Terremoto: Um retrato humano e comovente da imigração, além da tragédia
Gabriel Martins, diretor de Terremoto, entregou em 2022 um filme que, olhando de 2025, se revela ainda mais relevante. A obra acompanha duas famílias haitianas que, após o devastador terremoto de 2010, buscam refúgio e melhores condições de vida em Contagem, Minas Gerais. A trama se desenvolve ao longo dos desafios da adaptação em um novo país, e a complexidade da situação é amplificada pela chegada da pandemia de Covid-19 no Brasil. É um filme sobre esperança, resiliência, e a busca por um lar, mas também sobre a dura realidade da imigração e as dificuldades que ela impõe.
A direção precisa de um olhar sensível
A direção de Martins é o ponto alto de Terremoto. Ele consegue equilibrar a delicadeza com a contundência, sem cair em pieguice ou em um apelo excessivo à emoção barata. A câmera, muitas vezes observadora, acompanha os personagens em seus momentos de fragilidade e de força, revelando a riqueza de suas expressões e a complexidade de suas vidas. Há uma sutileza na forma como ele retrata a cultura haitiana, sem a necessidade de estereótipos ou explicações excessivas. A escolha de cenas cotidianas, muitas vezes silenciosas, reforça a mensagem e a profundidade da narrativa. É um filme que, apesar dos temas densos, transborda leveza e poesia em muitos momentos.
Roteiro que acerta no tom, mas peca na construção
O roteiro, apesar de bem-intencionado e de apresentar diálogos naturais, apresenta alguns pontos de fragilidade na construção narrativa. Em alguns momentos, a trama sente a necessidade de apressar os acontecimentos, sacrificando a profundidade do desenvolvimento dos personagens secundários. Isso é especialmente perceptível nas relações familiares e seus conflitos. A estrutura narrativa poderia ter se beneficiado de uma exploração mais aprofundada desses relacionamentos, aprofundando as motivações e os impactos da experiência imigratória em cada membro da família.
| Atributo | Detalhe |
|---|---|
| Diretor | Gabriel Martins |
| Ano de Lançamento | 2022 |
Atuações impactantes e autênticas
As atuações são, sem dúvidas, um dos grandes trunfos do filme. O elenco consegue transmitir com maestria a gama de emoções vividas pelos personagens: a esperança, o medo, a saudade, a resiliência e a luta pela sobrevivência. A naturalidade das interpretações contribui para a imersão do espectador na história e nos faz sentir empatia pelos personagens. A escolha de atores não profissionais adiciona um toque especial de autenticidade à narrativa.
Pontos fortes e fracos em perspectiva
Terremoto brilha na sensibilidade com que aborda a experiência da imigração haitiana no Brasil. A direção primorosa e as atuações impecáveis constroem uma narrativa pungente, capaz de alcançar o espectador em nível emocional profundo. Porém, a pressa narrativa em certos momentos prejudica o desenvolvimento completo de algumas subtramas, o que poderia ter enriquecido ainda mais a trama.
Um retrato universal da busca pela sobrevivência
A mensagem central do filme transcende a experiência específica da imigração haitiana. Terremoto fala sobre a busca pela sobrevivência, a resiliência humana diante da adversidade, e a importância da família e da comunidade em tempos de crise. O filme nos lembra que, apesar das diferenças culturais e geográficas, a experiência humana é, em sua essência, universal. A inclusão da pandemia como um elemento adicional de dificuldade para as famílias amplifica esse aspecto universal da luta pela sobrevivência, demonstrando a fragilidade de muitos diante de crises globais.
Conclusão: um filme essencial para o nosso tempo
Apesar dos pequenos deslizes na construção narrativa, Terremoto se afirma como um filme essencial para ser visto, em 2025, e para os anos que virão. Sua força reside na capacidade de nos conectar emocionalmente com os personagens e nos fazer refletir sobre temas cruciais da nossa sociedade. Acho que a obra merece uma indicação sem hesitação para quem busca um cinema humanista, sensível e profundamente comovente. A sua disponibilidade em plataformas de streaming facilita o acesso a essa história fundamental que precisa ser contada e recontada. Recomendo fortemente a sua exibição.
