Rastro Mortal: Uma Caçada Esquecível em Terras Italianas
Ah, filmes de vingança. Um subgênero que, para muitos de nós, críticos e espectadores casuais, é quase um consolo. Há algo catártico em ver a justiça (ou uma versão bem distorcida dela) ser servida por mãos próprias, especialmente quando o protagonista sofreu uma perda indizível. E quando um ícone do cinema de ação como Dolph Lundgren está no centro dessa espiral de retribuição, a expectativa, mesmo que mínima, sempre se acende. Foi com essa faísca que me deparei com Rastro Mortal, conhecido originalmente como “The Tracker”, um longa-metragem de 2019 que chegou às plataformas digitais brasileiras em 2 de fevereiro de 2022.
Hoje é 16 de setembro de 2025, e revisitar as notas que fiz para Rastro Mortal é quase como desenterrar uma memória que o meu subconsciente, em sua infinita sabedoria, decidiu arquivar na gaveta mais profunda e empoeirada. Não que seja um filme intrinsecamente ruim no sentido de ser ofensivo à inteligência, mas, para usar uma expressão que capta bem o seu espírito, ele é… esquecível. E essa, meus caros, é talvez a crítica mais mordaz que se pode fazer a uma obra cinematográfica.
A Dor de Aiden: O Ponto de Partida
Atributo | Detalhe |
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Diretor | Giorgio Serafini |
Roteiristas | Rab Berry, Giorgio Serafini, Scott Mallace |
Elenco Principal | Dolph Lundgren, Marta Gastini, Cosimo Fusco, Anna Falchi, Marco Mazzoli |
Gênero | Ação |
Ano de Lançamento | 2019 |
O enredo de Rastro Mortal é um velho conhecido, mas que ainda tem potencial para prender o espectador, se bem executado. Conhecemos Aiden Hakansson, interpretado por Dolph Lundgren, um homem cuja vida foi estraçalhada por uma tragédia inimaginável. Quinze anos antes dos eventos centrais do filme, sua esposa e filha foram brutalmente sequestradas e mortas por uma gangue de criminosos durante uma viagem por uma vila pitoresca na Itália. A dor, a impotência, a raiva – esses sentimentos fermentaram por uma década e meia, transformando Aiden em um homem consumido pela sede de vingança. Ele então retorna ao vilarejo, um lugar que deveria ser de paz, mas que para ele representa apenas o palco de sua maior perda, determinado a caçar um por um os responsáveis por seu sofrimento.
É um conceito clássico de ação, com um tempero de drama pessoal que promete uma jornada sombria e visceral. E, em teoria, Lundgren, com sua presença imponente e sua história em papéis similares, parece o ator perfeito para essa empreitada.
Por Trás das Câmeras: Promessas e Realidade
A direção de Giorgio Serafini, que também colaborou no roteiro ao lado de Rab Berry e Scott Mallace, tenta empregar uma atmosfera melancólica, com a beleza rústica da Itália servindo como um contraste irônico à violência que se desenrola. Há momentos em que Serafini acerta na construção visual, especialmente nas paisagens que, por si só, poderiam contar uma história. No entanto, a execução geral da narrativa peca pela falta de originalidade e de um ritmo que realmente engaje. O roteiro, por sua vez, caminha por trilhas seguras, quase protocoladas. Os diálogos são funcionais, mas raramente brilham, e as reviravoltas, quando existem, são previsíveis. É como se os roteiristas tivessem um checklist de elementos de filmes de vingança e o preenchessem sem se arriscar a ir além do básico.
Os Rostos na Tela: Entre a Seriedade e o Morno
Dolph Lundgren como Aiden Hakansson é, sem surpresas, o coração do filme. Ele traz sua seriedade habitual e uma fisicalidade que ainda impressiona para seus 67 anos (sim, Lundgren, você ainda está em forma!). No entanto, há momentos em que sua performance flerta com o que um colega crítico chamou de “half-assed acting”. Não que ele não tente, mas o roteiro não oferece profundidade suficiente para que Aiden seja mais do que o clichê do homem torturado em busca de retribuição. Lundgren cumpre seu papel, entregando as sequências de ação com a competência esperada, mas raramente conseguimos sentir a verdadeira dor ou a complexidade moral que deveriam permear seu personagem.
O elenco de apoio tem seus momentos. Marta Gastini, como Giada, tenta adicionar uma camada humana e uma ponta de esperança à narrativa, mas seu papel é subdesenvolvido. Cosimo Fusco, como Giordano, e Marco Mazzoli, como Antonio Graziani, cumprem seus papéis como vilões, mas não são particularmente memoráveis ou ameaçadores. Anna Falchi, como Hanna, tem uma participação menor, mas adiciona um toque de charme e mistério. O problema não é necessariamente a falta de talento, mas sim um roteiro que não lhes dá espaço para respirar ou desenvolver seus personagens além de suas funções primárias na trama.
Temas e Mensagens: Vingança e Vazios
Os temas centrais de Rastro Mortal são inegavelmente a vingança, o luto e a busca por alguma forma de justiça. Aiden é um retrato vivo de como a perda pode consumir uma alma, transformando-a em um instrumento de punição. O filme toca na ideia de que a vingança pode ser um ciclo sem fim, mas não aprofunda essa reflexão com a força necessária. O que fica, ao invés de uma meditação sobre a natureza da retribuição, é mais uma sucessão de confrontos. A mensagem, se é que existe uma clara, é um eco fraco de outros filmes que exploraram esses temas com muito mais vigor e originalidade.
Luzes e Sombras: Um Equilíbrio Frágil
Os pontos fortes de Rastro Mortal residem principalmente nas cenas de ação. Sim, são poucas, mas, quando acontecem, são competentes. Lundgren ainda sabe como manejar uma arma e distribuir socos com convicção. A cinematografia das paisagens italianas também é um trunfo, adicionando um toque visual agradável, ainda que subutilizado.
Contudo, os pontos fracos são mais numerosos e pesados. A trama é genérica, os personagens são superficiais e o ritmo é inconsistente. O filme se arrasta em alguns momentos, tornando a experiência um tanto árdua. E, como já mencionei, o pecado capital: a falta de impacto duradouro. A sensação que prevalece após a sessão é de ter assistido a um “thriller descartável”, daqueles que “rapidamente terminam na caixa de ofertas”. Não há uma cena, uma fala ou uma performance que se crave na memória.
Veredito Final: Para Quem o Rastro Leva?
Rastro Mortal é um filme que serve a um propósito muito específico: preencher um espaço na grade de programação de alguma plataforma de streaming ou satisfazer a curiosidade de fãs incondicionais de Dolph Lundgren que precisam ver tudo o que ele faz. Se você é um entusiasta do cinema de ação mais direto, sem grandes pretensões narrativas, e está em busca de algo para passar o tempo em uma tarde chuvosa sem exigir muito do seu cérebro, então talvez Rastro Mortal possa oferecer alguns momentos de distração.
No entanto, se você busca um filme de vingança com profundidade, personagens bem desenvolvidos, reviravoltas impactantes ou um Lundgren em seu auge dramático, este longa-metragem provavelmente o deixará com a mesma sensação que tive: a de que assisti a um filme que, assim que os créditos sobem, começa a se desvanecer da memória, como um rastro na areia que o mar apaga com a próxima onda.
Minha Recomendação: 2 de 5 estrelas. Um filme assistível, mas completamente dispensável. Há rastros muito mais interessantes para seguir.