Refém da Verdade

Pôster: Faces asiáticas, com um homem central segurando uma peça de quebra-cabeça no olho. Peças cobrem roupas e o fundo escuro. Clima misterioso.

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Sabe, eu tenho uma fixação curiosa por histórias que nos forçam a questionar o que aceitamos como verdade. Na nossa era digital, onde a informação voa mais rápido que um raio e a distinção entre fato e espetáculo é uma linha borrada, filmes que mergulham nessa névoa ressoam comigo de um jeito especial. E é exatamente por isso que, mesmo passados alguns anos desde seu lançamento em 2022, Refém da Verdade (Hostage of the Truth) continua a ecoar na minha mente, um mistério que desvenda não só uma trama intricada, mas também a fragilidade da nossa percepção.

Lembro-me de ter pego esse filme quase por acaso, atraído pela premissa: um comentarista de TV que se vê refém de um ex-atleta, agora presidiário. Parece uma configuração padrão para um thriller de sequestro, não é? Mas o que me fisgou de verdade foi a virada na sinopse: o tal comentarista, Liu Li-min, percebe nisso uma chance de alavancar sua carreira e decide jogar junto com o sequestrador. Aí, meu amigo, a bússola moral começa a girar loucamente, e a gente já sente que não vai ser uma jornada simples de mocinho e bandido.

A performance de 張孝全 como Liu Li-min é o coração desse turbilhão ético. Ele não é um herói, nem um vilão caricato. É um homem, com a pele oleosa da ambição e o suor frio do desespero profissional escorrendo. Vemos nos seus olhos, ora calculistas, ora tomados pelo pânico, a dança entre o oportunismo e o medo genuíino. A forma como ele manipula a situação, as câmeras, e até a si mesmo para criar uma narrativa que lhe favoreça é quase um estudo de caso sobre a auto-enganação. Você se pega pensando: “Eu faria isso? Até que ponto a busca por relevância justifica cruzar certas linhas?” E é essa inquietação que 張孝全 evoca, sem precisar de grandes discursos. Ele te mostra a luta, o dilema em cada respiração forçada.

Do outro lado da corda, ou melhor, da faca, está Zhang Zheng-Yi, interpretado por 陳昊森. Ele é o ex-atleta, agora o presidiário que, paradoxalmente, parece ser o catalisador da verdade. 陳昊森 entrega uma atuação que começa como uma figura unidimensional de raiva e ressentimento, mas lentamente se revela como camadas de mágoa, injustiça e uma determinação gélida. A beleza da construção do personagem está em como o filme desmantela nossas preconceções sobre ele. Primeiro, ele é o “monstro”. Depois, à medida que a narrativa se desenrola, você se pergunta se o verdadeiro monstro não está se escondendo à vista de todos, talvez até mesmo dentro de Liu Li-min.

AtributoDetalhe
Diretor陳奕甫
RoteiristasYen-Chiao Huang, Nai-Ching Yeh
ProdutoresCody Huang, Shih Ken Lin
Elenco Principal張孝全, 陳昊森, 方郁婷, 鍾瑤, 謝章穎
GêneroCrime, Mistério, Drama
Ano de Lançamento2022
ProdutoraBole Film

O diretor 陳奕甫, em colaboração com os roteiristas Yen-Chiao Huang e Nai-Ching Yeh, orquestra essa dança de gato e rato com uma precisão cirúrgica. Eles não te entregam a verdade de bandeja. Não, eles a constroem peça por peça, como um quebra-cabeça que se revela macabro demais para ser apenas ficção. O roteiro é astuto, subvertendo expectativas a cada virada de esquina. Quando você pensa que entendeu a motivação de alguém, um novo detalhe surge, mudando a paisagem inteira da sua percepção. É o tipo de narrativa que te obriga a duvidar de tudo, a olhar para as entrelinhas e a questionar os próprios narradores da história — inclusive a mídia que consome.

E essa é uma das grandes forças de Refém da Verdade: sua capacidade de ir além do crime e mistério, mergulhando fundo no drama humano e, em especial, na crítica à sociedade do espetáculo. A presença da filha de Liu Li-min, Liu Zhen-zhen (方郁婷), e da jornalista Hsu Ya-Jing (鍾瑤), juntamente com Zeng Jing-An (謝章穎), não são meros adornos. Elas representam os elos que conectam o caos da cena do crime às ramificações pessoais, à busca desesperada pela verdade ou, por vezes, pela versão mais conveniente dela. A atuação de 方郁婷, por exemplo, traz uma inocência que realça a escuridão ao redor, um lembrete pungente de que as consequências das ações dos adultos reverberam muito além dos holofotes.

A produção da Bole Film, com Cody Huang e Shih Ken Lin na liderança, criou um ambiente que é tenso e claustrofóbico, mesmo quando a história se abre para a complexidade. A cinematografia muitas vezes se inclina para close-ups, capturando a microexpressão, o tique nervoso que denuncia uma mentira ou um medo oculto. O ritmo não é frenético o tempo todo; ele sabe quando desacelerar, permitindo que o silêncio e a quietude falem tão alto quanto qualquer explosão.

Ao final, Refém da Verdade não é apenas um filme sobre um sequestro. É um espelho, incômodo e brilhante, que nos mostra como a verdade pode ser uma refém, não de um criminoso, mas das nossas próprias ambições, da nossa sede por narrativas e da nossa facilidade em acreditar no que é mais conveniente ou dramático. Ele nos deixa com um gosto amargo, mas necessário, de reflexão. E para mim, um filme que te acompanha muito tempo depois dos créditos rolarem, que te faz pensar e questionar, esse, sim, é um filme que cumpriu seu propósito com paixão e inteligência. E que bom que eu o encontrei.

Trailer

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