Por que, você me pergunta, ainda me pego pensando em Royalteen alguns anos depois de seu lançamento? Bem, é que algumas histórias, por mais que pareçam saídas de um conto de fadas moderno, têm um jeito de se aninhar no nosso peito e remexer em velhas caixas de memórias. E Royalteen, o filme norueguês que nos presenteou com um romance real, tem essa magia peculiar. Lançado ali por meados de 2022, tanto lá fora quanto aqui no Brasil, ele me conquistou com uma premissa que, de tão clássica, precisava de um frescor – e olha, ele entregou.
A gente já viu essa dança, né? A garota comum que de repente cruza o caminho da realeza. Mas aqui, nas ruas pitorescas de Oslo, com o inverno norueguês a soprar no ar, a história ganha um contorno que faz você se sentir quase um cúmplice. Lena, interpretada com uma vulnerabilidade palpável por Ines Høysæter Asserson, é essa garota. Ela não é a inocente perfeita; carrega uma bagagem, um passado escandaloso e um segredo tão grande que ameaça implodir não só o romance recém-descoberto, mas toda a sua nova vida. E quem de nós nunca teve um segredo, um medo paralisante de que o ‘eu’ que mostramos ao mundo não é o ‘eu’ verdadeiro? Essa é a primeira corda que Royalteen puxa em mim.
O coração da trama, claro, é o romance inesperado de Lena com o Príncipe Kalle (Mathias Storhøi). E aqui, Per-Olav Sørensen, o diretor, com a ajuda dos roteiristas Ester Schartum-Hansen e ele próprio, não pinta um quadro açucarado demais. Kalle não é apenas um príncipe de conto de fadas; ele é um jovem sob a pressão de uma coroa que ainda não usa, mas cujo peso já o dobra. Mathias Storhøi consegue transmitir essa dualidade – a do rapaz que anseia por uma vida comum, por amor verdadeiro, e a do futuro rei que sabe que seus passos são monitorados, seus sentimentos, escrutinados. Você vê nos olhos dele a batalha, o dilema entre o desejo e o dever, uma luta tão antiga quanto a própria monarquia.
Mas o que realmente me prendeu não foi só a química entre Lena e Kalle, que é inegável, mas a maneira como o filme explora o “coming of age” sob a lupa implacável da fama e da mídia. Lena, uma adolescente em plena fase de descoberta, se vê catapultada para um universo onde cada passo, cada deslize, pode virar manchete. Veslemøy Mørkrid, como a mãe de Lena, Lise Karlsvik, é a âncora de Lena ao seu passado, à sua realidade anterior, e a tensão entre elas é um lembrete agridoce de que não dá para fugir de quem você era.
| Atributo | Detalhe |
|---|---|
| Diretor | Per-Olav Sørensen |
| Roteiristas | Ester Schartum-Hansen, Per-Olav Sørensen |
| Produtora | Janne Hjeltnes |
| Elenco Principal | Ines Høysæter Asserson, Veslemøy Mørkrid, Elli Rhiannon Müller Osborne, Mathias Storhøi, Sunniva Lind Høverstad, Pål Richard Lunderby, Amalie Sporsheim, Filip Bargee Ramberg, Martin Grid Toennesen, Kirsti Stubø |
| Gênero | Romance, Drama |
| Ano de Lançamento | 2022 |
| Produtora | The Global Ensemble Drama |
E tem a Margrethe, vivida por Elli Rhiannon Müller Osborne, que não é só a “rival” estereotipada. Ela é uma peça do tabuleiro real, alguém que entende as regras do jogo e as expectativas que vêm com ele. A forma como essas jovens mulheres navegam por amizades frágeis e lealdades testadas é um reflexo cru do mundo adolescente, amplificado pelo cenário da realeza. As festas em Oslo, as paisagens da Noruega, tudo serve como um pano de fundo que é, ao mesmo tempo, belo e gélido, espelhando a montanha-russa emocional que esses personagens vivem.
A produção de The Global Ensemble Drama é elegante, sabe? Não tenta ser algo que não é, mas entrega um visual que complementa a narrativa, te fazendo sentir a atmosfera. A equipe conseguiu transportar a essência do que imagino ser o livro que deu origem a essa história para a tela, mantendo a autenticidade e o drama sem cair no exagero. Não é uma história de “felizes para sempre” garantido, é uma história de “e agora?” constante.
Royalteen não é apenas um romance juvenil sobre um príncipe e uma garota com um segredo. É um mergulho em como a vida, os amores e as escolhas de um adolescente podem ser exponencialmente mais complicados quando há um reino observando. É sobre a amizade que se forma e se desfaz, sobre o peso das decisões, sobre o primeiro amor que te tira o chão e a coragem de ser você mesma, mesmo que o mundo esteja contra você.
Quando o filme terminou, não fiquei com aquela sensação de “ah, mais um romance teen”. Não. Fiquei pensando na complexidade de Lena, na solidão de Kalle e na frieza do dever. E isso, para mim, é o sinal de um filme que, de um jeito humano e apaixonado, conseguiu tocar naquilo que é universal em todos nós: a busca por aceitação, o desejo de amor e o fardo de nossos próprios segredos. E por isso, mesmo em 2025, Royalteen ainda merece um lugarzinho especial nas nossas mentes – e talvez, quem sabe, um novo play.




