Saloum: O Ritual Macabro que Ninguém Viu Chegar (e Deveria Ter Visto!)
Setembro de 2025. Já se passaram dois anos desde que Saloum aterrissou nas plataformas de streaming e nos circuitos de festivais, e ainda hoje, o zumbido que este filme senegalês deveria ter causado não ecoa com a força que merece. E isso me irrita profundamente. Preparem-se, pois não serei contido: Jean Luc Herbulot entregou em 2023 um dos mais viscerais e culturalmente ricos exemplares do gênero terror/thriller que a última década testemunhou. E se você ainda não o assistiu, meu amigo, o que está esperando?
Desde o primeiro quadro, Saloum deixa claro que não é um terror para os fracos de coração, nem para aqueles que buscam a fórmula pasteurizada de Hollywood. Herbulot nos leva a uma viagem sem volta pelo coração da África Ocidental, mergulhando em uma atmosfera densa, quase palpável, que mistura o sobrenatural com a brutalidade humana. É um filme que abraça suas raízes, que respira seu folclore e que o usa não como pano de fundo exótico, mas como a própria essência de seu horror.
Uma Fuga para o Inferno Inesperado
| Atributo | Detalhe |
|---|---|
| Diretor | Jean Luc Herbulot |
| Roteirista | Jean Luc Herbulot |
| Produtores | Paméla Diop, Jean Luc Herbulot |
| Elenco Principal | Yann Gael, Roger Felmont Sallah, Evelyne Ily Juhen, Bruno Henry, Mentor Ba |
| Gênero | Terror, Thriller |
| Ano de Lançamento | 2023 |
| Produtoras | Lacmé Studios, Rumble Fish Productions, Tableland Pictures |
A premissa é simples, mas carregada de tensão. Conhecemos os “Hyenas de Bangui” – um trio de mercenários implacáveis e lendários, liderados pelo enigmático Chaka (o imponente Yann Gael), acompanhado pelo pragmático Rafa (Roger Felmont Sallah) e a misteriosa Awa (Evelyne Ily Juhen). Após um assalto bem-sucedido e uma fuga caótica de Bissau, eles se veem forçados a fazer um pouso de emergência em uma região remota do Saloum, no Senegal. O que parecia ser um refúgio temporário em um acampamento isolado, comandado pelo sinistro Omar (Bruno Henry), rapidamente se transforma em um pesadelo. Os mercenários, em busca de ouro e de um caminho seguro para fora do país, descobrem que o local é assombrado por forças ancestrais e por segredos que eles jamais poderiam imaginar. Não é apenas a vida deles que está em jogo, mas suas almas.
O que Herbulot faz com essa sinopse é pura magia negra cinematográfica. Ele não se apressa, ele nos imerge. Construímos uma conexão quase imediata com Chaka e sua equipe, apesar de suas naturezas questionáveis. Entendemos suas motivações, seus medos. E então, o tapete é puxado de debaixo de nossos pés de maneiras que poucos filmes de terror conseguem.
A Mão Firme e Visionária de Jean Luc Herbulot
Jean Luc Herbulot, o arquiteto por trás de Saloum, não apenas dirige, mas também roteiriza o longa-metragem ao lado de Paméla Diop, também produtora. Sua visão é singular. O roteiro é enxuto, direto ao ponto, mas repleto de nuances. Não há diálogos desperdiçados; cada palavra, cada silêncio, contribui para a construção da tensão e para o desenvolvimento dos personagens. Herbulot entende que o verdadeiro terror não reside apenas no que se vê, mas no que se sente e no que se imagina.
A direção é onde Herbulot brilha ainda mais intensamente. Ele usa a paisagem senegalesa não como um cenário, mas como um personagem ativo. A poeira, o calor, a aridez da savana e a escuridão opressora da noite africana são elementos que sufocam o espectador. As sequências de ação são brutais e eficazes, mas o que realmente se destaca é a maneira como ele constrói o suspense. Há uma sensação constante de que algo está errado, de que os protagonistas estão em solo sagrado e proibido, e que suas ações terão consequências terríveis. A forma como ele integra elementos do folclore local é impecável, transformando lendas e mitos em fontes de terror genuíno, sem recorrer a clichês baratos. Muitos filmes de terror tentam flertar com a “horror cósmico” ou “terror folclórico” e falham miseravelmente, mas Saloum acerta em cheio.
