Sabe, de vez em quando, um filme chega discretamente, talvez sem o alarde dos grandes blockbusters, mas se instala na nossa memória de uma forma tão particular que a gente se vê voltando a ele anos depois. É o que acontece comigo com The Colour Room. Já faz um tempo desde que ele pisou em terras brasileiras, lá em julho de 2022, e cá estamos nós, em outubro de 2025, e a história de Clarice Cliff ainda ressoa aqui dentro, sabe? Não é só sobre a arte da cerâmica, não. É sobre a coragem de ser diferente, de desafiar o cinza que insiste em se impor.
O que me puxa para esse filme, dirigido por Claire McCarthy e com roteiro de Claire Peate, é essa jornada tão humana de uma mulher que, no epicentro industrial e um tanto monótono da Grã-Bretanha dos anos 1920, decide que não vai se contentar em ser apenas mais uma engrenagem. Clarice Cliff, interpretada com uma efervescência contagiante por Phoebe Dynevor, não é dessas que pedem licença. Ela é dessas que chegam, observam e, com um brilho nos olhos que parece ter vindo de outro mundo, perguntam: “E se fizermos diferente?”.
Phoebe Dynevor, que muitos conhecem por outros dramas de época, aqui se despe de parte da formalidade e abraça uma Clarice que é pura vivacidade e uma audácia quase palpável. Você a vê em cena e sente a faísca. Não é só que ela é talentosa; é que ela transborda talento e uma visão que ninguém mais parecia ter naquele ambiente. Aquelas mãos, que deveriam estar cumprindo tarefas repetitivas, parecem implorar por argila, por cores, por uma forma de expressão que transcenda a fábrica. E é fascinante ver como a atriz consegue nos mostrar essa inquietação interna, essa força silenciosa que explode em padrões e tons nunca antes vistos. Ela não fala apenas com palavras; o jeito que ela se move, a forma como seus olhos percorrem o ambiente, tudo grita “inovação”.
A trama se desenrola nesse cenário de fábricas esfumaçadas, onde a vida de uma operária da classe trabalhadora era pré-determinada por linhas de produção e expectativas sociais bem rígidas. Aí entra Colley Shorter, o excêntrico dono da fábrica, vivido por um Matthew Goode que, com seu charme peculiar, consegue ser ao mesmo tempo cético e intrigado pela energia de Clarice. A dinâmica entre os dois é um dos pilares do filme. Ele, o patriarca estabelecido, e ela, a jovem disruptiva. Não é um romance clichê, mas uma colisão de mundos que, de alguma forma, se complementam. É um embate de egos e visões que, no fim, gera algo belo. Pense em como seria desafiador para um homem daquela época, com todo o peso das tradições, ter que reconhecer e dar espaço para o gênio de uma mulher que, além de jovem e de uma classe “inferior”, ainda por cima se recusa a seguir as regras. É uma tensão que se desenrola de forma sutil, mas impactante.
Atributo | Detalhe |
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Diretora | Claire McCarthy |
Roteirista | Claire Peate |
Produtores | Georgie Paget, Thembisa Cochrane |
Elenco Principal | Phoebe Dynevor, Matthew Goode, David Morrissey, Kerry Fox, Luke Norris |
Gênero | Drama |
Ano de Lançamento | 2021 |
Produtoras | Caspian Films, Sky Movies, Onsight, Media Finance Capital, Creative England, Denaire Motion Picture Poetry, 80 HERTZ Studios, ARRI Rental, Aquarium Studios |
E não posso deixar de mencionar a importância do elenco de apoio. David Morrissey, como Fred Ridgeway, traz uma solidez necessária, ancorando a realidade industrial, enquanto Kerry Fox como Ann Cliff, a mãe de Clarice, adiciona camadas de sacrifício e esperança familial. Luke Norris, como Guy Shorter, também contribui para essa tapeçaria de relações, mostrando os diferentes ângulos e resistências que Clarice precisava enfrentar. Esses personagens, cada um a seu modo, são as paredes que Clarice precisa pintar, as barreiras que ela precisa transpor.
The Colour Room não é apenas sobre a ascensão de uma artista; é um estudo sobre como a arte pode revolucionar não só um produto, mas também um local de trabalho e as vidas das pessoas que o habitam. É sobre a coragem de injetar vida, cor e paixão em um mundo que teima em ser cinzento. Aquelas cerâmicas vibrantes de Clarice Cliff não eram apenas louças; eram um grito de liberdade, uma declaração de que a beleza e a criatividade poderiam florescer mesmo nos ambientes mais improváveis.
Quando assisti, fui levado por essa energia. O filme, co-produzido por nomes como Caspian Films e Sky Movies, com Georgie Paget e Thembisa Cochrane na produção, tem um cuidado visual que te transporta para a época. A cinematografia de Malcolm Hadley consegue capturar tanto o lado austero das fábricas quanto a explosão de cores que Clarice traz. Você quase pode sentir o cheiro da argila, o calor dos fornos, a textura dos esmaltes. É uma experiência imersiva que mostra, em vez de contar, o impacto da visão de Clarice.
Em 2025, o mundo parece estar sempre correndo, sempre em busca da próxima grande coisa. Mas filmes como The Colour Room nos lembram que a revolução, por vezes, acontece em silêncio, nas oficinas poeirentas, através das mãos de alguém que simplesmente se recusa a aceitar o status quo. É um lembrete de que a paixão e a autenticidade são forças imparáveis, capazes de quebrar moldes e colorir o futuro. E não é exatamente isso que a gente precisa hoje em dia? Um pouco mais de cor, um pouco mais de Clarice Cliff em cada um de nós. Vá assistir, se ainda não viu, ou reveja. Te garanto que a experiência será tão vívida quanto um dos vasos pintados por ela.