Sabe, tem filmes que a gente assiste e, mesmo anos depois, eles continuam a reverberar dentro da gente. Não como um eco distante, mas como uma canção que se recusa a ser esquecida, porque a sua melodia, por mais dolorosa que seja, carrega uma verdade universal. É assim que eu me sinto ao revisitar Reefa: O Artista, lançado lá em 2021, mas que, acredite, se mantém tão pungente e necessário em 2025 quanto no dia em que chegou às telas.
Quando me sentei para assistir, o que me atraiu foi a promessa de uma história sobre arte de rua, um jovem prodígio e a vibração de Miami. E o filme entrega tudo isso, e muito mais. Jessica Kavana Dornbusch, que assina a direção e o roteiro, nos convida a entrar na vida de Israel ‘Reefa’ Hernandez (interpretado com uma alma inegável por Tyler Dean Flores), um jovem imigrante colombiano com um talento que transcende os muros cinzentos da cidade. Reefa não apenas pinta; ele respira arte. Suas mãos não seguram meramente latas de spray; elas dançam, transformando superfícies em explosões de cor e significado. É um coming of age que te puxa para perto, fazendo você torcer por cada sonho e risada dele.
A câmera de Dornbusch nos leva a um verão em Miami que, à primeira vista, parece ser a epítome da liberdade e das novas possibilidades. Vemos Reefa se reconectar com sua família – a irmã Offir (Cinthya Carmona, que traz uma dignidade silenciosa ao papel) e o pai Israel Sr. (José Zúñiga, com uma profundidade que só a experiência de vida pode conferir) – e florescer em um novo amor com Frankie (Clara McGregor, cuja química com Flores é palpável). Há uma beleza quase etérea nessas cenas: o sol da Flórida banhando os rostos, as conversas banais que constroem laços, a descoberta de um futuro que parece vasto e sem limites. A arte de Reefa, que pulsa em cada cena, não é só um hobby; é a sua voz, a sua identidade, o seu passaporte para um mundo de reconhecimento e expressão. Ele é um artista premiado, com um caminho brilhante à frente. Você sente o otimismo, a energia juvenil, a efervescência de uma vida que está apenas começando a se desenrolar em todo o seu potencial.
Mas, como a vida real muitas vezes insiste em nos lembrar, a beleza pode ser frágil, e a promessa de um futuro pode ser abruptamente roubada. Reefa: O Artista se baseia em uma história real, e é aqui que o filme transita da leveza e do calor para uma frieza cortante, um soco no estômago que te deixa sem ar. Esse verão atípico, cheio de promessas e paixão, é brutalmente interrompido por um encontro fatal que escancara a chaga da brutalidade policial. É um momento de virada que não apenas muda a narrativa do filme, mas dilacera a alma de quem assiste.
| Atributo | Detalhe |
|---|---|
| Diretor | Jessica Kavana Dornbusch |
| Roteirista | Jessica Kavana Dornbusch |
| Produtores | Jessica Kavana Dornbusch, Alejandro Suaya, George Perez |
| Elenco Principal | Tyler Dean Flores, Clara McGregor, Cinthya Carmona, George Sear, José Zúñiga |
| Gênero | Drama |
| Ano de Lançamento | 2021 |
A forma como Dornbusch lida com essa transição é o que distingue o filme. Ela não glamoriza a violência, nem a usa como um mero artifício de choque. Em vez disso, ela nos mostra as reverberações, o efeito dominó da dor em cada membro da família, a devastação que um único ato de injustiça pode causar. O que era uma celebração da vida e da arte se transforma em um lamento, um grito por justiça e compreensão. Você vê não apenas a perda de um jovem talentoso, mas a fratura de uma comunidade, a lembrança dolorosa de que para muitos, especialmente para imigrantes, o sonho americano pode se tornar um pesadelo sem aviso.
A produção de Jessica Kavana Dornbusch, Alejandro Suaya e George Perez consegue encapsular essa dualidade: a luz e a sombra que coexistem na experiência humana e na sociedade. Não é um filme “preto e branco”, onde os vilões são puramente maus e os heróis intocáveis. Há uma nuance, uma complexidade nos personagens e nas situações que nos força a confrontar verdades desconfortáveis sobre o sistema e sobre nós mesmos. Você se pergunta: como a esperança pode sobreviver diante de tamanha arbitrariedade?
Reefa: O Artista é mais do que um drama; é um espelho. É um convite para sentir, para questionar, para lembrar que por trás de cada manchete, de cada estatística, existe uma vida, um talento, uma família desfeita. E, mesmo em 2025, essa é uma mensagem que não podemos, e não devemos, ignorar. Porque a arte, assim como a vida de Reefa, tem o poder de nos marcar, de nos transformar, e de nos impulsionar a buscar um mundo onde a beleza da expressão não seja silenciada pela brutalidade da injustiça. É um filme que me tocou profundamente e que, aposto, tocará você também.




