There Are No Saints: Uma Vingança Amarga e Necessária
Confesso: cheguei a There Are No Saints com as expectativas moderadas. Mais um thriller de ação, pensei. Mais um homem bom preso numa teia de conspirações, família ameaçada, etc. Mas, caramba, que grata surpresa! Lançado em 2022, o filme de Alfonso Pineda Ulloa, com roteiro do mestre Paul Schrader, se revelou algo muito mais profundo do que a sinopse inicial sugere. Trata-se de um homem, apelidado de “o Jesuíta”, injustamente preso, que vê sua esposa assassinada e seu filho sequestrado no México. A partir daí, ele embarca numa jornada brutal e visceral de resgate e vingança.
A trama, embora se apoie em um clichê narrativo, é conduzida com uma elegância e uma brutalidade calculada que me prenderam do início ao fim. A fotografia crua e o ritmo frenético, combinados com a trilha sonora tensa e angustiante, criam uma atmosfera opressiva e sufocante. A direção de Pineda Ulloa, embora não seja revolucionária, é eficiente e segura, conduzindo a narrativa com pulso firme, sem jamais perder o foco na jornada emocional de Neto Niente (José María Yázpik).
E falando em Yázpik, a performance dele é simplesmente excepcional. Ele transita com maestria entre a dor contida, a fúria reprimida e a determinação implacável. É um desempenho visceral, físico, que transcende o estereótipo do herói de ação. Shannyn Sossamon, como Inez, a esposa, embora com pouco tempo em tela, deixa sua marca com uma performance intensa e carregada de emoção. O restante do elenco, incluindo Tommy Flanagan, Ron Perlman e Karla Souza, oferece interpretações sólidas, contribuindo para a atmosfera sombria e claustrofóbica do filme.
A escrita de Paul Schrader, lendário roteirista de Taxi Driver e Raging Bull, é nítida e concisa, sem rodeios. Ele entrega diálogos cortantes e personagens complexos, evitando o maniqueísmo. Não há heróis ou vilões puros em There Are No Saints; todos operam em zonas cinzentas, movidos por suas próprias motivações, algumas mais nobres, outras menos. Esta ambiguidade moral é um dos pontos fortes do filme, que se distancia dos thrillers de ação mais simplistas.
| Atributo | Detalhe |
|---|---|
| Diretor | Alfonso Pineda Ulloa |
| Roteirista | Paul Schrader |
| Produtores | Santiago Garcia Galvan, Alex Garcia, Jose Martinez Jr. |
| Elenco Principal | José María Yázpik, Shannyn Sossamon, Tommy Flanagan, Ron Perlman, Karla Souza |
| Gênero | Ação, Mistério, Thriller |
| Ano de Lançamento | 2022 |
| Produtoras | Open Window Productions, BN Films, Itaca Films, Itaca Films |
Apesar de seus méritos, o filme não está isento de críticas. Algumas reviravoltas na trama podem parecer um pouco previsíveis para os aficionados do gênero. E em alguns momentos, a violência, embora bem executada, beira o excessivo. No entanto, esses pequenos deslizes não conseguem ofuscar a força da narrativa principal e o poder das atuações.
O filme, em última análise, explora temas universais como justiça, vingança, perda e a fragilidade da família diante da violência. É uma jornada emocionalmente devastadora, mas também profundamente humana. Ao contrário do título que sugere uma ausência de redenção, There Are No Saints deixa uma mensagem ambígua: a linha entre justiça e vingança é tênue, e a busca por ambas pode ter consequências devastadoras e inesperadas. É um filme que te deixa pensando, mesmo depois dos créditos finais.
Para quem aprecia thrillers de ação com uma pitada de realismo sujo e personagens moralmente ambíguos, There Are No Saints é uma recomendação calorosa. Não espere pirotecnia visual desnecessária ou heróis imponentes; esperem sim, uma jornada angustiante e visceral, conduzida por atuações poderosas e uma narrativa envolvente. No geral, um filme que, apesar de alguns pequenos defeitos, deixa uma marca duradoura e reafirma a capacidade do cinema de explorar temas complexos com força e elegância. Três anos e meio depois de seu lançamento, ainda recomendo fortemente a sua procura em plataformas digitais. Vale a experiência.