Elenco Que Brilha no Escuro
O sucesso de um filme como Saloum depende intrinsecamente das atuações, e o elenco principal entrega performances que são a âncora emocional do longa-metragem. Yann Gael, como Chaka, é um tour de force. Ele transmite uma mistura fascinante de dureza e vulnerabilidade, um líder com um passado pesado que o persegue. Sua presença em cena é magnética, e o desenvolvimento de seu personagem é um dos pontos altos do filme. Roger Felmont Sallah, como Rafa, oferece o contraponto necessário com sua praticidade, enquanto Evelyne Ily Juhen, como Awa, é a força silenciosa e misteriosa que guarda segredos próprios, adicionando camadas intrigantes à narrativa.
Não posso deixar de mencionar Bruno Henry como Omar e Mentor Ba como Minuit. Ambos, com performances contidas e ameaçadoras, são cruciais para a atmosfera opressiva do acampamento e para a escalada do horror. A química entre os atores é inegável, e suas interações parecem autênticas, elevando o roteiro a um patamar superior.
Temas Que Ecoam e Arrepiam
Saloum não é apenas um festival de sustos e adrenalina; é um filme com profundidade. Os temas centrais giram em torno da culpa, da redenção, da sobrevivência e do confronto com os próprios demônios internos. A busca por ouro e a fuga da lei são catalisadores para uma jornada muito mais introspectiva, onde os personagens são forçados a encarar as consequências de suas escolhas. Há também uma poderosa discussão sobre o peso da história e da ancestralidade, mostrando como o passado, tanto pessoal quanto coletivo, pode moldar e assombrar o presente. Herbulot usa o horror para explorar as cicatrizes de uma região e de um povo, adicionando uma camada de significado que muitos filmes do gênero evitam. É um terror inteligente, que convida à reflexão.
O Grito Silencioso de Um Gênio Esquecido
Os pontos fortes de Saloum são numerosos: a direção impecável de Herbulot, o roteiro afiado e atmosférico, as performances impactantes, a originalidade da premissa e a utilização inteligente do folclore local. O filme é visualmente deslumbrante em sua crueza e tem uma sonoridade que te puxa para dentro de seu universo. No entanto, se eu tivesse que apontar um “ponto fraco”, talvez alguns espectadores mais acostumados com o ritmo frenético de Hollywood possam sentir um ritmo um pouco mais cadenciado em certas partes. Mas para mim, isso não é um defeito, é uma escolha artística deliberada que serve à construção da imersão e da tensão. Qualquer tentativa de classificá-lo como “lento” seria um equívoco de apreciação. Sua lentidão é a espreita de um predador, não a inércia.
Desde o seu lançamento original em 2023, o filme produzido pela Lacmé Studios, Rumble Fish Productions e Tableland Pictures, com Paméla Diop e o próprio Herbulot na produção, ganhou um culto fiel, especialmente após sua chegada em plataformas de streaming, mas a recepção geral da crítica e do público poderia ter sido muito mais efusiva. É um longa-metragem que deveria estar no panteão dos melhores filmes de terror contemporâneos, lado a lado com obras que redefinem o gênero. Saloum é um testemunho do talento cinematográfico africano, provando que o terror pode vir de qualquer lugar e ser universalmente aterrorizante.
Veredito Final: Um Convite Irrecusável ao Medo
Para concluir, Saloum é uma experiência cinematográfica essencial. É um filme que te desafia, te perturba e te recompensa com uma história profunda e um terror genuíno. Se você é um fã de terror que busca algo além dos jump scares e das narrativas repetitivas, se você quer ser transportado para um mundo onde o medo tem um rosto diferente e uma alma antiga, então Saloum é a sua próxima obsessão.
Não perca mais tempo. Mergulhe nesta joia rara e deixe-se ser assombrado. Você me agradecerá (ou talvez me amaldiçoe por ter-lhe tirado o sono). É um filme que merece cada grama de atenção e aclamação que possa conseguir. Assista Saloum e descubra o porquê de eu estar tão apaixonado por essa obra-prima do terror.




