Sabe, de vez em quando, a gente esbarra com um filme que, de cara, a premissa grita “loucura!” e você pensa: “Será que dou uma chance? Ou passo direto e finjo que não vi?”. Com Seis Vezes Confusão, o dilema foi exatamente esse para mim. Confesso, e aqui a gente tá só batendo um papo, que sou um velho fã da irreverência dos irmãos Wayans. Cresci assistindo aos seus filmes, às vezes torcendo o nariz, às vezes gargalhando até a barriga doer. Então, quando soube que Marlon Wayans estava de volta, e desta vez interpretando seis personagens em um único filme, algo em mim acendeu. Não era uma curiosidade acadêmica, mas aquela pontinha de esperança de reviver a comédia descompromissada, aquela que faz a gente esquecer um pouco o peso do dia a dia. E olha, o filme de 2019, que agora em 2025 já tem um tempinho, ainda rende boas lembranças e, por que não, umas boas risadas.
A história começa com Alan, um cara à beira de se tornar pai, sentindo aquele nó na garganta que muitos de nós já sentimos ou vamos sentir: a necessidade de entender de onde viemos para saber para onde estamos indo. Ele busca sua mãe biológica, não por raiva ou abandono, mas por uma sede de autoconhecimento, de ter respostas para as perguntas que o futuro pai dentro dele estava começando a sussurrar. Mas o que ele encontra não é apenas uma mãe, é um redemoinho de cinco outros irmãos gêmeos idênticos a ele. Cinco! De repente, a busca por uma identidade se transforma numa aula de biologia e matemática com ares de circo. É a premissa perfeita para o caos que só Marlon Wayans consegue orquestrar.
E aqui, gente, é onde a magia (ou a maluquice, dependendo do seu ponto de vista) de Marlon Wayans realmente brilha. Interpretar um personagem já é um desafio; interpretar seis com personalidades distintas, sotaques próprios e manias que os separam é uma façanha que poucos se arriscariam a tentar, e menos ainda a acertar. Alan é o centro, o mais “normal” dos irmãos, o que nos serve de âncora nesse furacão de confusão. Mas aí conhecemos Russell, o durão com uma queda por problemas; Dawn, a mulher que traz um novo nível de doidice e feminilidade à equação; Jasper, o excêntrico que parece ter saído de um universo paralelo; Ethan, o doce e ingênuo, e o pequeno Baby Pete, que mesmo sem muitas falas, tem uma presença impagável. A forma como Wayans muda a postura, a voz, os trejeitos – de um segundo para o outro, ele te convence que você está vendo pessoas diferentes, não apenas um ator em perucas e figurinos diversos. É uma ode ao talento físico e vocal de Marlon, que se joga de cabeça, sem medo de ser ridículo, e é exatamente aí que ele nos ganha.
O roteiro, assinado por Wayans, Rick Alvarez e Mike Glock, em parceria com a direção de Michael Tiddes, não busca profundidade filosófica. Vamos ser honestos: a intenção é clara, é fazer rir. E para isso, eles exploram ao máximo o potencial cômico da situação. A confusão gerada pela troca de identidades, as interações desastradas entre os irmãos, e a forma como cada um lida com a descoberta da família, são o combustível para as piadas. A Marie de Bresha Webb, a esposa grávida de Alan, serve como a voz da razão (e do desespero!) em meio ao pandemônio, um alívio cômico por si só, enquanto tenta manter seu marido são – e longe de problemas. A gente sente a exaustão dela, a frustração que se mistura com um amor incondicional. E não podemos esquecer dos coadjuvantes de peso como Michael Ian Black, Molly Shannon e Glynn Turman, que emprestam seu timing cômico e experiência para dar mais corpo a esse cenário já tão agitado. Eles não são meros figurantes; são pilares que reagem ao turbilhão Wayans, amplificando o humor.
Atributo | Detalhe |
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Diretor | Michael Tiddes |
Roteiristas | Marlon Wayans, Rick Alvarez, Mike Glock |
Produtores | Rick Alvarez, Nathan Talbert Reimann, Marlon Wayans |
Elenco Principal | Marlon Wayans, Bresha Webb, Michael Ian Black, Molly Shannon, Glynn Turman |
Gênero | Comédia |
Ano de Lançamento | 2019 |
Produtora | Wayans Alvarez Productions |
Agora, seria injusto dizer que Seis Vezes Confusão é um filme sem falhas. Claro que não. Há momentos em que o humor pende para o lado mais escatológico ou previsível, e a trama, em sua essência, não reinventa a roda. Mas o que o filme se propõe a fazer – que é entregar uma comédia leve, despretensiosa e cheia de boas gargalhadas – ele faz com maestria. A gente não assiste a um filme dos Wayans esperando um drama shakespeariano, sabe? A gente quer o absurdo, a energia contagiante, a capacidade de rir de si mesmo e da vida. E Marlon nos entrega isso, multiplicando-se por seis, como se dissesse: “Quer confusão? Toma confusão!”.
No fim das contas, Seis Vezes Confusão é uma carta de amor à comédia de identidade trocada, mas com uma dose extra de cafeína e a assinatura inconfundível de Marlon Wayans. Não é o tipo de filme que vai mudar sua vida, mas pode muito bem mudar o seu humor por uma hora e meia. É para aqueles dias em que você só quer sentar, relaxar e deixar que a insanidade de seis irmãos idênticos (e um único ator brilhantemente maluco por trás deles) te leve para longe. E, pensando bem, em um mundo que tá sempre tão sério, ter um filme assim para nos lembrar que rir é um ótimo remédio, ah, isso não tem preço. Vale a pena revistar essa confusão, mesmo anos depois.