Ah, o inverno. Para alguns, sinônimo de lareiras crepitantes e chocolate quente; para outros, um prenúncio de isolamento e introspecção forçada. E é nesse último espectro que o filme Snow Falls, de 2023, me fisgou de um jeito que poucos terrores psicológicos conseguem. Sabe, a gente tá acostumado com monstros no escuro, com assassinos mascarados que perseguem jovens desavisados. Mas o que acontece quando o monstro é a própria percepção? É a própria realidade se desfazendo, grão por grão, como flocos de neve derretendo na palma da mão?
Foi essa a pergunta que me martelou a cabeça depois de assistir a essa surpresa dirigida por Colton Tran. E digo “surpresa” porque, vamos combinar, o gênero de terror independente muitas vezes tropeça no clichê ou na execução descuidada. Mas aqui, a coisa é diferente. Snow Falls nos joga num caldeirão gelado, com cinco amigos — Em (Victoria Moroles), River (Johnny Berchtold), Kit (Colton Tran, também na direção!), Eden (Anna Grace Barlow) e Jace (Jonathan Bennett) — que, em busca de uma fuga idílica, acabam presos numa cabana remota. Uma nevasca daquelas, sem energia, com a comida racionada. O cenário perfeito para um fim de semana de tédio… ou de terror.
O que me prendeu, desde o primeiro minuto, foi a forma como o roteiro de Luke Genton não se apressa em mostrar um bicho papão. Não há um espectro óbvio espreitando nas sombras. O verdadeiro vilão, meu caro leitor, é a mente humana sob pressão. A sinopse já dá a pista: a desorientação lentamente reivindica a sanidade, enquanto o medo de que a própria neve possa estar contaminada ou ser maligna se instala. E é aí que a mágica (ou o horror, se preferir) acontece.
Pense na metáfora: a neve, algo tão puro e belo, transformando-se na fonte de um pavor invisível e insidioso. Não é só a fome ou o frio que os consome; é a paranoia, o sussurro constante de que algo está errado, não do lado de fora, mas dentro de cada um deles. As atuações aqui são cruciais, e o elenco realmente se entrega a essa espiral descendente. Victoria Moroles, como Em, consegue transmitir aquela vulnerabilidade crescente, o medo nos olhos que se reflete na nossa própria inquietação. E Colton Tran, não apenas à frente das câmeras como Kit, mas também atrás delas como diretor, orquestra essa dança macabra com uma destreza notável. Ele entende a claustrofobia, tanto a física da cabana quanto a mental, que sufoca os personagens.
| Atributo | Detalhe |
|---|---|
| Diretor | Colton Tran |
| Roteirista | Luke Genton |
| Produtora | Laura M. Young |
| Elenco Principal | Victoria Moroles, Johnny Berchtold, Colton Tran, Anna Grace Barlow, Jonathan Bennett |
| Gênero | Terror |
| Ano de Lançamento | 2023 |
| Produtoras | Colton Tran Films, Skowl Films |
Uma das coisas que mais me impressionou, e que foi ecoada em algumas das críticas que li, é a atenção aos detalhes médicos. Isso é raro. Em muitos filmes, a gente engole qualquer informação esdrúxula sobre doenças ou alucinações. Snow Falls se esforça para fundamentar a deterioração mental e física em algo mais plausível, o que torna tudo ainda mais perturbador. Não é só uma “loucura genérica”; é uma progressão compreensível do corpo e da mente sob condições extremas, e isso faz você se perguntar: “E se fosse eu lá? Eu aguentaria?”
A produção de Laura M. Young, com as produtoras Colton Tran Films e Skowl Films, consegue criar um ambiente que é, ao mesmo tempo, aconchegante e ameaçador. A cabana, inicialmente um refúgio de luxo para a virada do ano, se transforma numa prisão gélida, e a fotografia capta essa dualidade de forma brilhante. Você sente o frio, a umidade, o silêncio opressor do exterior que é preenchido pelo grito silencioso do interior.
E, sabe, o que me fez querer escrever sobre Snow Falls quase dois anos depois de seu lançamento, em 2023, é justamente sua capacidade de permanecer. Não é um filme que você assiste e esquece. Ele planta uma sementinha de dúvida. Aquela famosa frase de Norman Bates, “Todos nós enlouquecemos um pouco às vezes”, parece ser a espinha dorsal invisível dessa história. O filme não te dá respostas fáceis. Ele te convida a questionar o que é real e o que é fruto de uma mente em colapso. É um convite para o abismo, e poucos resistem a dar uma espiadinha.
Então, se você tá procurando um terror que não dependa de jump scares baratos, mas que se infiltre na sua cabeça, que te faça pensar sobre a fragilidade da nossa percepção e a força avassaladora do medo quando ele não tem um rosto, Snow Falls é uma excelente pedida. É um lembrete gelado de que, às vezes, o maior perigo não está lá fora, mas bem aqui, entre a gente, ou pior, dentro de nós. E isso, para mim, é o verdadeiro terror.




