Rosario

A volta para casa, mesmo que para um lar que já não é mais o seu, sempre carrega um peso estranho, não é? É como desenterrar memórias que a gente pensava que estavam bem guardadas, ou até mesmo esquecidas. E é exatamente essa sensação, essa mistura de nostalgia com um frio na espinha, que me puxou para Rosario, o mais recente mergulho no terror psicológico dirigido por Felipe Vargas e roteirizado por Alan Trezza. O filme, que chegou às telas brasileiras em 28 de agosto, prometia nos assombrar com uma trama de maldição geracional e segredos de família. E, olha, às vezes, o que a gente encontra é muito mais denso do que a gente espera.

Imagina só a cena: Rosario (uma Emeraude Toubia que se entrega à personagem com uma vulnerabilidade palpável), uma empresária de sucesso, recebe a notícia da morte da avó. É um gatilho, um convite forçado para revisitar o antigo apartamento da família. Mas a vida tem dessas de nos pregar peças, e uma nevasca daquelas a prende no local. Aí, meu amigo, o palco está montado. Cercada por um silêncio que grita e vizinhos que parecem ter saído de um pesadelo coletivo – como o Joe de David Dastmalchian, que sempre consegue ser memorável mesmo em poucos segundos de tela, ou o Oscar Fuentes de José Zúñiga, que exala uma espécie de melancolia ameaçadora –, Rosario logo sente que tem algo errado ali. Algo antigo, maligno e, para piorar, familiar.

A sinopse não mente: é sobre uma maldição, uma que atravessa gerações, sabe-se lá desde quando, e que obriga nossa protagonista a escavar os escombros da própria linhagem para não perder a alma. É uma premissa que me cativa no horror. Não é o susto fácil, mas a ideia de que o mal pode estar no nosso próprio sangue, nas escolhas de quem veio antes da gente, que me faz parar e pensar. E é aí que o filme tenta se aprofundar, explorando temas como o ocultismo e, sim, até mesmo a vulnerabilidade de comunidades em construções antigas, que muitas vezes guardam mais do que apenas poeira. A menção a “illegal immigration” nas palavras-chave, por exemplo, me faz pensar em como o isolamento e a desconfiança podem ser um prato cheio para que entidades ancestrais floresçam, ou para que segredos sujos permaneçam enterrados, somando camadas de tensão social à sobrenatural.

Para mim, o coração de Rosario está nessa exploração do peso do passado. Como uma herança de família pode ser mais do que um imóvel, pode ser um fardo espiritual. A atuação de Emeraude Toubia é o fio condutor, e ela consegue nos guiar por essa jornada de crescente paranoia. Ela não é a mocinha histérica de filme de terror, mas alguém que, apesar do choque e do medo, tenta entender, tenta lutar. E os coadjuvantes, como Diana Lein, que interpreta Elena/Kobayende, dão o tom de que há algo muito mais tribal e profundo em jogo, que se recusa a ser esquecido.

AtributoDetalhe
DiretorFelipe Vargas
RoteiristaAlan Trezza
ProdutoresJon Silk, Javier Chapa, Phillip Braun
Elenco PrincipalEmeraude Toubia, José Zúñiga, David Dastmalchian, Paul Ben-Victor, Diana Lein, Emilia Faucher, Constanza Guitérrez, Nick Ballard, Guillermo García Alvarado, Indhira Serrano
GêneroTerror
Ano de Lançamento2025
ProdutorasMucho Mas Media, Silk Mass, Jaguar Bite

Agora, vamos ser honestos, né? Nem todo mundo vai sentir a mesma coisa. Eu vi por aí umas críticas que dizem que o filme não assusta e é até meio “chato”. E tem a história da classificação R, que deixou um pessoal confuso, se perguntando se era um erro. Entendo essa confusão. Rosario não é um filme de jump scares atrás do outro. Ele trabalha mais com a atmosfera, com o silêncio pesado do apartamento, com o que está implícito nos olhares e nos cantos escuros. É um horror que se constrói lentamente, como a nevasca que prende Rosario, aumentando a sensação de claustrofobia e desespero. Para quem gosta de terror mais cerebral, que prefere a tortura psicológica à carnificina explícita, talvez essa ambiguidade do “será que é R por isso ou aquilo?” seja justamente o que prende. Não é sobre o que você vê, mas sobre o que você imagina que está ali, espreitando. E o que está dentro da gente também.

Achei curioso que entre as palavras-chave apareça ‘air fryer’. É um detalhe tão cotidiano, tão mundano, que me faz rir um pouco na cara do pavor ancestral. Quase consigo imaginar um dos vizinhos excêntricos, talvez o Marty de Paul Ben-Victor, tentando fazer batatinhas crocantes enquanto o mal milenar se remexe nas fundações do prédio. É esse contraste, essa inserção do trivial no terror, que às vezes pode nos dar um respiro, ou nos lembrar de que a vida comum continua, mesmo quando o mundo parece desabar ao nosso redor.

Rosario não é perfeito, claro. Nenhum filme é. Mas ele tem uma proposta, um jeito de contar essa história de fantasmas familiares que se recusa a ser óbvio. É sobre os segredos escondidos, não apenas em salas ocultas do apartamento, mas nas entranhas de uma família, de uma cultura. E o que acontece quando esses segredos, não importa o quão fundo estejam enterrados, finalmente decidem emergir. Vale a pena a experiência, se você estiver disposto a deixar a neve cair e o silêncio te engolir, para ver o que a escuridão da alma humana, e do passado, pode revelar. É uma jornada que nos faz questionar: o que você faria se o maior inimigo fosse a sua própria história? E, mais importante, você teria coragem de desenterrá-la?

Trailer

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