Rambo: Programado Para Matar

Rambo: Programado para Matar – Um Clássico de Ação Que Continua a Assombrar

Em 19/09/2025, olhando para trás para o lançamento de Rambo: Programado para Matar em 1982, não consigo deixar de sentir um arrepio. Mais do que um filme de ação, este longa-metragem de Ted Kotcheff é uma cápsula do tempo, um retrato visceral da desilusão pós-Vietnã e um estudo de caso fascinante sobre a construção de um anti-herói icônico. A sinopse, sem spoilers, é simples: John Rambo, um veterano de guerra atormentado, é assediado e preso por autoridades locais, desencadeando uma luta pela sobrevivência brutal e implacável contra um sistema que o rejeita.

A direção de Kotcheff é brutalmente eficiente. Ele se apoia na atmosfera claustrofóbica das pequenas cidades americanas, contrastando-a com a vastidão implacável das montanhas, criando uma tensão palpável que nos acompanha do início ao fim. A fotografia, cinematografia implacável, ressalta a solidão e o desespero de Rambo, transmitindo com maestria a sua violência física e emocional. A fotografia escura e granulada reforça a atmosfera tensa, tornando o filme visualmente marcante e lembrando aos espectadores a dura realidade da Guerra do Vietnã.

O roteiro, fruto da colaboração de Michael Kozoll, William Sackheim e o próprio Sylvester Stallone, é, surpreendentemente, nuançado. Embora a ação seja o prato principal, o filme explora temas complexos como o PTSD, a desumanização do veterano de guerra e a violência estatal. A construção do personagem de Rambo, inicialmente interpretado como um simples vagabundo, evolui gradualmente para uma figura quase mítica, um símbolo de resistência contra um sistema opressor, com todas as ambiguidades morais que isto implica.

E Stallone? O próprio Rambo. Ele encarna o personagem com uma força bruta e uma vulnerabilidade contida que, em 1982, era algo revolucionário. Não é apenas uma demonstração física, mas uma interpretação profunda de um homem quebrado, procurando por redenção em um cenário que lhe nega qualquer forma de paz. O elenco de apoio, com destaques para Richard Crenna como o Coronel Trautman e Brian Dennehy como o Sheriff Teasle, também entrega performances sólidas, adicionando peso dramático à narrativa. Eles não são meros vilões; são homens presos a um sistema, representando diferentes faces do conflito central.

Um dos pontos fortes do filme é a sua construção de tensão. A escalada da violência, a partir de uma simples prisão injusta, é graduativa e convincente. O público é levado a questionar quem é realmente o agressor, quem está certo e quem está errado, e, mais importante, quais os custos de cada decisão.

O filme, porém, não é perfeito. Alguns podem argumentar que a violência é excessiva, e certamente é. Mas essa violência não é gratuita; ela serve para retratar a espiral de violência em que Rambo é arrastado e, mais importante, para mostrar o impacto psicológico da guerra no protagonista. A representação um tanto simplista de alguns personagens secundários também pode ser vista como uma limitação.

Rambo: Programado para Matar não é apenas um filme de ação; é um comentário social potente, embora muitas vezes implícito, sobre as consequências da guerra e a falha da sociedade em integrar seus veteranos. É uma obra que continua relevante em 2025, talvez até mais do que em 1982, devido à persistência dos traumas de guerra e às tensões sociais que ela retrata.

Recomendo fortemente este filme a qualquer pessoa interessada em cinema de ação de qualidade, mas também a todos aqueles que apreciam filmes com profundidade temática, mesmo que expressa de maneira implícita e muitas vezes violenta. É um clássico que, mesmo em plataformas de streaming, continua a ressoar com força, a provocar e a desafiar. É um filme que não se esquece e que, francamente, não vai deixar você se esquecer dele tão cedo.