Ah, Trem-Bala! Mais de três anos se passaram desde que esse turbilhão chegou aos cinemas, e eu me pego pensando nele de novo. Por quê? Talvez seja o caos controlado, a energia que David Leitch infunde em cada cena, ou talvez só a ideia de um trem-bala japonês se transformar em um palco para uma das mais divertidas e sangrentas comédias de ação que vi nos últimos tempos. É um filme que, de tempos em tempos, me puxa de volta para aquela cabine apertada, cheia de assassinos desavisados e ironias do destino.
Imagine a cena: você, como um assassino azarado mas com um novo mantra de paz, é jogado dentro de um shinkansen ultramoderno que rasga a paisagem japonesa de Tóquio a Morioka. Um trem de alta velocidade que, paradoxalmente, se transforma num espaço claustrofóbico para cinco, seis, talvez dez personagens que, de alguma forma, estão conectados por um fio tênue de sorte (ou azar) e um maleta misteriosa. Brad Pitt, no papel de Ladybug, é o epicentro dessa confusão, um sujeito que só quer fazer o seu trabalho – pegar a tal maleta – e ir pra casa, mas o universo, ou melhor, David Leitch e o roteiro de Zak Olkewicz, têm outros planos para ele. E que planos!
O elenco, meu amigo, é um show à parte. Brad Pitt, com seu charme desajeitado e suas reflexões sobre o azar, entrega um Ladybug que é impossível não torcer por ele. Mas não é só dele o holofote. Joey King como Prince é uma revelação perturbadora, uma jovem que esconde uma mente astuta e manipuladora sob a fachada de inocência. E como esquecer a dupla dinâmica de Tangerine (Aaron Taylor-Johnson) e Lemon (Brian Tyree Henry)? A química entre eles é palpável, com Lemon insistindo em analisar tudo através dos personagens de Thomas the Tank Engine, enquanto Tangerine tenta manter a sanidade (e a violência) sob controle. É uma dança de personalidades que se chocam e se complementam, cada um com sua própria missão, suas próprias regras e, claro, seus próprios inimigos. Michael Shannon como White Death, o vilão supremo, e Hiroyuki Sanada como The Elder, adicionam camadas de gravidade e honra japonesa ao pandemônio. Até mesmo as participações relâmpago, como a de Bad Bunny e Logan Lerman, são pequenos aperitivos de pura diversão.
O que me encanta em Trem-Bala é como ele consegue ser absurdamente violento e hilário ao mesmo tempo. Leitch, que já nos deu “Atômica” e “Deadpool 2”, domina a arte de transformar cenas de luta em balés coreografados, onde cada golpe e cada piada se encaixam com precisão cirúrgica. Você vê as mãos de Ladybug tremendo antes de um confronto, não por medo, mas por um certo cansaço existencial com a violência que o persegue. É uma visão do combate que não é grandiosa, mas sim suja, rápida, e muitas vezes, extremamente engraçada, dada a inconveniência do espaço e as personalidades envolvidas. O trem em si não é apenas um cenário; ele é um personagem que confina, acelera e, de certa forma, impulsiona o conflito, um verdadeiro shinkansen da desgraça para esses hitmen.
Atributo | Detalhe |
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Diretor | David Leitch |
Roteirista | Zak Olkewicz |
Produtores | David Leitch, Kelly McCormick, Antoine Fuqua |
Elenco Principal | Brad Pitt, Joey King, Aaron Taylor-Johnson, Brian Tyree Henry, Andrew Koji, Hiroyuki Sanada, Michael Shannon, Sandra Bullock, Bad Bunny, Logan Lerman |
Gênero | Ação, Comédia, Thriller |
Ano de Lançamento | 2022 |
Produtoras | 87North Productions, Columbia Pictures |
Há quem diga que o filme é uma espécie de “Snatch” sobre trilhos, e não é difícil ver porquê, especialmente com Brad Pitt no meio da confusão. Essa inclinação de Pitt para personagens excêntricos e narrativas não lineares realmente brilha aqui. A história, baseada em um livro, é uma teia intrincada de eventos onde cada pequena decisão e cada pedaço de sorte (ou azar) têm consequências monumentais. Você pensa que um incidente aleatório está fora do contexto, mas boom, mais tarde, tudo se conecta de uma maneira deliciosamente satisfatória. Essa é a magia do roteiro de Olkewicz – a maneira como ele entrelaça essas histórias aparentemente desconexas em um clímax explosivo e catártico.
E os temas? Ah, os temas! A sorte e o destino são o coração pulsante do filme. Ladybug acredita piamente que ele é um ímã para o azar, mas será que ele realmente é? Ou será que a vida, com sua imprevisibilidade, é apenas isso: imprevisível? As perguntas retóricas que ele faz a Maria (a voz de Sandra Bullock do outro lado da linha, uma presença calmante e exasperada) são as mesmas que você talvez já tenha feito a si mesmo em um dia ruim. A viagem de trem, de Tóquio a Morioka, com o blur da paisagem japonesa passando rápido pelas janelas, é uma metáfora para a vida desses personagens: eles estão em movimento constante, mas sem controle real sobre o destino final.
Trem-Bala não se leva a sério, e é exatamente por isso que funciona tão bem. É uma celebração do absurdo, uma montanha-russa de ação e risadas que te agarra desde a primeira parada e não te solta até o último “duringcreditsstinger”. Se você procura um filme que seja uma injeção de adrenalina, com personagens que você vai amar (e odiar) e um senso de humor tão afiado quanto uma katana, então, meu caro leitor, é hora de embarcar novamente neste shinkansen da diversão. Em pleno fim de 2025, a lembrança desse filme ainda me arranca sorrisos. E isso, para mim, já diz muito.