Eu não sei se é o ciclo da lua, o ar meio úmido que precede uma tempestade ou simplesmente o fato de que, de vez em quando, a gente só precisa de uma boa dose de drama para oxigenar a alma. Mas, seja qual for o motivo, quando soube que Sorority, da Vivamax, estava chegando, um certo tipo de curiosidade miúda acendeu aqui dentro. Afinal, você e eu sabemos que a Vivamax tem um jeito peculiar de contar histórias, um jeito que, para o bem ou para o mal, sempre consegue cutucar algum nervo. E com a promessa de um drama romântico ambientado nesse universo fechado e carregado que é uma irmandade, eu pensei: “Ah, lá vamos nós. Mais uma vez, me renderei ao charme controverso.”
E rendi. Rendemos, eu diria, a essa trama que Sigrid Polon nos entrega. Sorority não é apenas sobre meninas bonitas em roupas de festa ou rituais de iniciação; é um mergulho — às vezes vertiginoso, às vezes sensual — nas complexidades das relações femininas. É fascinante observar como Polon usa o ambiente da irmandade, com suas regras não ditas, suas hierarquias invisíveis, para tecer uma tapeçaria emocional que é ao mesmo tempo íntima e explosiva. Não espere por clareza; espere por ambiguidades, por olhares que dizem mais do que qualquer diálogo, por toques que são promessas e ameaças ao mesmo tempo. É a vida como ela é, afinal: raramente preto no branco, quase sempre em tons de cinza ou, neste caso, em tons de vermelho-paixão e azul-melancolia.
O coração pulsante de qualquer filme reside, claro, naqueles que o habitam. Azi Acosta, como Cassidy, é uma força gravitacional. Ela não apenas interpreta Cassidy; ela é Cassidy, com toda a sua vulnerabilidade e uma audácia que parece surgir do mais profundo desespero. Seus olhos, que podem parecer apenas um reflexo da luz ambiente em um momento, no seguinte se transformam em poços de desejo ou mágoa, comunicando camadas de emoção sem precisar de uma única palavra. É ela quem nos puxa para o centro desse turbilhão.
E aí temos Apple Dy, a Selene. Ah, Selene. É nela que a gente vê a personificação da tentação, do proibido. A química entre Azi e Apple é tão palpável que quase se pode tocá-la, como a brisa morna que antecede uma tempestade tropical. Não é só sobre o “sexy” explícito que a Vivamax é conhecida por entregar – e sim, Sorority tem seus momentos de um softcore mais sutil, mas ainda assim inegável, especialmente quando se trata da exploração das relações lésbicas e do tema GL que permeia o filme – mas é sobre a tensão que se forma entre elas. Um simples roçar de mãos, um olhar mais demorado, a respiração presa… é aí que o filme realmente acontece, nos interstícios dessas interações.
Atributo | Detalhe |
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Diretora | Sigrid Polon |
Elenco Principal | Azi Acosta, Apple Dy, Rinoa Halili, Julianne Richards, Jackie Lyn Barcebal |
Gênero | Drama, Romance |
Ano de Lançamento | 2025 |
Produtora | Vivamax |
Rinoa Halili, interpretando Sandra, traz uma dose de realismo e, por vezes, uma frieza necessária para contrastar com a intensidade das outras. Ela é o contraponto, a bússola que tenta manter o grupo ancorado, mesmo quando o navio ameaça virar. E Julianne Richards, como Rina, consegue mostrar a fragilidade por trás da fachada de “garota durona”, revelando a pressão de pertencer, de ser aceita, de amar onde talvez não devesse. Até mesmo Jackie Lyn Barcebal, em seu papel de Sra. Sy, que poderia ser apenas uma figura de autoridade, adiciona um quê de mistério e controle que se encaixa perfeitamente na atmosfera sufocante da irmandade.
A direção de Sigrid Polon é precisa, quase cirúrgica. Ela não tem medo de se demorar em planos fechados, capturando cada tremor, cada suor, cada nuance das expressões. Você sente o calor do ambiente, o peso das expectativas, a euforia e a dor do amor não correspondido ou do desejo proibido. A paleta de cores, a iluminação, tudo é cuidadosamente orquestrado para nos mergulhar na psique dessas personagens. É como se a câmera fosse uma espiã silenciosa, observando os segredos que sussurram pelas paredes dos dormitórios.
Sorority nos lembra que o amor, o desejo e a busca por pertencimento são forças poderosas, capazes de tanto unir quanto destruir. E que, muitas vezes, as linhas entre esses dois extremos são tênues, quase invisíveis. Este filme, lançado há pouco este ano, em 2025, não é apenas um drama romântico; é um estudo de caráter, um olhar sem filtros sobre a complexidade da identidade feminina e da atração. E sim, ele vai te deixar pensando. Vai te fazer questionar as lealdades, as escolhas, e talvez, apenas talvez, te convidar a refletir sobre os seus próprios segredos guardados. É por isso que, mesmo com todas as suas controvérsias e sua abordagem desinibida, Sorority vale a pena ser visto, sentido e, quem sabe, até debatido. Porque, no fundo, a gente gosta mesmo é de uma boa história que nos tira do lugar, não é?