayden Lacer) aparece em flashbacks que, embora breves, ajudam a contextualizar a formação do caráter do protagonista, ainda que eu sentisse falta de uma exploração mais aprofundada de sua infância para compreender melhor as raízes de sua fragilidade.
Correntes Rompidas e Mensagens Duradouras
O filme abraça temas universais como a dor do luto, o vício, a busca por perdão e a força da família, mas a mensagem central é, sem dúvida, a da esperança e da transformação através da fé. Para um crítico, é tentador apontar a previsibilidade de um arco de redenção tão claro. Contudo, a autenticidade com que é apresentado, a crueza das cenas que mostram o fundo do poço de Jonathan, e a atuação de Ignacyo Matynia, elevam a experiência acima do esperado.
Será que Quebrando Correntes é perfeito? Não. Alguns momentos podem parecer um tanto didáticos para um público que busca sutileza em todas as camadas de uma obra. A produção, por vezes, revela as limitações de um orçamento mais modesto, mas isso é facilmente perdoado pela paixão evidente de todos os envolvidos. O verdadeiro poder do filme reside em sua capacidade de nos lembrar que mesmo nas trevas mais profundas, há uma luz – seja ela qual for o nome que lhe damos – capaz de guiar-nos de volta.
Minha conexão pessoal com o tema da superação e da busca por um propósito maior torna Quebrando Correntes um filme que me tocou profundamente. Não se trata apenas de uma história de fé religiosa; é uma ode à resiliência humana, à capacidade de se reerguer mesmo quando tudo parece perdido. É a prova de que as correntes que nos prendem muitas vezes são aquelas que nós mesmos criamos e que, com ajuda e determinação, podemos quebrá-las.
Conclusão: Uma Recomendação com o Coração Aberto
Quebrando Correntes não é um filme para quem busca reviravoltas mirabolantes ou efeitos especiais deslumbrantes. É um drama humano, intenso e com uma mensagem poderosamente edificante. Para aqueles que apreciam narrativas de superação, que se permitem ser tocados por histórias de fé e redenção, este filme é altamente recomendado.
É uma obra que te fará refletir sobre suas próprias “correntes” e sobre a força que reside em cada um de nós para superá-las. Quatro anos após seu lançamento original e mais de três anos desde sua estreia no Brasil, sua mensagem continua tão relevante quanto sempre. Encontre-o nas plataformas digitais, sente-se e prepare-se para ser tocado. Permita que a jornada de Jonathan Hickory inspire você a quebrar suas próprias correntes.




