Sobrenatural: Uma Dança Solitária com a Morte
Nove anos se passaram desde que Juan Figueroa nos presenteou com Sobrenatural, um documentário de 2016 que, até hoje, me assombra de uma maneira que poucos filmes conseguem. A sinopse oficial, enxuta e enigmática, nos diz apenas que um velho toureiro se prepara para seu último embate. Pouco mais é necessário para despertar a curiosidade, pois essa simplicidade esconde uma complexidade visceral que o filme explora com maestria.
A direção de Figueroa é, em si, uma obra de arte. Ele não nos presenteia com imagens exuberantes de arena lotada; em vez disso, opta por uma estética quase minimalista, focando nos detalhes sutis – um tremor na mão enrugada do toureiro, o brilho metálico da espada sob o sol abrasador, o silêncio pesado que precede a tempestade. Essa escolha audaciosa, longe de ser um defeito, realça a força bruta da narrativa, transformando a câmera num observador silencioso, respeitoso e, por vezes, até cúmplice do drama humano que se desenrola.
O roteiro, embora parco em diálogos, é absurdamente rico em subtexto. Não há narrativas paralelas, apenas a jornada solitária do toureiro. É a própria ausência de explicações – o que torna a experiência tão profunda. Figueroa nos força a nos confrontar com a fragilidade da vida, com o confronto inevitável entre homem e natureza, entre vida e morte. A atuação, se é que podemos chamá-la assim, é igualmente impactante. A performance do toureiro é visceralmente autêntica, carregada de um peso existencial que transcende a performance e atinge o núcleo da alma. O ator, cujo nome eu, infelizmente, não me recordo, entrega uma atuação física e emocionalmente arrebatadora.
Atributo | Detalhe |
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Diretor | Juan Figueroa |
Gênero | Documentário |
Ano de Lançamento | 2016 |
Os pontos fortes de Sobrenatural são, sem dúvida, sua atmosfera opressiva e a delicadeza na abordagem de temas complexos como a mortalidade, a tradição e a solidão. O filme não busca respostas fáceis, não nos oferece soluções mágicas. Ele simplesmente coloca os problemas à nossa frente, cruamente, e nos deixa debruçados sobre eles.
Um dos poucos pontos fracos, talvez, seja sua abordagem contida. Para alguns espectadores, a ausência de um ritmo mais frenético, a ausência de diálogos explicativos, pode ser interpretada como um defeito. Mas eu discordo veementemente. É exatamente essa contenção que permite ao filme respirar, que nos permite absorver sua essência, sua beleza bruta.
A mensagem principal, acredito, é a aceitação da finitude. A dança final do toureiro com seu oponente não é apenas uma luta pela sobrevivência, mas uma metáfora para o nosso próprio confronto com a morte. É um trabalho profundo, que questiona nossa relação com a tradição, a nossa necessidade de controle num mundo essencialmente caótico.
Em suma, Sobrenatural de Juan Figueroa é uma experiência cinematográfica singular, uma obra que transcende o mero entretenimento. Eu o classifico como uma obra-prima; não uma obra para todos, certamente, mas uma obra que merece ser vista, apreciada, e ruminada. Recomendo a todos aqueles que apreciam um cinema desafiador, contemplativo, capaz de deixar uma marca profunda na alma. É um filme que certamente voltarei a assistir em algum momento no futuro. E, se você busca um documentário que vai além do superficial, que o convida a uma reflexão profunda e melancólica, não hesite em buscá-lo em plataformas digitais. Você não se arrependerá.