The Summoned: O Preço do Sucesso e a Herança Maldita em um Thriller Que Incomoda
É raro encontrar um filme que me faça parar para realmente sentir o peso das suas questões, em vez de apenas pensar nelas. The Summoned, lançado há cerca de três anos, em 2022, e que revisitamos agora em setembro de 2025, é uma dessas joias perturbadoras que, como um vírus incubado, se manifesta em reflexões tardias. Não é um terror de sustos baratos, nem um mistério de reviravoltas mirabolantes a cada cinco minutos. É algo mais insidioso, mais… pessoal. Uma viagem ao coração da ambição humana e às suas consequências mais sombrias, um território onde o sucesso tem um custo que transcende o monetário.
O longa-metragem nos apresenta a dois casais de alto nível: Elijah (J. Quinton Johnson) e Lyn (Emma Fitzpatrick), e Tara (Angela Gulner) e Joe (Salvador Chacon). Eles são convidados para um retiro de autoajuda exclusivo, um daqueles eventos esotéricos e de luxo que prometem desvendar o segredo da plenitude. O anfitrião, um enigmático Frost (Frederick Stuart), orquestra o cenário perfeito de isolamento e introspecção. Tudo parece seguir a cartilha do coaching de alta performance, até que a cortina se ergue, revelando uma verdade chocante: os ancestrais desses quatro venderam suas almas gerações atrás, e agora, o pacto chegou à sua hora de ser cobrado. De repente, o retiro paradisíaco se transforma em um tribunal macabro, onde o passado ressoa com uma crueldade inescapável no presente.
Não se engane pelo verniz inicial de drama psicológico; The Summoned mergulha de cabeça nos gêneros de Thriller, Terror e Mistério, mas o faz com uma inteligência que muitos filmes do tipo raramente alcançam. A grande sacada do roteirista Yuri Baranovsky, um dos produtores do filme ao lado de Angela Gulner, Justin Morrison, Dashiell Reinhardt e Mark Meir, é usar o conceito de “venda da alma” não como uma metáfora abstrata, mas como um pacto literal que precisa ser cumprido. Isso confere ao filme uma urgência visceral, transformando cada diálogo e cada silêncio em uma peça crucial do quebra-cabeça existencial que os personagens são forçados a montar.
| Atributo | Detalhe |
|---|---|
| Diretor | Mark Meir |
| Roteirista | Yuri Baranovsky |
| Produtores | Angela Gulner, Yuri Baranovsky, Justin Morrison, Dashiell Reinhardt, Mark Meir |
| Elenco Principal | J. Quinton Johnson, Emma Fitzpatrick, Angela Gulner, Salvador Chacon, Frederick Stuart |
| Gênero | Thriller, Terror, Mistério |
| Ano de Lançamento | 2022 |
| Produtoras | Wicked Myth Films, Happy Little Guillotine Studios |
A Direção Que Sufoca e o Roteiro Que Desmascara
Mark Meir, na direção, demonstra uma habilidade notável em construir uma atmosfera de tensão crescente sem recorrer a jump scares fáceis. Ele entende que o verdadeiro terror em The Summoned não está em monstros ou aparições, mas na inevitabilidade de um destino pré-determinado e na desintegração moral dos personagens. A câmera de Meir é uma testemunha implacável, capturando os close-ups do desespero e a grandiosidade opressora da propriedade que serve de palco para o inferno pessoal dos protagonistas. Há uma claustrofobia psicológica que se instala, mesmo em ambientes abertos e luxuosos, um feito que merece aplausos.
O roteiro de Baranovsky, por sua vez, é o coração pulsante deste filme. Ele navega com destreza pelas nuances da culpa, da responsabilidade geracional e da tentação do sucesso fácil. A forma como os personagens reagem à revelação, com negação, raiva, desespero e, por fim, uma aceitação perturbadora, é complexa e verossímil. O diálogo é afiado, pontuado por provocações e verdades incômodas, e a estrutura do mistério se desenrola de maneira orgânica, revelando camadas de intriga e terror psicológico que prendem o espectador do início ao fim. As produtoras Wicked Myth Films e Happy Little Guillotine Studios claramente apostaram em uma narrativa que, embora fantasiosa, é profundamente enraizada em dilemas humanos.
Performances Que Carregam o Peso da Maldição
O elenco principal entrega performances que elevam significativamente o material. J. Quinton Johnson, como Elijah, é a âncora moral do grupo, seu desespero e relutância em aceitar a barbárie do pacto são palpáveis. Emma Fitzpatrick, no papel de Lyn, transita com maestria entre a vulnerabilidade e uma força latente, que emerge à medida que a situação se deteriora. Mas são Angela Gulner como Tara e Salvador Chacon como Joe que, para mim, roubam a cena em momentos cruciais. A dinâmica de poder, os segredos e as fraquezas de seu relacionamento são explorados com uma crueza que é difícil de assistir, mas impossível de ignorar. E, claro, Frederick Stuart como Frost é o mestre de cerimônias perfeito, com uma frieza calculista e um carisma sombrio que o tornam absolutamente inesquecível. Ele é a encarnação da ameaça, o agente do destino que não se apressa, pois sabe que tem todo o tempo do mundo.
O Ver(e)dito Final: Um Espelho Que Reflete Nossas Próprias Almas
The Summoned não é um filme perfeito. Houve momentos em que o ritmo, intencionalmente lento para construir a tensão, pareceu testar um pouco a paciência, e algumas escolhas dos personagens, ainda que compreensíveis dentro do pânico, podem soar um pouco clichês. No entanto, esses são pequenos arranhões em uma obra que, no geral, é assustadoramente eficaz.
Pontos Fortes:
Premissa original e instigante: A ideia de um pacto ancestral cobrado no presente é brilhante e subversiva.
Construção de atmosfera: Mark Meir cria um terror psicológico sufocante sem depender de clichês.
Roteiro inteligente: Yuri Baranovsky tece uma narrativa rica em suspense, dilemas morais e reviravoltas bem colocadas.
Atuações impactantes: O elenco principal, especialmente Frederick Stuart, eleva o material com performances críveis e intensas.
Temas profundos: A exploração da ambição, do sucesso a qualquer custo, da culpa geracional e da moralidade é potente.
Pontos Fracos:
Pacing ocasionalmente lento: Para alguns, o ritmo pode ser um pouco arrastado em certas partes, embora sirva ao propósito da tensão.
Algumas decisões de personagens: Em poucos momentos, as escolhas dos protagonistas podem parecer um tanto convenientes para o enredo, mas não comprometem a experiência geral.
Em última análise, The Summoned é um filme que me pegou desprevenida. Ele não grita para ser notado, mas sua mensagem sussurra no seu ouvido muito depois que os créditos sobem. É uma crítica ácida à cultura do sucesso a todo custo, questionando a que ponto estamos dispostos a ir – ou a que ponto nossos antepassados foram – para alcançar o topo. É uma fábula moderna sobre responsabilidade e herança, não apenas de bens materiais, mas de pecados e dívidas.
Para quem busca um terror que vai além do susto fácil, um thriller que te faz pensar e um mistério que desvenda verdades sombrias sobre a natureza humana, The Summoned é uma recomendação enfática. É um filme que, três anos após seu lançamento original, prova que o verdadeiro horror reside na alma humana e nos pactos invisíveis que fazemos. Prepare-se para ser invocado, para questionar o preço do seu próprio sucesso e, talvez, para olhar com desconfiança para aquele próximo convite para um retiro “exclusivo”.




