Rosalina: Quando a Tragédia Clássica Encontra o Sarcasmo Moderno
Ah, Romeu e Julieta. Quantas vezes já revisitamos essa história? Inúmeras. De adaptações ultra-fiéis a versões contemporâneas que pouco guardam do original, o romance trágico de Shakespeare já foi dissecado de todas as formas imagináveis. Ou assim pensávamos. Porque em 2022, um filme chamado Rosalina chegou para provar que ainda havia uma perspectiva a ser explorada: a daquela que, por pouco, não foi a heroína. A prima preterida, a paixão pregressa, a personagem à margem que agora ganha os holofotes. E, para a nossa sorte, ela tem muito a dizer.
Lançado em 14 de outubro de 2022 nas plataformas digitais, Rosalina pode não ser o título mais recente em um cenário de lançamentos incessantes, mas é, sem dúvida, um daqueles que merecem ser descobertos (ou redescobertos). É um sopro de ar fresco em meio à formalidade de Verona, uma “dramédia” espirituosa que pega a essência do amor juvenil e a vira de cabeça para baixo, nos presenteando com uma catarse agridoce.
A Premissa: Uma História Familiar, um Olhar Desconhecido
A sinopse já nos entrega a genialidade da ideia: uma nova e cômica reviravolta na clássica história de amor de Shakespeare. “Romeu e Julieta”, contada da perspectiva de Rosalina, a prima de Julieta e, convenhamos, o interesse amoroso mais recente de Romeu antes que ele cruzasse o caminho de sua prima. É um triângulo amoroso que todos conhecíamos, mas do qual nunca havíamos ouvido a versão da ponta rejeitada. Quando Romeu, com seu coração efêmero, encontra Julieta e mergulha de cabeça no romance proibido, Rosalina fica com o coração partido, e é aí que a verdadeira comédia (e drama) começa. Ela, é claro, planeja frustrar o famoso romance e, quem sabe, reconquistar seu “namorado” que mal havia tido tempo de ser seu.
Atributo | Detalhe |
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Diretora | Karen Maine |
Roteiristas | Michael H. Weber, Scott Neustadter |
Produtores | Shawn Levy, Dan Cohen, Dan Levine |
Elenco Principal | Kaitlyn Dever, Isabela Merced, Kyle Allen, Sean Teale, Christopher McDonald |
Gênero | Romance, Drama, Comédia |
Ano de Lançamento | 2022 |
Produtoras | 21 Laps Entertainment, 20th Century Studios |
É um conceito brilhante que explora não apenas o “love triangle”, mas também as nuances de um relacionamento de “cousin relationship” e a dolorosa transição de uma “boyfriend girlfriend relationship” que nunca floresceu. O filme abraça o gênero de “dramedy” com paixão, navegando entre momentos hilários e toques de melancolia.
Direção, Roteiro e Atuações: O Trio Que Sustenta a Brincadeira
A direção de Karen Maine é assertiva ao equilibrar a reverência pelo material-fonte com uma irreverência bem-vinda. Ela entende que o charme do filme reside em sua capacidade de rir da grandiosidade shakespeariana sem desrespeitá-la. O ritmo é ágil, e a estética de “Verona Italy” é capturada com um toque moderno que se alinha perfeitamente à visão do filme.
No entanto, é o roteiro de Michael H. Weber e Scott Neustadter que realmente brilha. Eles são mestres em diálogo sarcástico e na construção de personagens que, mesmo em um contexto histórico, soam incrivelmente relacionáveis. A adaptação, baseada em um livro, mantém a estrutura original da história de Romeu e Julieta, mas infunde cada cena com a amargura cômica de Rosalina. Eles pegam um dos elementos mais subutilizados da obra de Shakespeare – a existência de Rosalina – e a transformam no centro de tudo, entregando uma narrativa que é inteligente e surpreendentemente tocante.
E o elenco? Ah, o elenco é um espetáculo à parte. Kaitlyn Dever é a estrela incontestável aqui. Sua Rosaline é uma “spinster” (no sentido shakespeariano, é claro, de mulher solteira) que exala uma mistura perfeita de sarcasmo, vulnerabilidade e determinação. Ela carrega o filme nas costas com uma performance magnética, entregando tiradas rápidas e momentos de genuína dor com igual maestria. É impossível não torcer por ela, mesmo sabendo o desfecho “oficial” da história de Romeu e Julieta.
Isabela Merced como Juliet traz uma doçura ingênua, mas com um brilho próprio que a impede de ser apenas uma donzela em apuros. Kyle Allen como Romeo é o perfeito espelho da paixão juvenil volúvel – um pouco bobo, um pouco charmoso, mas sempre com o coração em sua manga (ou nos olhos da última garota que ele viu). Sean Teale, como Dario, adiciona um contraponto interessante à dinâmica, e Christopher McDonald como Lord Capulet é um alívio cômico consistente, contribuindo para a energia vibrante do filme.
Pontos Fortes e Fracos: A Delicada Balança de uma Dramédia
Entre os pontos fortes, destaco a originalidade da premissa, que é executada com uma inteligência notável. A performance de Kaitlyn Dever é um tour de force, elevando o material a outro patamar. O roteiro é afiado, os diálogos são um deleite e a capacidade do filme de arrancar risadas genuínas enquanto explora a dor do coração partido é admirável. A “duringcreditsstinger” (cena pós-créditos) é um toque divertido que solidifica o tom leve e despretensioso da obra.
Quanto aos pontos fracos, eles são poucos e, em grande parte, perdoáveis. Talvez em alguns momentos, a tentativa de equilibrar a comédia e o drama possa pender um pouco demais para um lado, fazendo com que certos elementos dramáticos não ressoem tão profundamente quanto poderiam. A previsibilidade de alguns arcos, dado que é uma paródia de uma história conhecida, pode ser um pequeno entrave para quem busca reviravoltas genuínas, mas o charme está na jornada, não no destino.
Temas e Mensagens: Encontrando o Próprio Caminho em Meio ao Caos
Além da óbvia comédia romântica, Rosalina toca em temas universais como a inveja, a superação do primeiro amor e a descoberta da própria identidade. É uma história sobre ser a coadjuvante na vida de outra pessoa e, eventualmente, encontrar sua própria voz e seu próprio final feliz – ou, ao menos, um final que faça sentido para você. Rosalina é uma protagonista que se recusa a ser apenas uma nota de rodapé na história de amor mais famosa de todos os tempos. É um lembrete de que nem todo mundo precisa de um Romeu para ter sua própria narrativa épica.
O Veredito Final: Vale a Pena Mergulhar em Verona?
Absolutamente. Rosalina é um filme deliciosamente sagaz, espirituoso e surpreendentemente charmoso. É a pedida perfeita para quem busca uma comédia romântica que foge do clichê, oferecendo uma perspectiva fresca e inteligente sobre um clássico exaustivamente contado.
Se você está cansado das mesmas histórias de amor e busca algo com um toque de sarcasmo e um coração genuíno, este longa-metragem de 2022 é uma joia a ser descoberta. Não é apenas uma paródia; é uma homenagem afetuosa que se permite subverter expectativas. Prepare-se para rir, talvez para sentir um pequeno aperto no coração, e certamente para se encantar com a resiliência de uma mulher que se recusa a ser esquecida. Minha recomendação é clara: dê uma chance a Rosalina. Você não irá se arrepender de passar um tempo em sua companhia.