The Late Show with Stephen Colbert: Uma década de ironia mordaz e… sucesso?
Em 2015, Stephen Colbert assumiu a cadeira de David Letterman no Late Show, prometendo uma nova era para o talk show noturno. Dez anos se passaram desde então (aqui, em setembro de 2025), e olhando para trás, a empreitada se revela mais complexa do que um simples sucessão de sucessos. A sinopse básica é simples: Colbert, interpretando uma versão (ligeiramente) mais contida de si mesmo, entrevista celebridades, apresenta esquetes cômicos e destila sua peculiar marca de humor sarcástico sobre os eventos atuais. Mas a experiência de assistir a The Late Show ao longo desses anos é muito mais matizada do que isso.
A máscara do sátiro inteligente
A direção do programa, em suas diversas temporadas, sempre equilibrou a elegância da produção da CBS com a energia frenética – às vezes, excessiva – das piadas e monólogos de Colbert. A escrita, inicialmente muito atrelada ao seu personagem pretensioso e conservador do The Colbert Report, evoluiu, se tornando mais direta e, em alguns momentos, surpreendentemente vulnerável. A atuação de Colbert é, sem dúvida, o ponto central. Ele transita com maestria entre o humor mordaz e a reflexão ponderada, revelando um domínio cênico que poucos apresentadores conseguem igualar. Mas aqui reside o cerne do meu problema – ou, melhor dizendo, da minha ambivalência – com a série.
O peso da performance
A crítica que diz que Colbert se tornou “um sujeito arrogante” não está totalmente equivocada. Há uma certa autoconsciência, uma quase ostentação de inteligência, em sua apresentação que, a longo prazo, pode se tornar cansativa. A famosa – e polêmica – abordagem de sua cobertura da administração Trump, como mencionado na crítica que li, foi um divisor de águas. Gerou audiência, sim, e solidificou sua posição no cenário televisivo, mas também contribuiu para uma sensação de repetição e, às vezes, de oportunismo.
Atributo | Detalhe |
---|---|
Criadores | Chris Licht, Tom Purcell, Stephen Colbert, Jon Stewart |
Elenco Principal | Stephen Colbert |
Gênero | Comédia, Talk |
Ano de Lançamento | 2015 |
Produtoras | Spartina Productions, CBS Studios |
Um triunfo estratégico, um dilema artístico
Os pontos fortes de The Late Show são inegáveis: a qualidade da produção, a presença inquestionável de Colbert como apresentador, e a capacidade de convidar figuras relevantes de todos os setores da sociedade. Contudo, a insistência em certos formatos – e a dependência excessiva do monólogo político – acaba ofuscando as potencialidades mais sutis do programa. A capacidade de Colbert de ser espirituoso e incisivo, de conduzir entrevistas inteligentes e até mesmo de extrair emoções genuínas de seus convidados, acaba sendo prejudicada por essa constante necessidade de afirmar uma posição política.
O silêncio além do sarcasmo
A mensagem central de The Late Show, ao menos em sua leitura mais superficial, é a importância do engajamento cívico e da crítica. Porém, o tom frequentemente sarcástico, apesar de eficaz em momentos específicos, acabou por construir uma blindagem que, em alguns momentos, impediu uma exploração mais profunda de temas complexos. A ironia, como um escudo, se torna uma muralha.
Um legado ainda em construção
Em resumo, The Late Show with Stephen Colbert é uma série de contrastes. Um sucesso inegável em termos de audiência e impacto cultural, mas uma obra de arte irregular, que se esquiva de uma autocrítica profunda. Recomendo sua apreciação, sobretudo para quem acompanha o cenário político americano e aprecia um humor inteligente, porém, com a advertência de que a máscara de Colbert, por mais charmosa que seja, às vezes obscurece mais do que revela. A série merece ser assistida, mas não com a expectativa de um produto impecável, e sim como um estudo de caso fascinante da dinâmica entre entretenimento, política e o triunfo – e as armadilhas – do carisma.