See

See: Uma Ode à Cegueira e à Luz da Humanidade

Em um futuro pós-apocalíptico onde um vírus devastador roubou a visão da humanidade, surge See, uma série que, em vez de se perder em efeitos especiais mirabolantes, se concentra na complexidade da experiência humana. A trama acompanha Baba Voss, um guerreiro com o improvável dom da visão, que precisa proteger seus gêmeos recém-nascidos – também videntes – da fúria da rainha Sibeth Kane, uma figura poderosa e implacável que vê na existência deles uma ameaça à sua ordem estabelecida. A jornada de Baba, repleta de ação visceral e conflitos emocionais, é o cerne de uma narrativa que transcende o gênero de ficção científica para mergulhar profundamente na alma humana.

Uma Dança de Escuridão e Luz

A série, criada por Steven Knight, não se limita a mostrar um mundo sem luz física. A direção consegue, com maestria, pintar a escuridão como algo palpável, intensificando os outros sentidos e criando uma atmosfera rica e imersiva. A fotografia, que explora com habilidade a textura e o contraste, realça a experiência sensorial dos personagens cegos, transmitindo a luta pela sobrevivência e a fragilidade da vida em um cenário hostil. As cenas de ação são brutais e eficazes, evitando o excesso de CGI e apostando em coreografias bem trabalhadas, que demonstram o poder e a vulnerabilidade dos personagens.

Jason Momoa, como Baba Voss, entrega uma performance contundente. A força física e a ternura paternal se entrelaçam de forma convincente, humanizando um personagem que poderia facilmente se tornar um arquétipo de herói sem defeitos. O restante do elenco, com destaque para Sylvia Hoeks como a implacável rainha Kane e Hera Hilmar como Maghra, a mãe dos gêmeos, contribui para criar um conjunto de personagens complexos e cativantes, cada um com suas motivações e dilemas. O roteiro, apesar de algumas oscilações de ritmo ao longo das temporadas, tece uma trama intrigante, repleta de reviravoltas e relacionamentos complexos que nos mantêm grudados na tela.

Pontos Fortes e Fracos de um Mundo em Trevas

See consegue ser extremamente eficaz na construção de um mundo detalhado e crível, mesmo com a premissa fantasiosa. A forma como a cegueira moldou a cultura e as relações sociais dos sobreviventes é explorada com inteligência, evitando os estereótipos e mostrando a resiliência e a adaptação do ser humano diante de adversidades inimagináveis. No entanto, alguns arcos narrativos poderiam ter sido desenvolvidos com maior profundidade, deixando algumas pontas soltas que geram uma sensação de frustração. A série também, em alguns momentos, peca pelo excesso de sentimentalismo, correndo o risco de tornar a trama previsível.

A Essência da Condição Humana

O trecho de crítica que menciona o conflito existencial como o verdadeiro motor da narrativa resume perfeitamente a essência de See. A série não é apenas uma aventura de ação; ela é um estudo profundo sobre a natureza humana, sobre o poder, a família, a fé e a busca pela sobrevivência. As relações entre os personagens são complexas e multifacetadas, repletas de lealdade, traição e sacrifício. A ausência da visão, ironicamente, nos permite enxergar a profundidade emocional dos personagens com mais clareza.

Vale a Pena Assistir?

See é uma série que exige paciência e atenção, mas recompensa o espectador com uma experiência cinematográfica visceral e profundamente humana. Se você busca uma trama cheia de ação, com personagens memoráveis e uma narrativa que te convida à reflexão, certamente encontrará em See uma jornada envolvente. Embora apresente alguns desvios, as qualidades da série superam seus defeitos, tornando-a uma experiência memorável e imperdível para os fãs do gênero. Recomendo fortemente, principalmente para aqueles que apreciam histórias que exploram a complexidade do ser humano num mundo brutal e fascinante.