O cinema, por vezes, nos presenteia com histórias que, embora naveguem por águas familiares, conseguem tocar a alma de maneiras inesperadas. E Rute e Boaz, a mais recente aposta dos Tyler Perry Studios, produzida por ninguém menos que Tyler Perry e DeVon Franklin, é um desses casos que, em sua simplicidade aparente, encontra uma ressonância profunda. Lançado este ano, o filme chega em um momento em que busco narrativas que falem de recomeços e da teimosia do destino.
Um Novo Canto em Terras Desconhecidas
A premissa de Rute e Boaz nos joga no coração de Ruth (interpretada com uma sensibilidade notável por Serayah), uma cantora talentosa que, por razões inicialmente veladas, decide abandonar o frenético palco musical de Atlanta. Ela busca refúgio e, quem sabe, um novo começo em uma pacata cidadezinha do Tennessee. É lá que o enredo se desenrola, e Ruth não apenas encontra um amor — o Boaz de Tyler Lepley, que irradia uma presença calma e protetora —, mas também um novo propósito. No entanto, o passado, como um refrão teimoso, se recusa a ser esquecido, perseguindo Ruth e ameaçando desvendar os segredos que a trouxeram até ali.
O que me prendeu desde o início é a forma como o filme promete uma jornada de redescoberta, embalada por romance, música e aquele toque inconfundível de drama que, se bem dosado, pode ser catártico. O uso do nome Rute e Boaz já nos dá uma pista sutil, mas poderosa, da inspiração bíblica por trás da narrativa de amor e redenção, e me intrigou ver como isso seria traduzido para a modernidade.
A Maestria por Trás das Câmeras e o Brilho dos Atores
A direção de Alanna Brown é, para mim, um dos pontos altos do longa. Brown demonstra uma habilidade ímpar em orquestrar a transição de Ruth de uma vida de holofotes para a quietude do interior, sem perder o ritmo narrativo. Ela equilibra os elementos românticos com o drama pessoal de Ruth e a onipresença da música de forma fluida. Não é uma tarefa fácil fundir esses gêneros sem que um se sobressaia de forma desproporcional, mas Brown consegue criar uma atmosfera que é ao mesmo tempo acolhedora e tensa.
| Atributo | Detalhe |
|---|---|
| Diretora | Alanna Brown |
| Roteiristas | Cory Tynan, Michael Elliot |
| Produtores | Tyler Perry, DeVon Franklin |
| Elenco Principal | Serayah, Tyler Lepley, Phylicia Rashād, Walnette Marie Santiago, Nijah Brenea |
| Gênero | Romance, Música, Drama |
| Ano de Lançamento | 2025 |
| Produtora | Tyler Perry Studios |
O roteiro, assinado por Cory Tynan e Michael Elliot, acerta em grande parte. Os diálogos são orgânicos, e a construção dos personagens é feita com cuidado. O dilema de Ruth, essa impossibilidade de fugir do que ficou para trás, é palpável e gera uma empatia imediata. O roteiro não tem medo de explorar a vulnerabilidade, e a inspiração bíblica dos nomes dos personagens é inteligentemente entrelaçada com a trama, sugerindo temas de providência e um amor que transcende as adversidades, sem cair na pregação explícita. É uma sutileza que aprecio.
Agora, o elenco! Serayah, como Ruth, é uma revelação. Não só sua voz é um bálsamo para a alma (e mal posso esperar para ter a trilha sonora em minhas mãos!), mas sua interpretação é cheia de nuances. Ela entrega a complexidade de uma mulher talentosa, machucada e em busca de paz com uma autenticidade que poucos conseguem. Tyler Lepley, como Boaz, é o contraponto perfeito. Seu Boaz é sólido, gentil e oferece a Ruth não apenas um romance, mas um porto seguro. A química entre os dois é inegável e impulsiona o coração do filme.
No entanto, é Phylicia Rashād, no papel de Naomi, quem eleva a produção a outro patamar. Sua presença em cena é magnética. Com apenas um olhar, um gesto, ela transmite sabedoria, dor e uma força inquebrantável. Rashād é a âncora emocional, um farol para Ruth, e suas cenas são sempre as mais impactantes, as que me deixaram com um nó na garganta. Walnette Marie Santiago e Nijah Brenea, embora com menos tempo de tela, complementam o elenco com performances sólidas, enriquecendo o universo da pequena cidade.
O Coração da Mensagem: Redenção e a Melodia da Vida
Os temas de Rute e Boaz são universais e ressoam profundamente. A ideia de um recomeço, de deixar para trás o que não nos serve mais e encontrar um novo propósito, é algo que todos nós almejamos em algum momento. O filme explora a redenção de forma sensível, mostrando que a fuga não apaga o passado, mas o enfrentamento, sim, pode liberar o futuro.
A música, claro, é um personagem por si só. Não é apenas um pano de fundo, mas a própria voz da alma de Ruth, seu refúgio e sua forma de expressão. É através dela que ela se reconecta consigo mesma e com os outros. E, inegavelmente, a dimensão “biblical” se manifesta não como proselitismo, mas como a espinha dorsal de um romance que celebra a paciência, a bondade e a ideia de que o amor verdadeiro pode florescer mesmo nos solos mais improváveis.
Entre Notas Altas e Algumas Desafinações
Os pontos fortes de Rute e Boaz são claros: a performance arrebatadora de Serayah, a química palpável com Tyler Lepley, a presença majestosa de Phylicia Rashād e uma direção que sabe extrair o melhor da história e do elenco. A maneira como a música é integrada à narrativa é simplesmente linda e as baladas são dignas de serem repetidas.
Contudo, nenhum filme é perfeito. Em alguns momentos, o enredo flerta com clichês de dramas românticos, e o ritmo pode parecer um pouco arrastado, especialmente na construção do mistério em torno do passado de Ruth. Embora bem executado, o “passado que alcança” pode ser um tanto previsível para o público mais calejado em dramas. Talvez pudesse haver mais ousadia em subverter algumas expectativas do gênero. O filme não reinventa a roda, mas a faz girar com graciosidade e emoção.
Veredito Final: Um Acorde para o Coração
Rute e Boaz é mais do que um simples romance ou um drama musical. É uma jornada comovente sobre encontrar a si mesmo, encarar os próprios fantasmas e permitir que o amor e um novo propósito floresçam. É um filme que, apesar de algumas convenções de gênero, entrega uma história rica em emoção e performances memoráveis.
Se você, assim como eu, busca um filme que celebre a resiliência humana, que tenha uma trilha sonora para embalar seus pensamentos e que seja ancorado por atuações de peso, então Rute e Boaz é definitivamente um título a ser conferido. É um deleite para os amantes de um bom drama romântico e uma promessa de que, por mais escura que a noite pareça, sempre haverá uma nova melodia a ser cantada. Eu recomendo, sem reservas, que deem uma chance a esta história que, tenho certeza, tocará muitos corações.




