Uma Ode à Paciência e ao Mar: Uma Resenha de The Book of Fish
Quatro anos se passaram desde que The Book of Fish chegou às plataformas digitais, e ainda hoje a beleza melancólica e a profunda humanidade desse longa-metragem me assombram. Este não é apenas um filme sobre peixes; é uma reflexão sobre a resiliência do espírito humano frente à adversidade, sobre a busca pelo conhecimento, e sobre a inesperada beleza que pode florescer em meio à solidão.
A sinopse é simples: em 1801, após a ascensão de um novo rei, o estudioso Jeong Yak-jeon (interpretado por um majestoso 설경구) é exilado na isolada Ilha Heuk-san. Lá, ele encontra Chang-dae (o talentoso 변요한), um jovem pescador com um conhecimento vasto do mar e uma admiração pelo confucionismo que ecoa a do erudito. A partir daí, a história se desenrola, revelando uma relação inesperada e uma parceria que resulta em um trabalho monumental. Mas não esperem uma aventura marítima explosiva. A força de The Book of Fish reside na sutileza, na observação cuidadosa da natureza humana e da beleza silenciosa da paisagem.
A direção de 이준익 é primorosa. A escolha pelo preto e branco não é apenas um artifício estético; é uma decisão inteligente que realça o clima de melancolia e introspecção que permeia o filme. A fotografia é simplesmente de tirar o fôlego, cada cena emoldurada com uma delicadeza que revela a grandiosidade da natureza e a fragilidade humana. A estética minimalista reforça a narrativa contida, que se desdobra de maneira quase contemplativa.
| Atributo | Detalhe |
|---|---|
| Diretor | 이준익 |
| Roteirista | Kim Se-gyeom |
| Produtor | Sean Kim |
| Elenco Principal | 설경구, 변요한, Lee Jung-eun, 민도희, 차순배 |
| Gênero | História, Drama |
| Ano de Lançamento | 2021 |
| Produtoras | Plus M Entertainment, Cineworld |
Kim Se-gyeom, o roteirista, teceu uma trama que não se apressa. A construção da relação entre Jeong e Chang-dae é gradual, orgânica, e absolutamente convincente. Não há grandes reviravoltas ou momentos de ação frenética. Em vez disso, assistimos ao desenvolvimento de uma amizade improvável, forjada em meio à adversidade e à partilha do conhecimento. As atuações são impecáveis. 설경구 e 변요한 demonstram uma química incrível em cena, seus personagens se complementando perfeitamente na tela. Lee Jung-eun e os demais atores do elenco de apoio também entregam performances sólidas, enriquecendo ainda mais a experiência.
Apesar de sua beleza indiscutível, The Book of Fish não está isento de críticas. Alguns podem achar o ritmo lento demais, a narrativa um tanto contemplativa, até mesmo monótona. A ausência de um conflito externo mais explícito pode desagradar aqueles que buscam um enredo mais dinâmico. Para mim, porém, essa lentidão é uma virtude. Ela permite a imersão total na atmosfera do filme, na beleza contida e na profundidade dos personagens.
O filme aborda temas poderosos e atemporais: a solidão do exílio, o poder transformador do conhecimento, a importância das conexões humanas. A mensagem central, para mim, é a celebração da paciência, da perseverança, e do valor do conhecimento, mesmo em circunstâncias adversas. A construção da enciclopédia de peixes não é apenas um ato de catalogação; é um ato de resistência, um testemunho da capacidade humana de encontrar significado e propósito mesmo em meio à desolação.
Concluindo, The Book of Fish é uma obra-prima cinematográfica que exige paciência e atenção do espectador, mas que recompensa generosamente aqueles que se entregam à sua beleza única. Não se trata de um filme para todos os gostos. Se você busca ação frenética e reviravoltas constantes, talvez se decepcione. Mas se você aprecia a cinematografia sublime, a sutileza da narrativa e uma exploração profunda da condição humana, então não perca a oportunidade de assistir a esse filme memorável. Recomendo fortemente sua exibição, mesmo em 2025, pois sua mensagem transcende as modas passageiras do cinema. A beleza de The Book of Fish continua a resonar, quatro anos depois de seu lançamento, como um testemunho da potência do cinema contemplativo e da força do espírito humano.




