The Noite com Danilo Gentili

Existe algo quase mágico em ligar a TV, tarde da noite, e encontrar um refúgio. Para mim, e para milhões de brasileiros, esse refúgio tem nome e sobrenome: The Noite com Danilo Gentili. Por que eu, um crítico que já viu de tudo, dedico meu tempo a desbravar as camadas de um talk-show que, à primeira vista, parece tão despretensioso? Porque ele não é. Ele pulsa com uma energia caótica e uma inteligência afiada que poucos programas conseguiram replicar ao longo dos anos. Desde o seu lançamento em 2014, o The Noite não apenas ocupou um espaço na grade do SBT, ele o transformou, o moldou à sua própria imagem, um espelho divertido e, por vezes, ácido da nossa própria sociedade.

Quando penso em The Noite, a imagem que me vem à mente não é apenas a de um apresentador atrás de uma bancada. É a orquestra completa: a gargalhada inconfundível do Diguinho Coruja ecoando pelo estúdio, os acordes da Ultraje a Rigor elevando o astral antes mesmo do Gentili surgir, a presença quase silenciosa, mas sempre cômica, da Juliana, e as tiradas surreais de figuras como Igor Guimarães. Não se trata de uma coleção de peças separadas, mas de um organismo vivo que respira com um ritmo próprio, ditado pela mente criativa de Danilo Gentili. Ele não é apenas o apresentador; ele é o arquiteto de todo esse universo.

Vamos falar do Gentili. É fácil rotulá-lo, simplificar sua persona. Mas, como observador atento, o que eu vejo é um humorista que dominou a arte de ser ao mesmo tempo o maestro e o bobo da corte. Suas entrevistas são um espetáculo à parte. Esqueça as perguntas protocolares; Danilo prefere desviar, provocar, criar situações inusitadas que tiram o convidado do seu script ensaiado. Lembro-me de uma vez em que ele transformou uma conversa séria em um jogo de adivinhação aleatório, e a genialidade estava exatamente ali, em desarmar o esperado para entregar algo genuinamente engraçado. Ele não está ali apenas para extrair fatos, mas para criar momentos, para nos fazer rir com e, por vezes, dos seus convidados. É uma dança delicada entre o respeito e a irreverência, um equilíbrio que poucos conseguem manter sem cair na armadilha da ofensa gratuita.

E a banda, a lendária Ultraje a Rigor? Eles são a trilha sonora e, mais importante, o coração pulsante do programa. Não são meros músicos de apoio; são atores coadjuvantes que participam das piadas, das cenas, das reações. Aquele olhar de Roger Rocha Moreira para a câmera, a guitarra elétrica de Marcos Kleine adicionando um toque de ironia a um momento tenso – tudo isso contribui para a tapeçaria única de comédia que The Noite tece noite após noite. Eles são a prova de que um talk-show pode ser muito mais do que apenas uma entrevista: pode ser um show completo, com música, esquetes e personagens que se tornaram tão familiares quanto os nossos próprios amigos.

O que o The Noite conseguiu ao longo desses mais de onze anos no ar, desde aquele primeiro ano em 2014, foi algo raro. Em um cenário televisivo que muitas vezes peca pela previsibilidade, ele se mantém relevante porque não tem medo de se reinventar, de cutucar feridas, de rir de si mesmo e do mundo à sua volta. Não é sobre ser “cativante” ou “incrível” no sentido genérico; é sobre ser autêntico, ter uma voz própria, e construir uma comunidade de espectadores que entendem e apreciam essa irreverência calculada. É um programa que sabe o seu lugar no fim da noite, um espaço onde as convenções são afrouxadas e o riso é a moeda mais valiosa.

Para mim, The Noite é mais do que um programa de TV. É um lembrete de que a comédia, em sua melhor forma, é um ato de subversão. É um convite para rir das nossas próprias imperfeições e das bizarrices do cotidiano. E você, qual foi o momento mais inesquecível que o The Noite com Danilo Gentili te proporcionou? Compartilhe nos comentários!