Rogai por Nós: Um Milagre de Terror ou Uma Decepção Divina?
Quatro anos se passaram desde que Rogai por Nós chegou aos cinemas brasileiros em 20 de maio de 2021, e até hoje sua memória me assombra, não pela qualidade intrínseca, mas pela promessa não cumprida. O filme, dirigido e escrito por Evan Spiliotopoulos, com a produção de peso de Sam Raimi, prometia um terror religioso visceral, um mergulho nos abismos da fé e da dúvida, embalado por um mistério intrigante. E, em parte, entrega isso, mas com uma incoerência que me deixa até hoje intrigado.
A sinopse é simples: Alice, uma jovem surda, aparentemente recebe a visita da Virgem Maria e ganha a capacidade de ouvir, falar e curar. A pequena cidade da Nova Inglaterra se transforma em um palco de milagres, atraindo peregrinos e a atenção de Gerry Fenn, um jornalista em busca de redenção profissional. A partir daí, a linha tênue entre o divino e o demoníaco começa a se esvair, e eventos aterradores colocam em xeque a natureza dos “milagres” de Alice.
A direção de Spiliotopoulos, apesar de competente na construção de atmosfera, peca pela falta de coesão. Há momentos de verdadeira tensão, imagens impactantes que evocam o melhor do horror religioso, mas eles se perdem em meio a uma narrativa confusa, que não sabe exatamente para onde quer ir. O roteiro, também de Spiliotopoulos, sofre do mesmo mal: ideias promissoras são lançadas sem o devido desenvolvimento, personagens são pouco explorados, e o mistério central, ao invés de prender, acaba frustrando. A ambiguidade, tão bem-vinda no terror psicológico, aqui se transforma em nebulosidade, deixando o espectador perdido em um mar de possibilidades sem ancoragem.
Atributo | Detalhe |
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Diretor | Evan Spiliotopoulos |
Roteirista | Evan Spiliotopoulos |
Produtores | Evan Spiliotopoulos, Sam Raimi, Robert Tapert |
Elenco Principal | Jeffrey Dean Morgan, Cricket Brown, William Sadler, Katie Aselton, Cary Elwes |
Gênero | Terror, Mistério |
Ano de Lançamento | 2021 |
Produtoras | Ghost House Pictures, Screen Gems |
As atuações são um ponto mais positivo. Jeffrey Dean Morgan, como o jornalista cético, entrega uma performance sólida, transmitindo bem a ambivalência do seu personagem. Cricket Brown, como Alice, consegue transmitir a fragilidade e a força da protagonista, apesar do pouco espaço para a complexidade que o roteiro permite. O restante do elenco cumpre o seu papel com profissionalismo.
Apesar de seu elenco talentoso e da promessa inicial de um filme impactante, Rogai por Nós acaba se revelando uma experiência frustrante. A atmosfera soturna e a exploração de temas como fé, ceticismo e o poder da crença são seus maiores trunfos. Por outro lado, a narrativa fragmentada, o roteiro mal desenvolvido e a falta de um clímax satisfatório comprometem severamente o resultado final. Lembro-me de ter lido críticas na época do lançamento que espelhavam meu próprio sentimento de decepção: a sensação de que o trailer havia exibido o melhor do filme, deixando uma obra morna e sem impacto real.
O filme tentou abraçar diversas temáticas complexas, porém, sem mergulhar profundamente em nenhuma delas. O resultado final é um cocktail de mistério, terror e drama religioso que, embora tenha seus momentos, não consegue se sustentar, gerando uma experiência irregular e, em grande parte, decepcionante. A ambição, em si, não é um defeito, mas a execução falha em entregar a promessa audaciosa inicial.
Minha recomendação? Se você aprecia filmes de terror com uma temática religiosa, com momentos de suspense e sustos, talvez encontre algo a apreciar em Rogai por Nós. Porém, não espere uma obra-prima. Prepare-se para uma experiência irregular, com momentos brilhantes perdidos em um mar de potencial desperdiçado. Para mim, infelizmente, o milagre não aconteceu. A experiência se resume a um sentimento de melancolia, pela promessa não cumprida, uma oportunidade perdida de um filme verdadeiramente memorável.