Transmissões Sinistras

Sabe, há filmes que a gente vê e esquece tão logo os créditos sobem. E existem outros que, ah, esses são diferentes. Eles se aninham em um cantinho da sua mente, como um parasita visual, e de repente, dias depois, você se pega pensando neles. Transmissões Sinistras é, para mim, exatamente esse tipo de filme. Ele não grita para chamar atenção; ele sussurra, com uma voz distorcida pelo chiado de uma fita velha, e te convida a um mergulho em algo profundamente perturbador.

Lembro-me da primeira vez que ouvi falar dele, lá em 2023, quando finalmente chegou por aqui, dois anos depois de sua estreia original. A premissa de um arquivista de vídeo nos anos 90 desenterrando broadcasts piratas e mergulhando em uma conspiração soou como música para meus ouvidos de fã de terror analógico. E, sim, muitos pensaram, “Ah, mais um ‘found footage’ ou algo na linha ‘Max Headroom’!”, como se pode ler em algumas críticas gringas. Mas Jacob Gentry, o diretor, com o roteiro de Phil Drinkwater e Tim Woodall, entrega algo bem mais matizado, uma ode ao terror lento, atmosférico, que se infiltra na sua pele.

O que me prendeu, antes de mais nada, foi a ambientação. Você é jogado de cabeça nos anos 90 de Chicago, Illinois. E não é um 90s pasteurizado de série de TV. É um 90s com cheiro de mofo de porão, com o zumbido melancólico de aparelhos VHS e a luz azulada e trêmula de monitores CRT. A equipe de Queensbury Pictures e Dark Sky Films, com os produtores Nicola Goelzhaeuser e companhia, fez um trabalho espetacular em criar uma textura visual que te transporta para essa época. A iluminação, como bem notou um crítico, não é apenas funcional; ela é uma personagem, pintando sombras longas e evocando uma solidão quase tátil. Parece mesmo que estamos assistindo a um filme independente feito naquela década, e isso é um baita elogio.

Nosso guia por essa toca de coelho digital é James, interpretado por Harry Shum Jr. E olha, o James não é um herói de ação. Ele é um arquivista, um cara que vive no silêncio e na rotina da catalogação. Mas o silêncio dele é pesado, carregado pela dor da perda de uma mulher – uma dor que, você sente, é o combustível para a sua obsessão. Ele se agarra a essas ‘transmissões sinistras’ não apenas por um desejo de resolver um enigma, mas talvez como uma fuga, uma maneira de dar sentido ao caos do seu próprio luto. É a paranoia, o grief e o puzzle se entrelaçando de uma forma brutalmente humana. A performance de Shum Jr. é um estudo em contenção e desespero silencioso. Seus olhos, muitas vezes fixos na tela piscando, parecem absorver o pânico que emana das imagens distorcidas, e você acompanha cada pequeno tremor em suas mãos enquanto ele manipula uma fita, sentindo a mesma ansiedade.

Atributo Detalhe
Diretor Jacob Gentry
Roteiristas Phil Drinkwater, Tim Woodall
Produtores Nicola Goelzhaeuser, Giles Edwards, Brett Hays, Greg Newman
Elenco Principal Harry Shum Jr., Kelley Mack, Chris Sullivan, Michael B. Woods, Arif Yampolsky
Gênero Terror, Mistério, Thriller
Ano de Lançamento 2021
Produtoras Queensbury Pictures, Dark Sky Films

E as transmissões, meus amigos… ah, as transmissões. Elas são a alma do filme, um portal para o surrealismo mais visceral. Não são apenas falhas ou interferências. São flashes rápidos, perturbadores, de figuras mascaradas, gritos abafados, gestos enigmáticos. São como pesadelos projetados diretamente do subconsciente coletivo, instigando a ideia de uma conspiração sombria, de hackers que brincam com nossas mentes, ou de algo ainda mais sinistro, talvez até sobrenatural. A linha entre a realidade e a alucinação de James se torna tão tênue que, muitas vezes, nos pegamos questionando a própria sanidade do protagonista – e, por extensão, a nossa.

A jornada de James o leva a encontrar figuras igualmente estranhas: Alice (Kelley Mack), que talvez ofereça uma ponte para a realidade, e Phreaker (Chris Sullivan), um hacker que parece ter mais respostas do que revela, um daqueles tipos que vivem à margem, no lado obscuro da rede. Michael B. Woods como MacAlister e Arif Yampolsky como Chester completam esse quebra-cabeça humano, cada um adicionando uma camada de ambiguidade ao mistério central. Eles não são meros coadjuvantes; são peças-chave na complexa tapeçaria de paranoia e desconfiança que Gentry constrói.

Transmissões Sinistras é um filme sobre a busca por verdade em um mundo onde a informação é tão abundante quanto enganosa. É sobre como a obsessão, alimentada pela dor, pode nos levar a lugares muito escuros. Não espere sustos fáceis ou respostas mastigadas. Este é um terror psicológico, um mistério que se dobra sobre si mesmo, um thriller que te deixa com uma sensação persistente de desconforto, como o eco de uma estática de rádio que nunca desaparece por completo. É um filme que, como um bom quebra-cabeça, te convida a montar as peças, mesmo sabendo que a imagem final pode ser mais perturbadora do que você imaginava. E, para mim, é exatamente por isso que ele vale cada minuto. Ele não só me fez pensar, mas me fez sentir – e isso, meu caro leitor, é o maior elogio que posso dar a uma obra.

Trailer

Oferta Especial Amazon Prime

Assine o Amazon Prime e assista a Transmissões Sinistras no Prime Video.

Você ainda ganha frete GRÁTIS em milhares de produtos, milhões de músicas com o Amazon Music e muito mais. *Benefícios sujeitos aos termos do Amazon Prime.

Assinar Amazon Prime