Perdido em Neon: Uma Resenha de Sem Controle
Três anos se passaram desde que Sem Controle estreou em 2022, e a reverberação desse filme neo-noir futurista ainda ecoa em mim. Não é uma obra fácil de definir, e talvez seja justamente essa imprevisibilidade que a torna tão fascinante. A sinopse, de forma resumida, apresenta Jack, um assassino implacável, e April, uma cantora de karaoke solitária, cujas vidas se cruzam numa mega-cidade futurista de estética chinesa, num mergulho profundo na busca por humanidade – ou, talvez, a descoberta de sua ausência.
Ivan Sen, que também assina o roteiro, entrega uma direção visceral. A estética neon-saturada da cidade, claustrofóbica e opressiva, é tão personagem quanto Jack e April. Sen não se limita a descrever o futuro; ele o sente, o palpita na tela, com uma fotografia que gruda na retina e uma trilha sonora que te persegue até depois dos créditos. Há momentos de verdadeira beleza crua, em que a câmera parece se fundir com a solidão dos personagens, capturando a melancolia de suas existências fragmentadas.
As atuações carregam o peso da narrativa. Ryan Kwanten entrega um Jack que transcende o arquétipo do assassino frio: há fragilidade por trás da máscara de implacável profissionalismo. Jillian Nguyen, por sua vez, constrói uma April complexa, que não se limita ao papel da musa sofredora. A química entre os dois atores é palpável, gerando uma tensão que vai além do romance, atingindo um nível mais profundo de conexão humana. Hugo Weaving, em uma participação menor, adiciona uma camada de mistério e paranoia ao filme.
| Atributo | Detalhe |
|---|---|
| Diretor | Ivan Sen |
| Roteirista | Ivan Sen |
| Produtores | Ivan Sen, Greer Simpkin, David Jowsey, Angela Littlejohn |
| Elenco Principal | Ryan Kwanten, Jillian Nguyen, Hugo Weaving, Michael Chan, Rhamsy |
| Gênero | Ficção científica, Romance, Thriller |
| Ano de Lançamento | 2022 |
| Produtoras | Bunya Productions, Freeway CAM B.V., Screen Queensland, Rock Salt Releasing |
Apesar de seus méritos visuais e performáticos impressionantes, Sem Controle não está livre de defeitos. O ritmo pode ser irregular, com alguns momentos que se arrastam desnecessariamente, enquanto outros parecem se precipitar. A trama, apesar de bem construída em sua estrutura principal, deixa algumas pontas soltas que poderiam ter sido melhor exploradas. Há uma ambição em abordar temas complexos – a extensão da vida, a natureza da humanidade, a busca por significado numa sociedade desumanizada – que em alguns momentos se torna um pouco ambiciosa demais, prejudicando o impacto emocional pretendido.
A utilização da metáfora da “morango” – que permeia boa parte da narrativa – é, inicialmente, um tanto enigmática, mas aos poucos se revela como um poderoso símbolo da efemeridade da existência e da busca pelo prazer em um mundo tecnologicamente avançado, frio e desprovido de emoções genuínas. O experimento humano subjacente à trama, com suas implicações éticas, é a espinha dorsal de um filme que não se esquiva de questionar a própria essência da humanidade em um futuro sombrio e desumanizante.
No fim, Sem Controle é um filme que me deixou pensando muito tempo depois dos créditos finais. Ele não é perfeito, mas possui um carisma e uma audácia que o tornam inesquecível. A experiência de assisti-lo é visceral, quase desconfortável em momentos, mas profundamente recompensadora. Recomendo Sem Controle para aqueles que apreciam filmes de ficção científica que privilegiam a atmosfera e a reflexão sobre a ação desenfreada. Se você procura um thriller futurista que te deixe inquieto e intrigado, este é o seu filme. No entanto, se você busca uma trama linear e de fácil digestão, talvez seja melhor procurar outro título. Sua originalidade e audácia são, por si só, dignas de aplauso.




