Reaper: Um passeio sangrento pela zona cinzenta da moralidade
Onze anos se passaram desde que Reaper chegou às plataformas digitais em 2014, e a verdade é que o filme de Wen-Han Shih ainda me persegue. Não pela qualidade excepcional – embora tenha seus méritos -, mas pela sua inquietante capacidade de mexer com a minha zona de conforto moral, deixando um gosto amargo, mas fascinante, na boca. É um filme sujo, visceral, que não se preocupa em agradar, e talvez seja justamente aí que reside sua singularidade.
A trama acompanha Natalie, uma jovem mochileira que se encontra em uma cidade isolada e sinistra, palco de uma série de assassinatos brutais cometidos por um misterioso assassino conhecido apenas como Reaper. Encurralada e sem saída, Natalie se vê obrigada a aliar-se a um grupo de indivíduos duvidosos, liderados pelo carismático (e ameaçador) Jack, interpretado por um Danny Trejo em plena forma. Juntos, eles precisam navegar um terreno traiçoeiro de traições, segredos obscuros e muito, mas muito sangue, para sobreviver e confrontar o assassino.
Shih, na direção, opta por uma estética crua, que abraça a atmosfera claustrofóbica da cidade e a decadência moral de seus habitantes. A fotografia escura e a trilha sonora tensa constroem uma atmosfera de suspense palpável, que, apesar de algumas escolhas estilísticas questionáveis em termos de iluminação, contribui efetivamente para a experiência geral. O roteiro, assinado por James Jurdi e Mark James, não é exatamente brilhante em termos de originalidade, mas compensa com diálogos contundentes e uma construção de personagens que, apesar de estereotipados, funcionam dentro do contexto do filme.
As atuações, por sua vez, são um ponto alto. Danny Trejo, como sempre, entrega uma performance magnética, impondo sua presença sem precisar de muitos diálogos. Vinnie Jones acrescenta uma camada de brutalidade crua e Jake Busey, como de costume, interpreta o seu papel com uma estranha e hipnótica ambiguidade. Shayla Beesley, como Natalie, é crível na sua jornada de inocência ao terror, enquanto James Jurdi, também roteirista do filme, adiciona uma camada de complexidade ao seu personagem.
| Atributo | Detalhe |
|---|---|
| Diretor | Wen-Han Shih |
| Roteiristas | James Jurdi, Mark James |
| Produtores | Frederick Cipoletti, James Jurdi, Naji Jurdi, Alejandro Salomon |
| Elenco Principal | Danny Trejo, Vinnie Jones, Jake Busey, Shayla Beesley, James Jurdi |
| Gênero | Ficção científica, Crime, Terror |
| Ano de Lançamento | 2014 |
| Produtoras | Helios Productions, Mythmaker Productions |
Mas Reaper não é perfeito. O roteiro peca por alguns desvios narrativos inexplicáveis e a transição entre o suspense psicológico e o slasher, embora tente equilibrar ambos, nem sempre é suave. Há momentos em que o filme se perde em sua própria violência gratuita, perdendo o foco na construção do suspense. E, sim, alguns efeitos especiais demonstram a sua idade.
Apesar de seus defeitos, Reaper consegue transcender o subgênero de terror slasher. A força do filme reside na exploração da moralidade cinzenta, onde a linha entre mocinhos e vilões fica nebulosa. A sedução, a traição, a redenção, o pecado e a punição são temas intrincados que se entrelaçam ao longo da narrativa, culminando em um final que, sem revelar muito, te deixa refletindo em suas múltiplas interpretações. A exploração da psique humana, com seus desejos reprimidos e suas consequências brutais, é o que realmente torna Reaper memorável.
Recomendo Reaper para aqueles que buscam um filme de terror que não se leva muito a sério, mas ainda assim consegue provocar uma reflexão sobre a natureza humana. Se você é fã de filmes que abraçam a estética do sujo, do visceral, com um elenco forte e uma atmosfera densa, este filme é para você. Entretanto, se você espera um terror elegante e politicamente correto, talvez seja melhor procurar em outro lugar. Reaper é uma experiência, e como toda experiência, pode ser desconcertante, mas definitivamente memorável.




