Em meio à avalanche de produções que inundam nossas telas anualmente, algumas obras chegam de mansinho, com um título que pisca para você, quase como um convite íntimo. Sorry About the Demon foi uma dessas para mim. Você sabe, a gente, que respira cinema, vive à caça daquelas joias que conseguem costurar o riso ao arrepio sem desatar o ponto, e o filme de Emily Hagins, lançado lá em 2022, prometia exatamente isso. Por que eu senti a necessidade de revisitar este filme em pleno 2025 e compartilhar meus pensamentos? Porque Sorry About the Demon não é só mais uma comédia de terror; é um espelho torto para as nossas próprias pequenas misérias cotidianas, embrulhadas num laço de fita de sangue e piadas.
A ideia de um demônio no porão ou, pior, no sofá da sala, já não é exatamente uma novidade. Mas a maneira como Hagins aborda essa premissa, com um pedido de desculpas já no título, me fisgou. “Desculpe pelo demônio”? Quem se desculpa por um demônio? Isso já sinaliza um tom de humor ácido, de situações tão absurdas que só podem ser levadas a sério com um sorriso de canto de boca. E é aí que reside a genialidade da roteirista e diretora: ela pega o terror primordial de uma possessão e o veste com o pijama de uma crise de meia-idade, uma separação recente e o tédio existencial que, sejamos francos, todos nós já experimentamos.
O coração pulsante de Sorry About the Demon é, sem dúvida, Will, interpretado com uma vulnerabilidade quase palpável por Jon Michael Simpson. Will está em uma fase da vida em que tudo parece desandar: o relacionamento acabou, ele se muda para uma casa nova… e ah, sim, ela vem com um demônio de brinde. Não é um demônio grandioso, apocalíptico; é mais como um inquilino indesejável, barulhento e possessivo, que parece refletir as próprias ansiedades de Will. Jon Michael Simpson não apenas atua, ele habita a exasperação de Will. Quando ele tenta explicar a situação a Aimee (Olivia Ducayen), sua ex-namorada, ou a Amy (Paige Evans), a nova inquilina, a gente sente o peso do cansaço em seus ombros, a descrença nos olhos de quem ouve. É um balé entre o absurdo e o mundano que Simpson orquestra com uma sensibilidade rara.
A genialidade de Emily Hagins não se limita ao roteiro afiado. Sua direção é um primor em ritmo e atmosfera. Ela sabe quando apertar o parafuso do suspense, quando deixar a luz piscar de forma ominosa, e quando jogar uma piada que quebra a tensão, mas de forma orgânica, nunca forçada. Não há efeitos especiais grandiosos aqui; a força está na sugestão, nos sons estranhos que vêm do andar de cima, nas sombras que dançam nas paredes. É uma prova de que, muitas vezes, o que você não vê é muito mais assustador do que qualquer monstro em CGI. E essa abordagem, tão típica de produções independentes como as que Paper Street Pictures e Hangar 18 Media nos trazem, só reforça a autenticidade da experiência.
Atributo | Detalhe |
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Diretora | Emily Hagins |
Roteirista | Emily Hagins |
Produtores | Aaron B. Koontz, Ashleigh Snead, Cameron Burns |
Elenco Principal | Jon Michael Simpson, Olivia Ducayen, Paige Evans, Presley Allard, Kristen MacCulloch |
Gênero | Terror, Comédia |
Ano de Lançamento | 2022 |
Produtoras | Paper Street Pictures, Hangar 18 Media |
O que me prendeu mais, no entanto, foi como o filme tece essas contradições sutis da vida. O demônio não é apenas uma ameaça sobrenatural; ele é, de certa forma, uma manifestação externa dos próprios fantasmas de Will: o medo do fracasso, a solidão, a dificuldade de seguir em frente. As interações com Mona (Kristen MacCulloch), a enigmática vizinha, ou Grace Sellers (Presley Allard), adicionam camadas de mistério e humor negro que enriquecem a narrativa. Não é uma história de bem contra o mal em sua forma mais pura; é uma história sobre lidar com o caos, seja ele interno ou um espírito imundo que rouba suas torradas.
Se você está procurando por um terror que te deixe sem dormir por semanas ou uma comédia que te faça rolar de rir a cada minuto, talvez Sorry About the Demon não seja exatamente isso. Mas se você busca um filme que te convide a refletir sobre o quão estranha a vida pode ser, e como o humor pode ser uma ferramenta de sobrevivência diante do insuportável, então este filme é para você. Ele não se importa em ser grandioso; ele se preocupa em ser genuíno. E, três anos depois de seu lançamento, ainda ressoa, mostrando que alguns demônios são mais difíceis de exorcizar do que pensamos, especialmente aqueles que vivem dentro de nós. Um filme para aqueles que entendem que, às vezes, a melhor maneira de lidar com o inferno é simplesmente pedir desculpas e tentar seguir em frente.