Triple 9: Polícia em Poder da Máfia

Triple 9: Polícia em Poder da Máfia – Um Tiro pela Culpa, Uma Bomba no Roteiro

Nove anos se passaram desde que “Triple 9” chegou aos cinemas brasileiros em 30 de junho de 2016, e olhando para trás, percebo que o filme se tornou um desses casos curiosos da filmografia contemporânea: um longa com um elenco estelar, uma premissa promissora, e, no entanto, uma execução… digamos, irregular. Aquele tipo de filme que te deixa refletindo mais sobre o que poderia ter sido do que sobre o que de fato foi.

O filme acompanha um grupo de policiais corruptos, pressionados pela máfia russa Bratva, a realizar um assalto a banco quase impossível. Para garantir a distração das autoridades durante o roubo, eles planejam acionar o código 999 – o sinal de que um policial está em perigo, desencadeando uma resposta em massa da polícia. A sinopse, tão simples e direta, já deixa entrever a complexidade moral da trama, permeada por traições, violência e dilemas éticos.

A direção de John Hillcoat, conhecido por seu estilo visualmente impactante, imprime em “Triple 9” uma atmosfera sombria e tensa, apropriada para o clima de paranoia e desespero que cerca os personagens. A fotografia, repleta de tons escuros e ambientes claustrofóbicos, contribui para criar uma sensação de imersão perturbadora. No entanto, mesmo com a estética cuidada, a narrativa se mostra, em muitos momentos, confusa e desorganizada. O roteiro de Matt Cook, apesar de apresentar personagens interessantes e situações de alta voltagem, peca pela falta de coesão. Há momentos de brilhante suspense, intercalados com outros de ritmo arrastado e desenvolvimento narrativo falho, que acabam por diluir a tensão construída.

O elenco, esse sim, é um espetáculo à parte. Casey Affleck, Chiwetel Ejiofor, Anthony Mackie, Kate Winslet e Woody Harrelson entregam performances robustas, imbuídas de uma fragilidade que torna seus personagens, mesmo os mais corruptos, quase palpáveis. A performance de Winslet, em particular, é marcante, retratando a figura implacável da chefe da Bratva com uma frieza desconcertante. No entanto, mesmo com a potência individual de cada atuação, a química entre os atores não se mostra sempre tão consistente, o que fragiliza a unidade do conjunto.

“Triple 9” tenta equilibrar o crime cru com uma exploração da moralidade cinzenta dos seus personagens, um território muitas vezes explorado com maestria pelo próprio Tarantino, citado nas críticas que li. Ele arrisca e, em alguns instantes, acerta em cheio, apresentando momentos de violência visceral e reviravoltas inesperadas. Mas, a meu ver, o longa falha na construção de empatia real com seus protagonistas. A complexidade moral fica esquecida em meio a um enredo que, apesar de sua violência explícita, não consegue prender a atenção do espectador como deveria. As apostas em momentos de ação frenética, embora eficazes, são esporádicas e não sustentam uma narrativa que se revela, finalmente, superficial.

Em resumo, “Triple 9” é um filme com uma série de qualidades – um excelente elenco, uma direção visualmente impressionante, e momentos de suspense de tirar o fôlego. Mas, por outro lado, a trama fragmentada, o ritmo irregular e a falta de coesão narrativa comprometem a experiência como um todo. A obra possui uma ambição que não se concretiza plenamente, deixando a sensação de que seu potencial não foi totalmente explorado. Se você procura um thriller policial tenso e com atuações impecáveis, vale a pena assistir, mas com a ressalva de que possivelmente sairá do filme com um sentimento de frustração pela falta de uma entrega mais consistente. A recomendação é, portanto, cautelosa: assista somente se estiver preparado para um filme que brilha em alguns momentos, mas que decepciona em sua totalidade. O filme pode ser encontrado em diversas plataformas de streaming, permitindo uma avaliação pessoal.