Quando um filme não apenas preenche a tela, mas se aninha em um cantinho esquecido da sua alma, você sabe que encontrou algo especial. E foi exatamente isso que aconteceu comigo com The Child Who Measured the World, uma obra de Takis Candilis que, mesmo mais de um ano após sua estreia original em junho de 2024, continua a ressoar em mim como a melodia de um barco solitário no Egeu. Não é apenas uma história; é uma tapeçaria intrincada de dores, descobertas e a quietude sublime de quem tenta entender o universo através de um olhar diferente.
Permita-me tecer algumas impressões, não como um julgamento frio, mas como um convite a sentir. O que me puxou para este filme, inicialmente, foi o título. “A Criança Que Mediu o Mundo.” Quanta poesia, quanta promessa de uma perspectiva única. E o que Candilis, com o auxílio dos roteiristas Samy Baaroun e Karim Boukercha, entrega, é exatamente isso: uma lente para enxergar as distâncias entre corações, as profundezas da perda e a infinita capacidade humana de (re)encontrar o amor, mesmo onde menos se espera.
A história nos apresenta a Alexandre Varda, um papel maravilhosamente contido por Bernard Campan. Seus ombros parecem carregar o peso de um passado que ele mal compreende, uma angústia silenciosa que o segue de Paris, a cidade das luzes, para as paisagens ensolaradas da Grécia. Campan não precisa de muitos diálogos para nos dizer que Alexandre é um homem ferido, um homem que precisa se reconectar com algo, ou alguém, que se perdeu em meio ao turbilhão da vida. Ele mostra a dor na forma como seus olhos pairam sobre o horizonte, na lentidão de seus gestos, como se cada movimento fosse um esforço contra uma corrente invisível.
E então, em meio a essa jornada de um recém-chegado à Grécia, de um homem em busca de respostas sobre suas raízes, sobre um filho (Yannis Varda, interpretado por Raphael Brottier) e talvez sobre si mesmo, surge a figura central: a criança. Ou, como eu prefiro pensar nela, a alma que mede o mundo. Sem mergulhar em spoilers profundos, o filme sutilmente nos guia por revelações sobre autismo e transtornos mentais, não como um fardo, mas como uma forma diferente de perceber a realidade. A forma como o elenco, especialmente Μαρία Αποστολακέα como Maria ‘Maraki’ Economou e Fotinì Peluso como Theofania Reppa, constrói essas relações com a criança é de uma ternura que quase dói. É um lembrete de que o amor, o verdadeiro, não precisa de palavras complexas para ser compreendido. Basta um olhar, um toque, a paciência infinita de quem ama.
| Atributo | Detalhe |
|---|---|
| Diretor | Takis Candilis |
| Roteiristas | Samy Baaroun, Takis Candilis, Karim Boukercha |
| Produtores | Roméo Cirone, Jean-Michel Lorenzi |
| Elenco Principal | Bernard Campan, Μαρία Αποστολακέα, Fotinì Peluso, Raphael Brottier, Anna Tzanakaki, Στάθης Κόκκορης, Πάνος Κρανιδιώτης, Metin Arditi, Γιάννης Ποιμενίδης, Δημήτρης Γκουτζαμάνης |
| Gênero | Drama |
| Ano de Lançamento | 2024 |
| Produtoras | Roméo Drive Productions, YTA Productions, France 2 Cinéma, Blonde Audiovisual Productions, AT-Production |
Os cenários são, por si só, personagens. De Paris a Atenas, e finalmente à beleza agreste e pacífica da ilha de Kalamaki, a paisagem se transforma junto com os estados de espírito de Alexandre. As imagens são de uma beleza tirar o fôlego, como se a própria câmera de Candilis estivesse medindo a alma dos lugares, não apenas dos personagens. Sabe, quando a luz do sol reflete no mar Egeu e você sente o sal no ar, mesmo sentado no escuro de uma sala de cinema? É assim. Essa “mudança de cenário” não é só geográfica; é uma passagem da introspecção para a aceitação, da melancolia para a esperança.
The Child Who Measured the World é um drama que explora as complexidades das relações familiares — pais e filhos, avós e netos, órfãos procurando seus lugares no mundo. Ele aborda o luto com uma delicadeza palpável, mostrando que as lágrimas podem ser silenciosas, mas a dor é universal. Mas, mais do que a dor, o filme nos oferece a esperança. A esperança de que, mesmo com questões de propriedade, segredos enterrados e velhas feridas, a família pode se reagrupar, pode encontrar um novo significado.
Não é um filme que te entrega tudo de bandeja. Ele respira. Ele convida você a preencher os espaços, a se perguntar sobre suas próprias conexões, sobre as pessoas que mediram seu mundo de maneiras inesperadas. A direção de Candilis é discreta, mas poderosa, permitindo que as performances e as emoções brilhem sem artifícios. É o tipo de filme que, depois que termina, você não pula imediatamente para o próximo. Você fica ali, imerso, sentindo o eco das vozes, o peso daquelas vidas.
Porque, no fundo, todos nós somos um pouco a criança que mede o mundo, não somos? Tentando entender o tamanho do nosso próprio coração, a distância entre o que somos e o que queremos ser, a infinidade das conexões que nos unem. E para mim, este filme de Takis Candilis é uma das mais belas e sutis tentativas de nos ajudar a fazer exatamente essa medição. E tá tudo bem chorar um pouco no processo.



